Entenda o plano de fundo dos novos ataques de Israel na Síria

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A aparente estabilidade na Síria, após a queda de Bashar al-Assad e a ascensão de um governo comandado pelo ex-jihadista Ahmed al-Sharaa, acabou. Com consequência da nova onda de violência no país, Israel lançou o que, até agora, foram os ataques mais fortes contra o território sírio.O que está acontecendo na Síria?A Síria enfrenta uma nova onda de violência, com conflitos étnicos que mataram mais de 200 pessoas desde o último dia 11 de julho.Os novos confrontos envolvem a minoria drusa, que vive em partes da Síria, e tribos beduínas.Na tentativa de conter a escalada, o novo governo da Síria, liderado por Ahmed al-Sharaa, enviou tropas para a região de Sweida, onde os combates se concentraram. Os militares, contudo, se uniram aos beduínos na batalha contra os drusos — etnia que mantém relações histórias com Israel.Por conta do que chamou de perseguição contra os drusos na Síria, Israel lançou ataques contra o país.Dois acordos de cessar-fogo foram anunciados pelo governo da Síria. O que não impediu Israel de continuar os ataques contra o país.Os bombardeios israelenses de quarta-feira (16/7) atingiram o complexo do Estado-Maior do Exército Sírio, além do Palácio Presidencial do país, ambos localizados na capital Damasco.Antes do ataque contra a capital, o governo de Benjamin Netanyahu já havia iniciado uma ofensiva contra a Síria em 14 de julho. A justificativa foi a de proteger a minoria drusa no território sírio, atores centrais da recente onda de violência que atingiu a Síria.A última atualização do Observatório Sírio de Direitos Humanos aponta que 319 morreram desde a recente escalada na Síria.Veja o momento em que o exército sírio é atacado: Leia também Mundo Estado Islâmico aproveita crise na Síria e mata cinco no país Mundo Governo da Síria anuncia novo cessar-fogo após ataques de Israel Mundo Apresentadora de TV se assusta com bombardeio na Síria. Vídeo Mundo Ataque aéreo israelense atinge sede do exército da Síria. Vídeo Drusos x BeduínosAs divergências entre os grupos étnicos e religiosos que vivem na Síria voltou a explodir no último fim de semana, com conflitos entre milícias drusas e tribos beduínas na província de Sweida. A região, localizada no sul do país, abriga a maior comunidade de drusos do país, que se mantém relutante em reconhece o atual governo sírio e a desarmarem milícias.O estopim aconteceu após beduínos árabes sunitas, a mesma orientação religioso do grupo que comanda a Síria atualmente, atacar a roubar o carro de um druso. A ação desencadeou retaliações de milícias drusas, e uma onda de sequestrados passou a tomar conta de Sweida.Em pouco menos de dois dias, o número de mortos já ultrapassava a casa das centenas, o que motivou uma resposta do governo interino da Síria. No dia 14 de julho, o Ministério da Defesa da Síria anunciou o envio de tropas para a província, com o objetivo de conter a violência na região. Elas, no entanto, se juntaram a grupos pró-governo nos combates contra os drusos.Com o aumento da violência, e da repressão contra a comunidade drusa, a operação israelense na Síria teve início. Tudo, segundo analistas ouvidos pelo Metrópoles, com base em um pacto de defesa da etnia que mantém um histórico de boas relações com Israel.“Depois do massacre contra na Síria, os drusos em Israel pararam o norte do país com manifestações exigindo uma intervenção do governo”, explica João Koatz, historiador em Israel e apresentador do podcast Do Lado Esquerdo do Muro. “Alguns drusos que vivem nas Colinas de Golã [no território sírio ocupado] cruzaram a fronteira para ajudar seus pares nos combates, enquanto outros fugiram para Israel para escapar da violência. Por isso, o governo de Israel se viu na incumbência de agir”.4 imagensFechar modal.1 de 4Combatente na SíriaRami Alsayed/NurPhoto via Getty Images2 de 4Combatentes na SíriaStringer/Getty Images3 de 4Homem ferido na SíriaIzettin Kasim/Anadolu via Getty Images4 de 4Onda de violência na SíriaStringer/Getty ImagesSituação política de NetanyahuEnquanto a Síria era bombardeada, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, enfrentava seus próprios problemas domésticos. No mesmo dia em que os maiores ataques contra a capital síria foram registrados, o premiê perdeu a maioria no Knesset, o Parlamento do país.A reviravolta aconteceu após o partido Shas deixar a coalizão política que colocou, e mantém, o atual premiê de Israel no poder. A decisão foi motivada por divergências sobre o recrutamento militar de judeus ultraortodoxos, assim como já havia acontecido com a sigla Judaísmo Unido da Torá, que também deixou o grupo nesta semana. Atualmente, a ala governista de Netanyahu mantém 50 dos 120 assentos do Parlamento local, o que ameaça o seu governo.Além do problema no Knesset, o premiê israelense também voltou a ficar cara a cara com a Justiça, que reiniciou seu depoimento no julgamento onde é acusado de corrupção. O caso, contudo, foi adiado por conta dos ataques contra a Síria. O mesmo já aconteceu em outros momentos, onde conflitos envolvendo Israel interromperam os trabalhos.“Tudo tem a ver, de maneira direta ou indireta, com o julgamento do Netanyahu. A sede dele por ficar no poder, e a recusa de convocar eleições, tem a ver com isso. Mas são causas indiretas. Netanyahu está ajudando a população drusa por conta de um acordo que ele fez com os drusos israelenses. Por isso ele fez esses ataques na Síria, o que também tem a ver com essa tentativa de manter, de alguma maneira, sua popularidade diante da população drusa”, explica Koatz.