O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, deixou a porta aberta para um corte de juros na próxima reunião da instituição, em setembro, provocando euforia em Wall Street, forte queda do dólar no mundo e no Brasil e alta de mais de 2% na Bolsa de São Paulo. No aguardado pronunciamento anual no tradicional simpósio de Jackson Hole, Powell afirmou que o cenário atual da economia americana, com a política monetária em território restritivo, e “a mudança no balanço de riscos podem justificar um ajuste”.Leia tambémDiscurso de Powell em Jackson Hole incendeia mercados dos EUA com tom mais brandoEm seu último discurso como chair do Fed no simpósio econômico de Jackson Hole, Powell sugeriu um corte na taxa de juros em setembro, mas não chegou a se comprometerEle voltou a alertar sobre os efeitos do tarifaço de Donald Trump na inflação, mas deu ênfase maior ao desemprego. Segundo analistas, o maior desafio do Fed é evitar uma estagflação (estagnação econômica com inflação elevada).Sobre o mercado de trabalho, Powell disse que, embora “pareça estar em equilíbrio, trata-se de um tipo curioso de equilíbrio que resulta de uma desaceleração acentuada tanto na oferta quanto na demanda por trabalhadores.“Essa situação incomum sugere que os riscos de queda no emprego estão aumentando. Se esses riscos se materializarem, poderão se materializar rapidamente na forma de demissões em massa e aumento do desemprego”, afirmou o presidente do BC americano.Sobre a inflação, Powell recomendou precaução nas análises de que as tarifas levarão a uma inflação persistente. Ele disse que pressões sobre os preços ao consumidor nos EUA “já são visíveis”, mas, por enquanto, ele avalia que seus efeitos tendem a ser relativamente efêmeros. Mas alertou:“Também é possível que a pressão ascendente sobre os preços devido às tarifas possa estimular uma dinâmica inflacionária mais duradoura, e esse é um risco a ser avaliado e administrado”.Leia tambémBolsas de NY sobem forte e Dow toca recorde após Powell reforçar aposta em alívioO índice Dow Jones subiu 1,89%, aos 45.631,74 pontosA meta de inflação perseguida pelo Fed é de 2%, mas a taxa está em 2,6% no acumulado em 12 meses. O desemprego voltou a subir em junho, para 4,2% (o índice de julho sairá na semana que vem), e a taxa básica de juros está entre 4,25% e 4,5%, a maior em mais de duas décadas.O discurso de Powell era aguardado com enorme expectativa pelos mercados, que desde o fim do mês passado começaram a precificar — com quase certeza — um corte nos juros de 0,25 ponto percentual na reunião em 17 de setembro, no que que seria a primeira redução desde dezembro de 2024.Mas dúvidas começaram a surgir quando dois diretores do Fed alertaram que um corte agora não era certo depois da divulgação da inflação no atacado em julho, que foi a maior em três anos, refletindo o tarifaço. Isso aumentou temores entre alguns analistas de que uma estagflação (estagnação econômica com inflação elevada) pudesse limitar a margem do Fed para agir.Após discorrer sobre os riscos de o país ter inflação elevada com desemprego alto, Powell resumiu o desafio do Fed diante de sua missão constitucional de garantir a estabilidade dos preços e promover o pleno emprego.“Quando nossos objetivos estão em uma tensão como essa, nossa estrutura exige que equilibremos ambos os lados do nosso duplo mandato”, disse Powell, que enfrenta uma pressão sem precedentes de Trump, que abandonou o tradicional respeito pela autonomia do Fed ao exigir um corte de juros imediato e ameaçar uma diretora da instituição.Ex-diretor do BC brasileiro, Alexandre Schwartsman analisa o “dilema” de Powell entre desemprego e inflação:“Até julho, o Fed estava relativamente confortável e pensando: “bom eu tenho esse impacto (das tarifas), mas não vai ser persistente”, e a economia estava indo bem. No entanto, veio o relatório muito ruim do mercado de trabalho e o Powell entendeu que o risco ligado ao emprego ficou pior. Agora eles não estão mais numa posição de esperar se esse impacto das tarifas será temporário ou permanente. Agora ele (Powell) fez um salto de fé.”Ellen Zentner, do Morgan Stanley, resume: “A fraqueza do mercado de trabalho parece ter superado o risco de inflação para o Fed, e a resposta inicial dos mercados fala por si”.Ibovespa avança 2,5%Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 1,89% e atingiu nível recorde de fechamento no ano. O S&P 500 avançou 1,52%, com dez dos 11 setores do índice avançando, e o Nasdaq fechou em alta de 1,88%. No Brasil, o índice Bovespa subiu 2,57%, a maior alta desde 9 de abril.A perspectiva de queda de juros nos EUA fez o dólar cair nos principais mercados (veja no gráfico ao lado). Por aqui, a moeda americana fechou em baixa de 0,95%, e os juros futuros recuaram.“Ao afirmar que a política monetária já está restritiva e sinalizar ajustes, Powell indica proximidade de um ciclo de cortes nos juros, o que diminui a atratividade da renda fixa de curto prazo nos EUA, motivando fluxo para ativos de risco dentro e fora do país. O diferencial de juros elevado, e com potencial de se alargar ainda mais, favorece o real”, explica Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad.(Com Bloomberg News)The post Por que, mesmo com a inflação em alta, o BC americano sinalizou corte de juros? appeared first on InfoMoney.