Seis técnicas que podem turbinar seus estudosVocê vai começar a estudar do zero para um concurso ou uma prova tipo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)? Ou quer aprender algo novo e não sabe direito por onde começar?São tarefas que parecem tão gigantescas e complicadas que talvez assustem — ou desanimem logo de cara. Mas existem técnicas para te ajudar nessa missão.A BBC News Brasil entrevistou a pesquisadora Barbara Oakley, especializada em aprendizado, e reuniu oito dicas práticas, testadas pela ciência, sobre como aprender algo do zero e se manter engajado.Siga o canal do g1 Enem no WhatsApp1. Criar metas pequenasA primeira dica é criar metas pequenas de aprendizado, para não ficar atordoado com o tanto que falta aprender de qualquer assunto. A ideia é dividir para conquistar. E não precisa começar com sessões de estudo muito longas."Pense apenas em quantas horas você quer investir no estudo a cada dia, em vez de em quanto falta para você aprender. Isso já tira aquele peso de 'nossa, tenho essa prova gigante e assustadora para fazer'", sugere Barbara Oakley, que é professora de engenharia na Universidade de Oakland, nos EUA, e conduz pesquisas sobre aprendizagem, cognição e práticas educacionais."O seu trabalho, a cada dia, vai ser só pensar naquele período de estudos", ela resume.2. Explicar 'para uma criança'Mas isso não muda o fato de que você provavelmente tem muito conteúdo para absorver.Existe uma técnica de estudo desenvolvida pelo Nobel de Física Richard Feynman que é útil para você ir preenchendo suas lacunas de conhecimento de basicamente qualquer assunto.Ela é composta de quatro passos.Primeiro, anote tudo o que você já sabe a respeito do tema escolhido, qualquer que seja ele — do jeito mais simples e didático que você conseguir. Depois, você explica tudo o que anotou, como se estivesse falando com uma criança imaginária ou com alguém que sabe pouco ou nada a respeito daquilo. De acordo com Oakley, o ideal é falar com uma pessoa real."Essa pessoa vai poder identificar erros no seu entendimento de um jeito que uma criança imaginária não conseguiria", explica a especialista, coautora do livro Aprendendo a Aprender para Crianças e Adolescentes - Como se Dar Bem na Escola."Mas, de qualquer modo, quando estamos explicando algo para alguém, estamos usando um sistema do cérebro chamado hipocampal."E esse sistema do hipocampo é importante na formação de memórias. Ou seja, explicar em voz alta, te ajuda a guardar bem aquele conhecimento.O terceiro passo na técnica de Feynman é identificar as lacunas do seu aprendizado naquele tema. Se você não tiver conseguido explicar com clareza ou não tiver conseguido responder perguntas básicas, já vai saber o que ainda falta estudar.É neste momento que você realmente começa a aprender. Procure fontes confiáveis na internet, livros, podcasts ou anotações da escola — e explore o que falta entender.E assim, na quarta e última etapa, você volta para sua anotação original: coloque os novos dados no papel, e tente explicá-los novamente de um jeito que uma criança possa entender — até você perceber que já domina o assunto.3. AnotarFazer anotações em um caderno pode ser mais eficiente do que digitarAFP via Getty Images (BBC)Aliás, fazer anotações é um jeito bom de consolidar conceitos difíceis e se concentrar.Principalmente se você anotar à mão. Uma meta-análise mensurou o desempenho de universitários que faziam anotações em papel, versus os que digitavam suas anotações. E os primeiros tiraram notas mais altas."Anotar é algo que me ajuda porque eu mesma me distraio com muita facilidade. Minha mente voa — mas quando eu faço anotações, presto mais atenção", diz Oakley."E isso também força a minha mente a sintetizar aspectos-chave do que eu estiver lendo ou ouvindo."4. Treinar focoO método Pomodoro de gestão do tempo pode nos ajudar a concentrarGetty Images via BBCE se você acha difícil focar nos estudos sem se distrair com notificações do WhatsApp e com vídeos no TikTok, lembre-se de que foco é algo que a gente tem que praticar.Barbara Oakley é defensora de uma antiga e conhecida técnica de foco e recompensa, chamada Pomodoro.Ela consiste em intercalar períodos de estudo com pequenos intervalos de descanso e recompensa pro cérebro. "Tire todas as distrações da sua frente e foque nos estudos durante 25 minutos. Se a sua mente começar a viajar, puxe-a de volta para os estudos. E quando os 25 minutos acabarem, você passa dois a cinco minutos