De Paris a Pombal, de 1968 a 2025, a energia dos jovens tem sido motor de revoluções, transformações culturais e viragens políticas. Hoje, sob o lema ‘Iniciativas locais dos jovens para os ODS e além!‘, o Dia Internacional da Juventude (ontem, dia 12) recordou que a mudança começa muitas vezes num bairro, numa escola, numa praça. É um apelo a valorizar não só o que a juventude é capaz de sonhar, mas, sobretudo, o que é capaz de concretizar. Para compreender o presente, vale a pena percorrer a memória das suas grandes mobilizações — e perceber como a sua criatividade, coragem e rebeldia moldaram o mundo.França, 1968: o grito que ecoou além das barricadasMaio de 1968. Paris transforma-se num palco de libertação e contestação, onde ruas empedradas servem de trincheira e tela. Entre o fumo dos confrontos e o cheiro a tinta fresca nos cartazes, surgia uma geração disposta a derrubar fronteiras — físicas e mentais. Artistas e pensadores que hoje consideramos consagrados ainda eram jovens, quase anónimos: Catherine Deneuve filmava sob a batuta de Buñuel; Serge Gainsbourg começava a rasgar padrões na música; um jovem Bernard-Henri Lévy ainda sonhava o seu papel no pensamento francês; e figuras como Jane Birkin ou Romain Goupil surgiam como símbolos dessa nova irreverência.Não se tratava apenas de política ou de cultura. Era um fenómeno social que, a partir de universidades e praças, redefiniu o papel da juventude no espaço público. A luta pelo direito a sonhar e a intervir deixava de ser privilégio de poucos para se tornar direito e dever de todos.O mundo abre-se, o futuro entra em cenaO eco de Paris viajou rápido. As décadas seguintes mostraram que a juventude não era um episódio, mas sim uma força constante. Da queda do Muro de Berlim às lutas contra o apartheid, da explosão cultural do hip hop nas ruas de Nova Iorque às manifestações ambientais em plena década de 90, o protagonismo juvenil era sempre a centelha.No plano global, a ONU reconheceu oficialmente essa força ao criar o Programa de Ação Mundial para a Juventude (WPAY), em 1995, um quadro político para integrar os jovens como atores centrais no desenvolvimento sustentável. Hoje, quase 30 anos depois, o programa mantém-se como bússola para políticas que não apenas escutam, mas integram a juventude nas decisões.Portugal: das praças às comunidadesEm Portugal, o eco de 68 demorou, mas chegou. Primeiro timidamente contra o Estado Novo, através da música de intervenção e das associações estudantis com mais presença no pós-25 de Abril; depois com mais energia, nos movimentos cívicos e culturais das décadas seguintes. A juventude portuguesa afirmou-se na luta contra a precariedade, na dinamização cultural das cidades e, mais recentemente, na ação climática e nos movimentos pela igualdade.Os anos 2000 trouxeram também um novo cenário: a necessidade de localizar as grandes causas globais no espaço concreto das comunidades. Foi nesse contexto que nasceram centenas de coletivos locais, desde grupos de bairro que organizam atividades para crianças até plataformas digitais de denúncia e ação. 2025: Iniciativas locais para os ODS e alémEste ano, o Dia Internacional da Juventude (ontem, 12 de agosto) abraçou o tema ‘Iniciativas locais dos jovens para os ODS e além!’, sublinhando algo fundamental: os jovens não são apenas destinatários de políticas — são criadores de soluções. Com mais de 65% das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável diretamente ligadas à governação local, a sua participação deixa de ser simbólica para se tornar estratégica.A ligação entre as ideias globais e a realidade do bairro passa, inevitavelmente, pelas mãos e pela energia de quem está mais próximo do terreno. Desde projetos ambientais que transformam terrenos abandonados em hortas comunitárias, até iniciativas culturais que revitalizam centros históricos, os jovens estão a traduzir grandes metas em ações concretas.Do passado ao presente: a mesma energiaDo fervor de Paris em 1968 às ruas e praças portuguesas de 2025, há uma linha que nunca se quebra: a convicção de que a juventude não é apenas a promessa do futuro, mas a transformação do presente. Hoje, como ontem, o desafio é o mesmo — transformar indignação em ação, ideias em políticas, sonhos em resultados.O Instituto Português do Desporto e Juventude, em parceria com o Conselho Nacional de Juventude e a Federação Nacional das Associações Juvenis, marcou o Dia com um programa diversificado, de debates a concertos, de oficinas a exposições. O evento institucional teve lugar em Pombal, mas as celebrações espalharam-se por todo o país, refletindo a pluralidade e a força das iniciativas juvenis locais.Assim como em 1968 a juventude não pediu licença para mudar o rumo da história, também em 2025 não esperará por permissão para agir. A diferença é que, agora, o mundo reconhece que a sua energia é não apenas desejável, mas indispensável para alcançar um futuro justo, inclusivo e sustentável. O conteúdo Juventude, sempre: da Paris rebelde aos líderes locais de amanhã aparece primeiro em Revista Líder.