Conheça os superpredadores que dominaram a Terra antes dos dinossauros

Wait 5 sec.

Durante o período Permiano, há cerca de 280 milhões de anos, a Terra vivia um superaquecimento global extremo em Pangeia, o único supercontinente do planeta. Parecida com uma gigantesca ilha da largura da soma dos continentes atuais, essa Terra unificada era banhada por um só oceano: o Panthalassa.A distância das águas tornava o clima no interior de Pangeia sufocante e árido, com temperaturas elevadíssimas e vastos desertos. Mesmo nas regiões costeiras, não havia flores, grama ou árvores frutíferas — apenas florestas primitivas de samambaias e coníferas sobreviviam nas poucas áreas úmidas. Leia mais Mais de um terço das espécies de árvore podem ser extintas, mostra análise Estudo sugere que Terra está dentro de um gigantesco “vazio” no Universo Orcas estão oferecendo comida de presente aos humanos; entenda por que Naquela época, 15 a 20 milhões de anos antes do surgimento dos primeiros dinossauros, um grupo se destacou: os sinapsídeos. Apesar de alguns terem escamas, eles eram totalmente diferentes dos anfíbios e de tudo o que existiu até então. Isso porque não dependiam de lagos ou rios para se reproduzir.Uma outra característica — essa assustadora — os distinguia: uma arcada dentária com dentes de sabre longos, afiados e ligeiramente recurvados, especializadas para perfurar e matar presas grandes ou protegidas por couraças.A biologia especializada, principalmente dos gorgonópsidos, aliada a uma sede insaciável por carne, fez desse grupo os maiores e mais eficientes superpredadores terrestres do planeta. Conheça abaixo alguns dos mais terríveis.Dimetrodon: o dragão implacável dos pântanos permianosO Dimetrodon provavelmente usava sua “vela” vertebral para atrair parceiras • Chrisi1964/Wikimedia CommonsParecido com um dragão-de-komodo, o Dimetrodon era três vezes maior que o seu “parente” atual e chegava a pesar 250 quilos. Ele se destacava por uma vela dorsal formada por espinhos neurais alongados das vértebras. Essa silhueta inconfundível aterrorizava os ecossistemas pantanosos da Pangeia.Descobertas no Texas mostraram que, para cada fóssil de um grande herbívoro (ou outra presa grande), os paleontólogos encontraram em média 8,5 fósseis de Dimetrodon. Isso significa que ele era o predador dominante daquele ecossistema, posição que ocupou por cerca de 10 milhões de anos.Os seus dentes serrilhados e curvos eram ideais para agarrar e rasgar desde pequenos répteis até gigantes sinapsídeos como o Cotylorhynchus. No entanto, suas mandíbulas estreitas não permitiam o aproveitamento de presas maiores, abrindo oportunidades para outros carnívoros.Dinocéfalos: Anteossauro e o brasileiro Pampaphoneus biccaiO Anteossauro era uma espécie de T-Rex do período Permiano • Bluedwarf/Wikimedia CommonsUma espécie de T. Rex do Permiano, o Anteossauro foi o maior predador daquele período geológico, e tinha a aparência de um mutante entre tigre e hipopótamo. Atingindo seis metros de comprimento, ele possuía mandíbulas musculosas, braços poderosos e dentes capazes de esmagar ossos.Acima dos olhos, cristas ósseas completavam seu visual assustador, lembrando orelhas felinas ampliadas. Apesar do tamanho colossal, ele tinha uma agilidade comparável à dos atuais guepardos. Análises tomográficas do ouvido interno revelaram adaptações únicas para equilíbrio e coordenação.Seu cérebro permitia uma impressionante estabilização do olhar, garantindo um foco constante nas presas durante a perseguição. Após reinar absoluto no topo da cadeia alimentar há 260-265 milhões de anos, esse precursor dos mamíferos desapareceu em uma extinção em massa.O Pampaphoneus biccai é o maior predador terrestre conhecido do período Permiano na América do Sul. • VoltaireArts/DevianArtUm dinocéfalo descoberto no Rio Grande do Sul em 2023, o Pampaphoneus biccai é um marco na paleontologia brasileira. Medindo quase três metros e pesando 400 quilos, este superpredador dominava o antigo Gondwana. Seu crânio quase completo revelou a presença de grandes carnívoros na América do Sul permiana.Em entrevista à CNN, o paleontólogo Max Cardoso Langer, PhD pela Universidade de Bristol e Livre-Docente pela Universidade de São Paulo (USP), afirmou que o P. biccai é o maior predador já encontrado nos depósitos das formações geológicas da Bacia do Paraná.Ocupando o topo da cadeia alimentar, esse siodontino de tamanho médio competia ferozmente por território e presas. Sua capacidade predatória excepcional permitia que ele caçasse grandes herbívoros terapsídeos como dicinodontes, parecidos com os atuais hipopótamos.Embora tenha um crânio relativamente robusto, o P. biccai não mostra o mesmo grau de espessamento de dinocéfalos herbívoros, como os tapinocéfalos. Para Langer, é improvável que o sinapsídeo brasileiro disputasse território ou fêmeas com cabeçadas, por ser um predador territorial e solitárioInostrancevia: o rei voraz dos gorgonopsianosO Inostrancevia media cinco metros de comprimento e pesava até 700 quilos • DiBgd/English WikipediaO Inostrancevia foi o maior gorgonopsiano, um terapsídeo carnívoro surgido no final do Permiano. Medindo cinco metros de comprimento e pesando cerca de 700 quilos, este gigante predador habitava a Rússia europeia e a África do Sul, representando o ápice evolutivo do clado gorgonopsiano.O crânio alongado e estreito do Inostrancevia abrigava caninos enormes tipo sabre, incisivos pequenos e dentes pós-caninos pontiagudos. Essa especialização extrema para matar só permitia que o predador cravasse os caninos na presa e movimentasse a cabeça para rasgar pedaços grandes, que engolia.Apesar dessa mordida vertical devastadora, o Inostrancevia era incapaz de mastigar. Sem dentes molares ou movimentos laterais mandibulares, ele precisava engolir pedaços grandes de carne. Se sua anatomia o tornava um predador imbatível, sua dieta restrita o fazia ecologicamente frágil.A mãe de todas as extinçõesA “Grande Morte” eliminou 90% das espécies marinhas e 70% das terrestres • FreepikSegundo Max Langer, “a extinção Permo-Triássica é uma extinção em massa, então ela é mais rápida do que uma extinção de fundo [gradual]”. Contudo, alerta o especialista em répteis mesozoicos, um evento rápido no tempo geológico significa dezenas de milhares de anos.O que mais provavelmente gerou essa extinção, explica o paleontólogo brasileiro, foi a erupção dos chamados Trapps Siberianos, depósitos vulcânicos basálticos que cobrem 5 milhões de km² da Sibéria. Essas erupções colossais duraram cerca de um milhão de anos, liberando gases tóxicos e cinzas.No evento mais catastrófico da história da vida na Terra, os Trapps Siberianos liberaram milhões de quilômetros cúbicos de lava, somando milhares de trilhões de toneladas de rocha. A chamada “Grande Morte” eliminou 90% das espécies marinhas e 70% das terrestres há 252 milhões de anos.Na tragédia, gorgonopsianos como o Inostrancevia, dinocéfalos e muitos outros grupos de terapsídeos desapareceram completamente. Apenas algumas espécies flexíveis em dietas e habitats, como os dicinodontes herbívoros, conseguiram sobreviver à maior crise biótica do nosso planeta.Dinossauro do tamanho de um cão é identificado a partir de fóssil raro