Entenda escândalo de corrupção em que irmã de Milei é acusada na Argentina

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O governo argentino vive horas de tensão após a irmã do presidente e secretária-geral da Presidência, Karina Milei, ser apontada como suposta beneficiária direta de um possível esquema de corrupção envolvendo a devolução de verbas por meio da Andis (Agência Nacional para a Deficiência).A investigação, que está sendo conduzida sob sigilo pela Justiça Federal, ocorre após uma reportagem do canal de streaming local Carnaval revelar gravações de áudio nas quais Diego Spagnuolo, ex-diretor da Andis, teria sido ouvido discutindo um esquema de propina em uma conversa privada que supostamente envolve Karina Milei e um de seus colaboradores mais próximos, o subsecretário de Gestão Institucional, Eduardo “Lule” Menem, parente do falecido ex-presidente Carlos Menem.A CNN não conseguiu verificar as gravações de áudio de forma independente.Esta não é a primeira controvérsia sobre possível fraude a atingir Milei em menos de dois anos de governo. Leia mais: Quem é Victoria Villarruel, vice-presidente que Milei chamou de “ignorante” Argentina declara Cartel de los Soles como organização terrorista Milei poderia conceder asilo político a Bolsonaro, diz especialista Em fevereiro, a ascensão da criptomoeda $LIBRA, que disparou e despencou em poucas horas, levou a múltiplas acusações criminais contra ele, inclusive nos Estados Unidos, que ainda estão pendentes. Na época, Milei negou ter promovido o ativo digital.Mas essa nova acusação surge em meio à campanha eleitoral, poucos dias antes das eleições legislativas na província de Buenos Aires, marcadas para domingo, 7 de setembro, e dois meses antes das eleições nacionais, que serão realizadas em 26 de outubro. As acusações atingem um dos pontos fortes de Milei. O autoproclamado “melhor amigo” de Donald Trump na América Latina se apresenta como um outsider, disposto a romper com os negócios sujos da política e os gastos estatais perdulários.No entanto, de acordo com o relato de Spagnuolo nas gravações de áudio — cujo conteúdo é reproduzido em uma denúncia criminal obtida pela CNN —, por meio da farmácia Suizo Argentina, o governo teria executado um esquema de suborno relacionado à compra e fornecimento de medicamentos da Andis, gerando um acréscimo de 8%, dos quais 3% foram enviados à secretaria-geral da Presidência, Karina Milei.Presidente da Argentina, Javier Milei, e sua irmã Karina Milei cumprimentam apoiadores na saída do Congresso Nacional, após cerimônia de posse • 10/12/2023 Tomas Cuesta/Getty ImagesA denúncia criminal, elaborada por Gregorio Dalbón, também advogado da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner, acusa o presidente Javier Milei, sua irmã, Eduardo “Lule” Menem, e o proprietário da farmácia, Eduardo Kovalivker.“O que se revela nas gravações de áudio confirma o circuito estruturado de corrupção que envolve a mais alta hierarquia política e operadores estratégicos do país. Javier e Karina Milei são identificados como beneficiários diretos da devolução dos fundos desviados, Eduardo ‘Lule’ Menem e Diego Spagnuolo são identificados como intermediários no esquema corrupto, e a farmácia Suizo Argentina – de Eduardo Kovalivker – serve como um canal indispensável para a coleta e distribuição de propinas, consolidando assim um triângulo de poder entre o Poder Executivo, a Secretaria-Geral e o setor privado”, afirma a denúncia.De acordo com as declarações de Spagnuolo nas supostas gravações de áudio, o ex-funcionário teria alertado o presidente sobre o ocorrido: “Falei com o presidente; tenho todas as mensagens de WhatsApp da Karina.”Diretor da Andis foi afastadoApós a divulgação do material, o governo argentino anunciou a destituição de Spagnuolo do cargo à meia-noite da última quarta-feira.