O governo dos Estados Unidos começou a suavizar a retórica em relação ao Brasil após ameaçar impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. A avaliação é de Matheus Spiess, estrategista da Empiricus Research, que vê espaço crescente para uma solução negociada.“Eles perceberam que não havia como sustentar essa medida com base em política interna e agora buscam institucionalizar a tarifa”, afirmou o profissional durante a sua participação no Giro do Mercado desta quarta-feira (16).Segundo o analista, a administração americana busca agora dar “materialidade” à ameaça feita inicialmente em uma carta assinada por Donald Trump — documento que citava argumentos políticos e ambientais frágeis, sem base técnica clara.VEJA MAIS: Receba semanalmente as principais recomendações do BTG Pactual de forma gratuita, como cortesia do Money Times“É um absurdo impor 50% de tarifa contra um país com o qual os Estados Unidos têm superávit há 15 anos”, ressaltou Spiess.Para o estrategista da Empiricus, o tom da carta foi tão desconectado de fundamentos comerciais que inviabilizava qualquer negociação real do governo brasileiro.“Você não pode chegar para um país e dizer que só tira a tarifa se o ex-presidente voltar ao poder. Isso não tem base jurídica nem institucional. Pelo contrário: provoca ainda mais instabilidade”.A mudança de postura teria começado nos bastidores da Casa Branca, que agora busca dar uma camada técnica à medida, com a abertura de uma investigação contra práticas do governo brasileiro.O processo inclui temas como serviços de pagamento eletrônico, no caso do Pix, comércio digital, combate ao desmatamento, propriedade intelectual e atuação de redes sociais, pontos que os EUA alegam ser prejudiciais às empresas americanas.“Estão improvisando uma justificativa técnica às pressas, mas é justamente isso que pode permitir que a tarifa seja discutida de forma institucional”, explicou Spiess.VEJA TAMBÉM: Quanto seu dinheiro pode render com previdência privada? Faça sua simulação GRATUITA com o Money TimesOutro ponto destacado pelo estrategista é a postura do governo brasileiro, que tem evitado escalar o conflito com medidas retaliatórias. Em sua análise, o Brasil tem sinalizado que quer negociar e a proposta de adiar a aplicação das tarifas e buscar um canal diplomático é um gesto importante.O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, tem sido o principal articulador das tratativas.Apesar disso, há dificuldade em estabelecer interlocução direta com a Casa Branca.“A situação nos EUA está desorganizada. Países como Europa e Japão também reclamam que não sabem com quem negociar. É difícil encontrar o responsável pelas decisões comerciais”, afirmou.Efeitos políticos: respiro de curto prazoNo campo político, o conflito com os EUA chegou a impulsionar a popularidade do presidente Lula, com base no discurso de soberania e enfrentamento a interesses estrangeiros. Mas, segundo Spiess, o impacto tende a ser passageiro e alta na popularidade é limitada.“É difícil recuperar quem te rejeita de forma consistente. Esses movimentos de curto prazo ajudam na margem, mas não sustentam aprovação por muito tempo”, diz.O estrategista aponta que, se a crise comercial se arrastar e começar a impactar preços e atividade econômica, o cenário pode se inverter com a inflação subindo, o desemprego em alta e desaquecimento da economia, o que corrói a base de apoio ao governo.