Andressa Leal, psicóloga CRP 07/32379: “Será que a vida é só querer, conseguir, sentir tédio e começar tudo de novo? Entenda o pêndulo de Schopenhauer”

Wait 5 sec.

Ciclo de desejo e tédio representa um dos fenômenos psicológicos mais universais da experiência humana, onde os indivíduos se encontram constantemente oscilando entre desejar algo intensamente e perder o interesse quando o obtêm. Andressa Leal, psicóloga com CRP 07/32379 e especialista em desenvolvimento emocional (@psiandressaleal), explora através de sua prática clínica como a filosofia de Arthur Schopenhauer pode iluminar padrões comportamentais que causam sofrimento psíquico e oferecer caminhos para uma vida mais equilibrada.A psicóloga integra conceitos filosóficos clássicos com abordagens terapêuticas contemporâneas, ajudando seus pacientes a compreender que a busca incessante por satisfação externa frequentemente mascara necessidades emocionais mais profundas. Através de seu trabalho clínico, Andressa observa como o “pêndulo de Schopenhauer” manifesta-se em diversos contextos: relacionamentos, carreira, consumismo e autoimagem, oferecendo insights valiosos sobre a natureza do sofrimento humano e possibilidades de transformação.Por que queremos tanto algo e depois perdemos o interesse?O fenômeno psicológico de perder interesse após conquistar algo desejado está enraizado na neurobiologia do sistema de recompensas cerebral. Quando antecipamos algo prazeroso, o neurotransmissor dopamina é liberado, criando sensação de excitação e motivação. Entretanto, uma vez obtido o objeto de desejo, os níveis de dopamina retornam ao baseline, frequentemente gerando uma sensação de vazio ou decepção em comparação com a expectativa criada.Arthur Schopenhauer descreveu este processo através da metáfora do pêndulo, onde a vida humana oscila perpetuamente entre a dor do desejo insatisfeito e o tédio da posse. Na psicologia clínica, este padrão manifesta-se em comportamentos como compras compulsivas, relacionamentos seriais, busca constante por validação externa, ou mudanças profissionais frequentes. O cérebro, programado para a sobrevivência, mantém-se sempre buscando novos objetivos, criando um ciclo aparentemente interminável de insatisfação que pode levar à ansiedade, depressão e sensação crônica de vazio existencial.Como o consumo emocional tenta preencher vazios internos?O consumo emocional representa uma tentativa de autorregulação afetiva através de estímulos externos, funcionando como estratégia de enfrentamento para lidar com sentimentos desconfortáveis como tristeza, ansiedade, solidão ou baixa autoestima. Quando compramos algo para nos sentir melhor, ativamos temporariamente o sistema de recompensas cerebral, criando uma sensação momentânea de alívio ou prazer que mascara, mas não resolve, as questões emocionais subjacentes.Este padrão torna-se problemático quando se estabelece como mecanismo primário de regulação emocional, impedindo o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento mais saudáveis. A terapia cognitivo-comportamental identifica este processo como evitação experiencial – a tendência de fugir ou evitar experiências internas desconfortáveis. O alívio proporcionado pela compra é efêmero porque não aborda a necessidade emocional fundamental: ser visto, compreendido, valorizado ou sentir-se seguro. Reconhecer estes padrões é o primeiro passo para desenvolver estratégias mais eficazes de autocuidado emocional.Qual a diferença entre desejar e fugir do sofrimento?Desejar é um processo natural e adaptativo que motiva ação e crescimento, enquanto fugir do sofrimento representa uma estratégia de evitação que frequentemente intensifica o desconforto a longo prazo. Desejos saudáveis surgem de valores pessoais autênticos e contribuem para o desenvolvimento e bem-estar, como desejar relacionamentos significativos, crescimento profissional ou experiências enriquecedoras. Estes desejos conectam-nos com nossos propósitos mais profundos.Por outro lado, quando utilizamos desejos para fugir de experiências emocionais difíceis, criamos dependência externa para regulação interna. A fuga constante do sofrimento impede o desenvolvimento de tolerância emocional e habilidades de enfrentamento necessárias para navegar as inevitáveis dificuldades da vida. A aceitação radical, conceito central em terapias de terceira geração como ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso), propõe que aprender a conviver com desconfortos emocionais, sem tentar eliminá-los imediatamente, desenvolve resiliência psicológica e reduz o sofrimento secundário causado pela resistência às experiências naturais da condição humana.Como viver com presença pode quebrar o ciclo de insatisfação?Emojis com diversas emoções – Créditos: (depositphotos.com / Fidaolga)A presença mindful representa uma mudança fundamental de foco: em vez de buscar satisfação em objetivos futuros ou fugir de desconfortos presentes, cultivamos capacidade de estar plenamente no momento atual, observando pensamentos e emoções sem julgamento. Esta prática, baseada em mindfulness e tradições contemplativas, desenvolve consciência metacognitiva – a habilidade de observar nossos próprios processos mentais com distanciamento saudável.Quando vivemos com presença, reconhecemos que pensamentos e emoções são experiências transitórias, não identidades fixas ou verdades absolutas. Isto nos liberta da necessidade compulsiva de alterar constantemente nosso estado interno através de gratificações externas. A prática regular de mindfulness fortalece a ínsula cerebral, região associada à interocepção (consciência das sensações corporais) e autorregulação emocional. Gradualmente, desenvolvemos capacidade de encontrar contentamento e estabilidade emocional independentemente de circunstâncias externas, reduzindo significativamente a intensidade do “pêndulo de Schopenhauer” e criando base sólida para bem-estar duradouro.Que estratégias terapêuticas ajudam a sair do pêndulo?Diversas abordagens terapêuticas oferecem ferramentas eficazes para interromper o ciclo de desejo-tédio-frustração. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) foca na identificação e modificação de pensamentos disfuncionais como “preciso ter X para ser feliz” ou “não posso tolerar este desconforto”. Através de reestruturação cognitiva e experimentos comportamentais, clientes aprendem a questionar crenças limitantes e desenvolver perspectivas mais balanceadas sobre desejos e necessidades.A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) ensina flexibilidade psicológica através de mindfulness, aceitação de experiências internas difíceis, e comprometimento com valores pessoais autênticos. A Terapia Focada nas Emoções ajuda clientes a identificar, processar e integrar emoções de forma saudável, reduzindo a necessidade de evitação através de gratificações externas. Práticas complementares como meditação, journaling reflexivo, e atividades baseadas em valores (não em objetivos externos) fortalecem capacidade de autorregulação emocional e cultivam satisfação intrínseca independente de posses ou conquistas externas.Fontes científicas sobre psicologia do desejo e regulação emocionalConselho Federal de Psicologia: Diretrizes sobre prática psicológica – https://site.cfp.org.br/Associação Brasileira de Psicoterapia Cognitiva: Recursos sobre TCC – https://www.abpmc.org.br/Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas: Pesquisas sobre regulação emocional – https://www.hc.fm.usp.br/Sociedade Brasileira de Mindfulness: Práticas baseadas em evidências – https://www.mindfulnessbrasil.com/American Psychological Association: Estudos sobre bem-estar psicológico – https://www.apa.org/O post Andressa Leal, psicóloga CRP 07/32379: “Será que a vida é só querer, conseguir, sentir tédio e começar tudo de novo? Entenda o pêndulo de Schopenhauer” apareceu primeiro em Terra Brasil Notícias.