Fiagros se reinventam em busca de ampliar acesso do pequeno investidor ao agro

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Nos últimos anos, o crédito rural no Brasil começou a se movimentar além dos sistemas tradicionais de bancos públicos, com crescimento na oferta de recursos via mercado de capitais, sustentado por estruturas como CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), FIDICs e Fiagros — e, agora, com a figura do CPR (Cédula do Produtor Rural) expandindo a participação.“Quem chega primeiro ao mercado de capitais são os grandes produtores, mas já há sinais claros de pulverização. Enquanto isso não acontece de forma mais profunda, o pequeno segue dependente do crédito subsidiado do Plano Safra, repassado por bancos e cooperativas”, explicou Paulo Prado, gestor da Riza Capital, durante o evento da XP Agro Insights, que aconteceu na manhã desta terça-feira (26/08), em São Paulo. A mudança mais relevante para ampliar o alcance dos Fiagros veio com a nova regulação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em março, a Resolução 214, que institui o chamado Fiagro multimercado, ampliou o leque de ativos que podem compor as carteiras, permitindo operações com CPR física e financeira, exploração de imóveis rurais e até a compra de créditos de carbono do agronegócio e de descarbonização.Apesar dos ruídos recentes — como o aumento de recuperações judiciais no setor em 2024 — os gestores ressaltam que o número absoluto ainda é baixo diante do universo de mais de 3 milhões de produtores. “Faz barulho, mas não muda o fato de que o agro é sólido. A evolução dos Fiagros passa por inovação e aprendizado, e isso abrirá oportunidades expressivas para o investidor pessoa física”, diz Paulo Fleury, gestor da eB Capital.Leia Mais: Tarifaço de Trump: Brasil perde muita competitividade, diz CEO global da JBSInvestimento acessível no agroNa prática, os Fiagros passam a funcionar como porta de entrada para um setor que representa quase 1/3 do PIB brasileiro, mas que, até agora, era de difícil acesso para o pequeno investidor. Prado ilustra com o exemplo de terras agrícolas: “Um hectare em Sorriso (MT) custa hoje entre R$ 100 mil e R$ 120 mil. Para ter escala mínima, seria preciso comprar ao menos mil hectares — investimento acima de R$ 120 milhões, inviável para a maioria dos investidores individuais. O fundo, ao reunir vários cotistas, consegue ter porte para esse tipo de alocação.”Leia Mais: Boa Safra vê impacto marginal de tarifa dos EUA e mantém otimismo com diversificaçãoPara Fleury, da eB Capital, o desafio agora é desenhar estruturas que deem previsibilidade ao investidor. Ele defende que a evolução normativa, com novos parâmetros de cotas subordinadas e sênior, foi essencial para reduzir a volatilidade sentida em fundos de crédito.“Muitos Fiagros sofreram com oscilações de preço sem sequer terem problema de crédito. Isso afasta a pessoa física, que busca renda estável. Com a nova regulação, é possível oferecer ao investidor sênior um fluxo pactuado — CDI mais spread —, enquanto a volatilidade fica concentrada na subordinada”, pontua. Segundo Fleury, esse desenho torna os produtos mais claros e adequados a diferentes perfis de risco, ao mesmo tempo em que reforça a importância de garantias sólidas e governança. “Garantia é como seguro de carro: você não quer usar, mas se precisar, tem que estar lá, executável e com valor agregado à operação”.‘Retrofit do agronegócio’Hoje, diz Prado, alguns Fiagros vem fazendo investimentos em terras, em um modelo parecido ao “retrofit de um prédio corporativo”, recuperando áreas de fazendas inutilizadas.“Um hectare de pasto pode custar R$ 25 mil; após investimentos de R$ 8 mil a R$ 10 mil em correção de solo e infraestrutura, seu valor pode chegar a R$ 70 mil. “É um retorno de 25% a 30% ao ano, com risco relativamente baixo”, afirma o gestor.Leia Mais: Investir via CRAs não é como aplicar em CRIs — os riscos são outros, alertam gestoresThe post Fiagros se reinventam em busca de ampliar acesso do pequeno investidor ao agro appeared first on InfoMoney.