fazendo nada — apenas tentando lembrar o que você aprendeu. Ou seja, vá fazer um chá ou uma pequena caminhada."Mas atenção: resista à vontade de usar o celular nesse momento. Ele vai atrapalhar o aprendizado."Se você pegar o celular nesse momento, vai passar por cima do que acabou de aprender", adverte a especialista."Isso porque o seu cérebro vai focar no celular, e vai perder a sinalização de que aquilo que você havia acabado de aprender era importante.""Ou seja, ao se concentrar por alguns minutos no que você aprendeu, e daí deixando sua mente sem estímulos, você está sinalizando para ela que aquele conteúdo é importante e precisa ser guardado", explica.5. Dar tempo ao cérebroO que nos leva a outro ponto importante: o cérebro precisa de descansos para consolidar as conexões de um determinado aprendizado e para torná-lo uma memória duradoura.Então leve isso em conta mesmo que você já esteja correndo contra o relógio e tenha poucos meses para estudar pro vestibular, por exemplo. A evidências da neurociência indicam que é preciso criar um cronograma de estudos que não sobrecarregue demais a cabeça — porque isso não vai dar resultado.Oakley diz que não existe um número de horas, digamos, ideal — e, sim, o que couber na sua rotina, mas sem passar de oito horas por dia."Nesse quesito, a melhor pesquisa que eu já li se refere à carga de estudos de estudantes de medicina. As pesquisas indicam que aqueles que estudavam mais de oito horas por dia não se saíam melhor do que os demais", ela observa.6. Dormir ajuda a aprenderEnquanto você dorme, acontece uma espécie de 'reaprendizado' no cérebroGetty Images via BBCNa mesma linha, dormir bem também é parte crucial do processo de aprender."Durante a noite de sono, o cérebro vai fazer espirais, centenas de vezes, com as conexões sinápticas do aprendizado e torná-las mais fortes. Ou seja, durante a noite acontece um reaprendizado, em que as conexões são amplificadas", afirma Oakley.Aliás, dá para usar isso a seu favor e aproveitar os minutos antes do sono para pensar em conceitos ou ideias-chave."Pouco antes de ir dormir, dois ou três minutos antes, tente lembrar de aprendizados em que você está tendo dificuldade ou que quer entender ou recordar", recomenda a especialista."Ao pensar neles, você está sinalizando para o seu cérebro para fortalecer essas conexões. E é possível que, pela manhã, você esteja mais perto de entender aquele conceito", explica.7. Usar IA para motivar e simplificarE qual o melhor jeito de usar a inteligência artificial (IA) para estudar?Atenção: não adianta pedir para o ChatGPT te entregar respostas mastigadas. Afinal, se ele fizer todo o trabalho, você não vai criar aquelas correntes cerebrais de aprendizado que mencionamos anteriormente.Mas, segundo Oakley, o ChatGPT e outros programas de IA podem ser úteis, por exemplo, para simplificar conceitos, por meio de metáforas."Quando você se deparar com algum tópico muito difícil, que não conseguir entender, peça ao ChatGPT uma metáfora que te ajude a entender aquilo. Digamos que você adore futebol. Talvez uma metáfora ligada ao futebol te ajude a entender um conceito", sugere a pesquisadora."Ou peça à inteligência artificial várias metáforas diferentes. As metáforas ajudam a trazer o conhecimento para algum território mais familiar e confortável. E isso nos dá uma sensação de alívio, uma pequena dose de dopamina."Outro jeito interessante de usar a IA é para se motivar e atiçar a sua curiosidade."Digamos que você esteja muito cansado e desanimado para estudar naquele dia. Pode pedir à inteligência artificial formas de se motivar com aquele conteúdo, de deixar você mais curioso.""O motivo é que a curiosidade, quando ela é satisfeita, ela produz conexões cerebrais mais sólidas", explica Oakley. 8. Recompensar o cérebroDeu para perceber que recompensar o cérebro é uma estratégia útil para facilitar o aprendizado. Principalmente nos momentos em que você estiver estudando algum conceito difícil."Bom, existem aqueles momentos difíceis em que você tem que encarar e simplesmente dar duro para aprender, durante bastante tempo", observa a especialista."Tendo isso em mente, tenha para esses períodos alguma recompensa que você ame. Por exemplo, um programa de TV que você goste muito — e que possa passar uma hora assistindo depois estudar muito. Isso vai te inspirar e te ajudar."Leia tambémJovem que começou faculdade de Direito aos 15 anos é aprovada em mestrado de Harvard: 'amadureci mais rápido'