Um dos prazeres de ler um jornal como o Financial Times está nos textos de colunistas de qualidade superior, isto é, textos que nos ajudam a pensar e a formar opinião. Não há ali pregadores a tentar doutrinar o povo. Sarah O’Connor é um desses colunistas. Há uns meses interpelou-nos: estaremos a construir uma sociedade pós-alfabetizada?De acordo com inquéritos internacionais, a resposta afirmativa é plausível. Uma percentagem significativa das pessoas tem dificuldade em ler textos mais longos e complexos. Como já aqui referi a propósito de um artigo de Rose Horowitch na Atlantic (The elite college students who can’t read books), mesmo as supostas elites têm perdido competências básicas. Olhemos em volta: quantas pessoas vê a ler um livro, um jornal ou uma revista? Citando o autor Neil Postman, O’Connor lembra-nos duas coisas importantes: (1) a inteligência humana é das coisas mais frágeis da natureza; (2) os governos autoritários já não têm que queimar livros para assegurar que as pessoas não os leem – há muitas maneiras de cultivar a estupidez.Contrariar esta tendência é fácil: é uma questão de ler – incluindo em papel (livros, jornais). Para começar e no âmbito deste tema, temos aí A Geração Ansiosa de Jonathan Haidt (Dom Quixote) e de A Fábrica de Cretinos Digitais, de Michel Desmurget (Contraponto). Não sei se ainda vamos a tempo, mas não custa tentar contrariar a onda. Talvez um dia o papel seja redescoberto, como foi o vinil. Aproveitemos o Verão: boas leituras! O conteúdo A nossa sociedade pós-alfabetizada aparece primeiro em Revista Líder.