O setor madeireiro brasileiro enfrenta “o início de um colapso” por conta da tensão comercial entre os Estados Unidos e o Brasil, segundo a Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente).Além do cancelamento de contratos, os madeireiros listam entre suas inseguranças a situação de seus empregados, relatando que empresas “já estão sendo obrigadas a optar por férias coletivas forçadas, na tentativa de ganhar tempo e preservar empregos, enquanto outras estão planejando desligamentos”.Segunda maior empresa do setor no país e terceira na América Latina, a Millpar afirma, em nota, que alguns setores da unidade de Guarapuava (PR) entraram em férias coletivas em 14 de julho – cinco dias após o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciar a tarifa de 50% contra o Brasil -, por um período de 15 dias. Leia Mais Na mira de Trump, madeira representa 40% das exportações do Paraná aos EUA Após tarifas, frigoríficos do MS interrompem produção destinada aos EUA Tarifas de Trump impactarão mais PIB dos EUA do que China e Brasil, diz CNI A empresa afirma que a decisão abrange setores específicos e foi tomada com base em análises criteriosas, visando ajustar a produção à dinâmica temporária do mercado internacional.“Estamos tomando decisões com base em dados concretos, visão de longo prazo e foco na sustentabilidade do negócio. A empresa já enfrentou grandes desafios antes e é justamente nesses momentos que reforçamos nossa capacidade de adaptação e resiliência”, destaca o CEO da Millpar, Ettore Giacomet Basile.“Nossa gestão está acompanhando de perto essa movimentação global. Todas as decisões são orientadas por estudos e avaliações do mercado, sempre com prudência e respeito às pessoas que constroem a história da Millpar”, pontua Giacomet.Segundo a Abimci, o setor emprega aproximadamente 180 mil pessoas. Sobre a operação, afirma que a operação é 90% concentrada na região Sul do país e que “alguns segmentos madeireiros dependem exclusivamente dos EUA, com 100% de suas vendas atreladas a esse mercado”.Em 2024, os madeireiros exportaram cerca de US$ 1,6 bilhão em produtos aos EUA, o que, segundo a Abimci, “representa uma dependência do mercado norte-americano de uma média de 50% da produção nacional”.Dados antecipados pela Fiep (Federação das Indústrias do Paraná) à CNN apontam que as exportações de madeira representam quase 40% das vendas paranaenses aos Estados Unidos.“Por isso, desde o anúncio da possível taxação pelos Estados Unidos, instalou-se a insegurança no mercado […]. A produção está sendo reduzida em praticamente todo o setor e, em vários casos, com paralisação total. Nesse momento, nosso grande desafio é lutar pela manutenção dos empregos e continuidade das atividades industriais”, diz a nota da Abimci.Presente nas interlocuções entre o setor privado e o governo federal, a entidade também defendeu que as negociações com os norte-americanos “sejam pautadas pela diplomacia e análise técnica”, além de reforçar o pedido pelo adiamento da aplicação da tarifa de 50%, prevista para o dia 1º de agosto.“Nesse contexto, a Abimci faz um apelo urgente ao governo brasileiro: não podemos esperar. A cada dia, mais empregos estão em risco, mais empresas podem fechar suas portas. O setor precisa de uma resposta imediata e eficaz. A indústria brasileira de madeira não pode ser sacrificada”, pontua.Análise: Empresários alarmados pela escalada da crise | Fechamento de MercadoInvestigação comercialAlém da ameaça tarifária, os EUA deflagraram uma investigação comercial contra o Brasil, na qual citam, entre suas preocupações, a madeira brasileira.O USTR (Representante Comercial dos Estados Unidos) avalia que o país parece não estar conseguindo aplicar efetivamente as leis e regulamentações destinadas a impedir o desmatamento ilegal, o que prejudicaria a competitividade dos produtores norte-americanos de madeira e produtos agrícolas.Contudo, toda a produção exportada para os norte-americanos provinda do Sul do país, que representa mais de 95% da produção nacional de madeira processada, provém de florestas plantadas, afirmou à CNN Paulo Roberto Pupo, superintendente da Abimci.“Todo o cumprimento regimental do código florestal, nós cumprimos 100%. Em torno de 70% de nossa floresta plantada tem algum tipo de certificação. Então, nós não trabalhamos com madeiras ilegais”, explica Pupo.“Essa imagem antiga da [madeira ilegal] da Amazônia já tem décadas que ficou para trás, o grande polo produtivo nacional é aqui no Sul. Nós cumprimos todos os regramentos para atender o mercado americano, sobretudo na construção civil”, enfatiza.Petróleo, café e aeronaves: veja itens mais exportados pelo Brasil aos EUA