Franqueados da Cresci e Perdi são obrigados a fornecerem as senhas das redes sociais à administração da rede. Em áudio obtido pelo Metrópoles, o fundador da empresa Saulo Alves cobra o envio e ameaça dizendo que quem fornecer as informações vai perder os perfis. Leia também Dinheiro e Negócios Vídeo: “Dá vontade de dar na cara”, diz CEO da Cresci e Perdi sobre franqueados Leia também Dinheiro e Negócios Vídeo: “Dá vontade de dar na cara”, diz CEO da Cresci e Perdi sobre franqueados “Tem semanas que a gente está pedindo pelo amor de Deus, implorando, se ajoelhando, para que alguns franqueados mandem a porr* da senha do Instagram e do Facebook”, diz no começo do áudio enviado em um grupo de WhatsApp que reúne franqueados.Em seguida, ele estabelece um prazo, diz que os perfis que não aderirem “vão cair” e classifica como “frescura” as preocupações dos franqueados. “Vai ver minhas coisas? Sim. Precisamos [ver]. As suas e de várias pessoas, de várias unidades. Porque também é a forma que a gente tem para coibir excessos”, diz.Ouça:Saulo é primo de Elaine Alves que afirmou, em vídeo, ter vontade de “dar na cara dos franqueados”, como mostrou o Metrópoles. Os dois fundaram e comandam juntos a rede especializada em roupas infantis usadas que conta com 566 franquias em operação e outras 94 em fase de implementação.O grupo se auto-intitula “a maior franquia de moda circular do mundo”. Em janeiro de 2024, a Enjoei, empresa de comércio de produtos usados, adquiriu 25% da Cresci e Perdi por R$ 30 milhões.Gritos e xingamentos de um lado, prejuízos do outroO Metrópoles mostrou que Elaine usava, justamente, as redes sociais para se comunicar com os franqueados. A rotina, no entanto, era de xingamentos, palavrões, exposição de nomes e até do faturamento das lojas.Assista:“Ou era lá, em meio aos xingamentos, ou em nenhum outro lugar. E ela retirava quem discordava e questionava ela. Mesmo sendo franqueado, ficavam sem as informações detalhadas”, conta um ex-franqueado.Ele tentou, como Elaine sugeriu no vídeo, “repassar no concierge”. “Eu não tinha mais saída, estava cheio de dívidas e pedi o repasse. Indiquei uma pessoa que estava interessada em comprar, negaram.”A multa prevista no contrato para o rompimento unilateral era de R$ 500 mil. “No final, aceitei entregar tudo. A loja com tudo que tinha dentro. Saí só com os meus prejuízos e tive que assinar um termo me comprometendo a não procurar a Justiça”, conta.“Ao vivo é pior”“Ao vivo é pior”, contou outra ex-franqueada ouvida pela reportagem. Ela disse que tentou, diversas vezes, deixar a franquia após ser surpreendida por taxas e valores que não estavam previstos. “Meu contrato estava acabando e, para renovar, eu teria que pagar a taxa de franquia de novo, de R$ 160 mil”, explica.“Eu pagava R$ 12 mil por mês só de royalties e, com o novo contrato, subiria para R$ 21 mil. Não tinha critério ou explicação, nada”, relata. Após questionar os termos, ela afirma que passou a ser alvo de críticas na rede social da CEO.Além disso, passou a receber visitas constantes de representantes da franquia. “Diziam que era uma vistoria. Filmavam e reviravam tudo. Era uma forma de ameaçar, deixar todo mundo com medo. E funciona”, pontua.A ex-franqueada contou que só conseguiu deixar a rede após inferência da Justiça, em processo que continua tramitando. Com medo das ameaças, deixou a cidade em que morava.“Eu fui muito humilhada. Ela dizia que eu não era nada, que eu perderia tudo que conquistei e voltaria a ser um nada, porque era isso que eu era”, lembra.“Minha vida é chorar”Outro ex-franqueado relatou que só conseguiu deixar a franquia após apresentar um laudo psiquiátrico apontando os impactos do trauma de ter perdido tudo que havia conquistado durante toda a vida. “Trabalho desde os 8 anos de idade. Tinha um apartamento, um carro, um casamento. Perdi tudo em menos de um ano”, conta.“Perdi R$ 400 mil, não tenho dinheiro para comprar comida, nem como pagar as dívidas. Um dia, posso até recuperar esse dinheiro. Mas eu perdi muito mais que isso. Não consigo dormir. Minha vida é chorar”, lamenta.Ele conta que já nos primeiros meses viu que a realidade era bem diferente do que era vendido. “Falavam em R$ 50 mil de lucro por mês, eu nunca tive lucro nenhum”, destaca. “Eu ligava desesperado pedindo que me ajudassem pelo amor de Deus. A única orientação foi gravar mais vídeos para as redes sociais.”“Repassaram a loja para outras pessoas. Contaram as mesmas mentiras que haviam contado para mim. Quantas famílias eles vão destruir?”, questiona.Procurada, a Cresci e Perdi não se manifestou. O espaço permanece aberto para eventuais posicionamentos.