A proposta do Governo de permitir a “compra” de dias adicionais de férias — ou seja, trocar parte do salário por mais tempo de descanso, desde que exista acordo entre trabalhador e empregador – tem gerado debate, entre posições mais favoráveis e outras que levantam dúvidas quanto à bondade da medida.Inserida num pacote de modernização das relações laborais, a possibilidade de o trabalhador adquirir dias extra de férias, além dos 22 dias mínimos previstos na lei, via redução salarial (proporcional ao número de dias adquiridos), visa promover maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Com a crescente valorização do bem-estar, permitir que cada pessoa adapte o seu calendário de trabalho às suas necessidades, pode ser um passo importante para modelos laborais mais humanos.A medida assenta na liberdade de escolha e autonomia individual. Nenhum trabalhador seria obrigado a aderir, e a negociação direta com a entidade empregadora permitiria ajustar preferências pessoais à realidade laboral. Tal flexibilidade pode aumentar a satisfação, motivação e produtividade.Para as empresas, a proposta oferece maior previsibilidade na gestão de equipas. Com acordos planeados, é possível redistribuir tarefas e garantir continuidade operacional.Num mercado de trabalho em transformação — com teletrabalho, horários flexíveis, modelos híbridos —, permitir a troca de salário por tempo livre é um sinal de maturidade nas relações laborais. Empresas que adotem esta abordagem demonstram sensibilidade às diferentes fases da vida dos seus colaboradores. Em vez de precarizar, amplia o espaço para relações de trabalho menos paternalistas. Em vez de rigidez, há o reconhecimento da autonomia individual e de uma sociedade orientada para o bem-estarÉ ainda essencial considerar o impacto financeiro sobre as empresas, especialmente as de menor dimensão. O carácter voluntário e negociável da medida é, por isso, fundamental. A proposta permite um equilíbrio: o trabalhador investe no seu descanso, e a empresa ajusta-se à sua realidade orçamental.Contudo, há críticas. Nem todos os trabalhadores têm margem financeira para abdicar de parte do salário. A medida, ainda que voluntária, introduz um princípio perigoso: o de mercantilização dos direitos. E, mais, reforça desigualdades, criando um mercado de descanso onde só alguns podem entrar. Para trabalhadores precários ou famílias monoparentais, “comprar” tempo é uma utopia, e a proposta pode mascarar a erosão de direitos essenciais, transformando as férias — um direito — num privilégio condicionado ao poder de compra individual.Em suma, a proposta está em consulta pública e tem gerado reações distintas entre os parceiros sociais. Enquanto uns a veem como um avanço, outros exigem garantias de que os direitos dos trabalhadores não serão postos em causa.O conteúdo ‘Comprar férias’: uma oportunidade de modernização das relações laborais? aparece primeiro em Revista Líder.