Juntos é um exemplar completo de horror corporal. A trama acompanha o casal Tim (Dave Franco) e Millie (Alison Brie), que decide se mudar para o campo em busca de um recomeço. O mistério central é apresentado logo de início, com a investigação do desaparecimento de outro casal em uma floresta. A cena que encerra a introdução já sinaliza que o filme não é indicado para os mais sensíveis, ao mesmo tempo em que desperta a curiosidade do espectador. A combinação da tensão constante com as cenas mais aflitivas e os efeitos sonoros que te fazem sentir desconforto mesmo sem olhar para a tela me fizeram sair da sala de cinema enjoada. Ou talvez tenha sido só a pipoca com manteiga às 10h da manhã mesmo.Uma história de amorApesar de ser um filme de terror, Juntos não ignora os conflitos do casal protagonista. Tim e Millie têm discussões frequentes, trocam farpas constantes e claramente não estão na mesma sintonia há algum tempo. Além disso, o personagem de Tim carrega questões familiares que, embora sejam insinuadas no começo, acabam se perdendo ao longo da narrativa — o que dá a impressão de que esses elementos foram incluídos apenas para adicionar profundidade superficial ao personagem. Felizmente, a performance do casal compensa essas lacunas: Franco e Brie estão sólidos em cena, dispensando grandes reforços de roteiro graças à entrega e à química entre eles.Aliás, a forte conexão entre os dois — possivelmente fortalecida por serem um casal na vida real — é um dos grandes trunfos do filme. Há veracidade tanto nos momentos de intimidade quanto nos de atrito. Cada conflito parece plausível, ecoando os dilemas de muitos casais de longa data. É inevitável pensar que o verdadeiro terror do filme talvez seja justamente a realização do que para muitos é um sonho romântico, mas para outros, um pesadelo: ficar, literalmente, juntos para sempre.Menos sustos, mais mistérios e químicaOutro mérito do longa está na forma como a narrativa é estruturada. O roteiro utiliza uma seita misteriosa como fio condutor, servindo de cola para unir seus vários elementos. O ritmo é bem equilibrado, mantendo o público engajado mesmo nas cenas mais calmas. Há alguns jumpscares, mas o foco continua sendo o mistério, a estética grotesca e a dinâmica do casal. Em um dos momentos mais bizarros do filme, o horror corporal é interrompido por diálogos ironicamente cômicos, que soam propositalmente como piada. Esse contraste arrancou risadas da público no cinema, embora possa quebrar a tensão acumulada até então. A mistura de bizarrice física com humor lembra, em certa medida, o tom de A Substância, mas Juntos para um pouco antes de ultrapassar os limites atingidos pelo vencedor do Oscar.Final feliz fora da ficçãoSabendo que Dave Franco exigiu ao diretor Michael Shanks que sua esposa, Alison Brie, fosse sua parceira nessa ficção, é difícil não se perguntar o que passava em sua mente ao tomar essa decisão. Vendo o resultado final e também a cumplicidade e parceria dos dois na divulgação do filme, fica claro que a decisão foi certeira. Juntos é uma experiência incômoda, de embrulhar o estômago, mas com uma narrativa que mantém o espectador entretido e que acerta ao questionar os limites físicos e emocionais de um relacionamento em crise. A quebra cômica surpreende mas não desagrada totalmente, muito por se tratar de um filme que aposta no absurdo em diversos momentos, uma piada ou outra não invalida a tensão construída. No fim, se apoiar no “juntos para sempre” talvez não seja a aposta ideal para salvar um relacionamento. Mas e você, pretende assistir ou já assistiu Juntos? Comente nas redes sociais do Minha Série! Estamos no Threads, Instagram, TikTok e até mesmo no WhatsApp. Venha acompanhar filmes e séries com a gente!