“Diante dos fatos publicamente conhecidos e da evidente exploração política pela oposição em ano eleitoral, o Presidente da Nação decidiu preventivamente destituir Diego Spagnuolo, diretor executivo da Agência Nacional de Deficiência, do cargo”, afirma o comunicado do porta-voz da Presidência da República Argentina.Além disso, ele designou Alejandro Vilches como auditor para “avaliar a operação da Andis e garantir uma gestão eficiente e transparente”, segundo o comunicado oficial.A CNN tenta contato com Spagnuolo, cujo telefone foi apreendido, mas ainda não conseguiu contato.Dezenas de buscas: documentos, celulares e centenas de milhares de dólares apreendidosComo parte da investigação, a Polícia da Cidade de Buenos Aires realizou 15 buscas em residências particulares, na empresa de comercialização de medicamentos Suizo Argentina e na sede da Andis, informou à CNN uma fonte com acesso à investigação.Argentina investiga denúncia de corrupção envolvendo irmã de Milei | BASTIDORES CNNEntre as residências particulares revistadas estavam a de Spagnuolo, bem como as dos proprietários da farmácia, Eduardo Kovalivker e seus filhos, Emmanuel e Jonathan.“Durante o processo, foi apreendida uma quantidade significativa de material de interesse para o caso: registros contábeis, arquivos de computador, celulares, agendas pessoais e outros itens diretamente relacionados à hipótese investigativa”, disse a fonte com conhecimento das operações.Além disso, foram apreendidos US$ 266 mil (equivalentes a R$ 1,44 milhões) e 7 milhões de pesos argentinos (equivalentes a R$ 28 mil).Segundo a mesma fonte, 15 caixas com documentos relevantes e um pen drive foram apreendidos no laboratório da farmácia.Martín Magram, advogado dos empresários Kovalivker e da farmácia Suizo Argentina, negou à CNN qualquer acusação criminal contra seus clientes e afirmou que a defesa está em andamento.A reação de MileiO presidente argentino, que permaneceu em silêncio sobre o assunto desde o início da polêmica do áudio da Andis – apesar de ter participado de vários atos públicos – reagiu pela primeira vez nesta terça-feira (26) ao compartilhar a declaração da farmácia Suizo Argentina em suas redes sociais.Javier Milei, presidente da Argentina, participa do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça • World Economic Forum / Gabriel LadoMartín Menem, presidente da Câmara dos Deputados e primo de “Lule”, concedeu uma entrevista ao canal A24, na qual afirmou que se tratou de uma “operação monumental a duas semanas das eleições”.Ele, que é muito próximo de Karina Milei, atribui o ocorrido a uma campanha suja. “Vou colocar as mãos no fogo por Lule e Karina”, disse.Por sua vez, Eduardo “Lule” Menem, se manifestou em suas redes sociais no fim de semana no mesmo sentido: “Não posso falar nem afirmar nada sobre a autenticidade ou não dos áudios que estão circulando, mas posso assegurar a absoluta falsidade de seu conteúdo”, escreveu no X.Karina Milei, que não costuma fazer declarações públicas, permaneceu em silêncio, embora tenha compartilhado em suas redes sociais as entrevistas que Martín Menem daria nesta segunda-feira.A CNN entrou em contato com a Casa Rosada sobre as acusações contra Karina Milei, e eles responderam que apoiam as declarações públicas de Martín Menem.O promotor Franco Picardi disse à CNN que a investigação está sob sigilo sumário.Uma denúncia complexa em meio à reclamação sobre o subfinanciamento do setorO caso das supostas propinas na Agência Nacional de Deficiência ocorre em meio a um confronto entre o governo argentino e o setor de deficiência e os prestadores de serviços sobre o subfinanciamento da área.Milei veta aumento de aposentadoria aprovado pelo Congresso | BASTIDORES CNNNa mesma quarta-feira em que as gravações de áudio foram divulgadas, a Câmara dos Deputados rejeitou um veto presidencial contra uma lei que declara estado de emergência para pessoas com deficiência até 2027.A legislação, que aguarda ratificação pelo Senado — que deve decidir se rejeita ou não o veto —, busca atualizar as pensões e os valores dos benefícios por invalidez, entre outras reivindicações. O governo alerta que a lei compromete sua política de déficit zero.De acordo com a denúncia apresentada por Dalbón, o retorno de 3% que a Secretaria-Geral da Presidência receberia “representa cerca de US$ 800 mil por mês”, além dos pagamentos a intermediários que arrecadariam “cerca de US$ 30 mil” no mesmo período.