Na cúpula do universo criminal brasileiro, figuram como protagonistas o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção carioca e paulista, respectivamente. Apesar de a rivalidade entre os grupos estar declarada há mais de uma década, diligências das forças de segurança têm revelado movimentações de aliança.Na guerra sangrenta pela soberania dentro das penitenciárias, na briga pelo tráfico e nas disputas territoriais, os líderes dos grupos têm visto vantagens na união de forças para impulsionar o lucro irregular. Leia também Mirelle Pinheiro Turnê de Poze do Rodo é cancelada no Brasil e na Europa; entenda Mirelle Pinheiro Quem é a blogueira com 1 mi de seguidores que maltratou filho Mirelle Pinheiro Golpe de R$ 164 mi: blogueira e marido são presos por fraude bancária Mirelle Pinheiro Influencer golpista com 1 mi de seguidores deixa filho sujo de fezes À coluna, o especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna analisou que as articulações são baseadas na busca por vantagens na chamada economia do crime.“As facções têm todo um processo de divisão do que realizam para adquirir ganhos e fomentar a economia do crime. Com base nisso, ou elas dividem territórios ou atuam sob consenso. Isso inclui internet, distribuição de gás, água e cargas”, explicou.Apesar de as maiores facções criminosas estarem localizadas em território fluminense, essa não é uma realidade apenas do estado. Segundo o especialista, os consórcios ocorrem eventualmente em São Paulo e com mais frequência na Bahia.Operação Bella CiaoNo dia 3 deste mês, uma operação revelou que investigações das forças do Rio confirmaram os rumores de articulações entre os grupos criminosos.A Operação Bella Ciao foi deflagrada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCERJ) para desarticular um consórcio criminoso responsável pelo tráfico interestadual de drogas e armas que abasteciam o Complexo do Alemão, na Zona Norte da capital fluminense.A quadrilha, com ramificações no Comando Vermelho (CV) e no Primeiro Comando da Capital (PCC), movimentou milhões de reais.Coordenada pela Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD), a operação resultou na prisão de dois alvos: um em Taubaté, no interior de São Paulo, e outro no Rio de Janeiro.Ambos foram apontados como tendo papéis importantes na engrenagem criminosa, que era voltada à lavagem de dinheiro, aquisição de armamentos e distribuição de entorpecentes entre os estados.Pacto históricoAs investigações que levaram as forças de segurança a deflagrar operações para desarticular os consórcios dos crimes não são os primeiros indícios de fusão entre as facções criminosas.Em fevereiro deste ano, a coluna noticiou, com exclusividade, a articulação para uma trégua histórica entre o PCC e o CV.Conforme apurado pela reportagem à época, as duas maiores facções criminosas do Brasil uniam forças para pressionar o governo a flexibilizar as regras do Sistema Penitenciário Federal (SPF), onde seus principais líderes estão encarcerados sob rígidas restrições.O acordo vinha sendo costurado desde o ano passado. A expectativa era de que ele pudesse impactar não apenas o cenário dentro dos presídios, mas também nas ruas, o que poderia reduzir os confrontos entre os grupos rivais.Pouco tempo depois, no entanto, comunicados “formais” dos grupos denunciaram embates e anunciaram o fim da tentativa de união. Apenas dois meses depois dos indícios de trégua, os criminosos declararam que a guerra sangrenta continuaria.Em abril, passaram a circular “salves” — expressão usada para descrever um tipo de “comunicado oficial” expedido pelas facções — decretando o fim da trégua. À época, a coluna conversou com fontes ligadas ao Ministério Público de São Paulo (MPSP), que confirmou a veracidade dos comunicados.Em uma “circular informativa” com assunto “Ruptura de Aliança com o PCC e Reforço de Diretrizes Internas”, o Comando Vermelho informou que, a partir daquele dia, 28 de abril, não manteria mais qualquer aliança ou compromisso com o PCC.Por outro lado, o PCC também bateu o martelo e escreveu que o PCC bateu o martelo e escreveu que havia chegado ao fim a aliança e “qualquer compromisso com o Comando Vermelho”.ProfessorApesar das declarações, as alianças parecem ter continuado. Ainda que nos bastidores, as singelas uniões para impulsionar o tráfico têm contribuído para a movimentação de milhões de reais.Também na operação Bella Ciao, a polícia descobriu que a estrutura criminosa surgida da fusão entre as duas maiores facções brasileiras movimentou mais de R$ 250 milhões em atividades ilícitas nos últimos anos.Durante a operação, duas pessoas foram presas. Uma delas, capturada em Taubaté (SP), é apontada como elo entre o “Professor”, o Fhillip da Silva Gregório e fornecedores de armas do Mato Grosso do Sul.O traficante, apontado como um dos líderes do CV, foi morto em junho, o que revela a possibilidade dos grupos terem continuado a atuar juntos mesmo após o anúncio do fim da trégua.Entretanto, a morte do professor do CV não deve significar o fim das articulações. Nos bastidores dos crimes, a estrutura organizada conta com nomeações e “substitutos” que assumem cargos de liderança à medida que o cenário muda.O especialista em segurança pública alertou que a união das facções demonstra a força do crime em comparação ao Estado, o que causa preocupação.“A segurança pública tem sido ameaçada principalmente porque não se encontra uma solução menos burocrática para investimentos. Falta celeridade para que o Estado consiga alcançar a velocidade das facções criminosas; elas não têm burocracia, não têm que pedir permissão e fazer licitação para compra de armamento, não têm que pedir autorização para entrada e saída do que elas comercializam dentro dos territórios”, criticou.