Governance industrial num novo mapa comercial global

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O panorama global dos mercados está a passar por uma reconfiguração histórica. A governança industrial enfrenta hoje desafios sem precedentes que exigem não apenas uma visão estratégica, mas, também, uma atuação coordenada ao mais alto nível executivo e dos conselhos de administração.A instabilidade geopolítica e económica, aliada às recentes alterações nos tratados comerciais — com destaque para as tensões entre os EUA e outros blocos económicos, como a Europa e a China — tem provocado impactos significativos nas cadeias de abastecimento globais. Neste contexto, as empresas veem-se obrigadas a repensar profundamente as suas estratégias de sourcing, logística e produção, adotando modelos mais resilientes e adaptáveis.Estas mudanças resultam num ambiente volátil, imprevisível e marcado por políticas comerciais cada vez mais protecionistas. Empresas que outrora dependiam de redes globais de fornecedores são, agora, pressionadas a diversificar origens de fornecimento, procurar alternativas regionais e até reavaliar a localização de unidades industriais e centros de distribuição. A pandemia da COVID-19 já tinha exposto vulnerabilidades críticas nestas cadeias e a conjuntura atual vem reforçar a urgência de construir operações industriais mais flexíveis e seguras.Neste novo cenário, a governança industrial assume um papel central. Já não basta que os conselhos de administração exerçam funções de supervisão. É necessário que se envolvam ativamente na antecipação de riscos e na definição de estratégias para navegar num comércio global em constante mutação. A agilidade, a capacidade de resposta e a visão de futuro tornaram-se requisitos essenciais.Os líderes industriais devem ser proativos na gestão da cadeia de valor global, explorando novas geografias de fornecimento e adotando tecnologias emergentes para mitigar riscos. Soluções como a Inteligência Artificial, Big Data e Blockchain permitem aumentar a transparência, a rastreabilidade e a capacidade de previsão, tornando as operações mais robustas perante disrupções externas.Mas a resposta não pode ser apenas tecnológica. A pressão por práticas comerciais responsáveis e sustentáveis nunca foi tão forte. A integração de critérios ESG deixou de ser opcional e passou a ser uma exigência de mercado, de investidores e mesmo da sociedade em geral. A liderança industrial deve, nesse sentido, equilibrar eficiência com responsabilidade, incorporando objetivos de sustentabilidade nas diferentes decisões estratégicas.Ora, a própria composição dos conselhos de administração tem de refletir a complexidade do cenário atual. A diversidade geográfica, cultural e de experiência é crucial para garantir que as decisões estratégicas sejam bem informadas e eficazes. Isso inclui, entre outras coisas, a integração de profissionais com expertise em comércio internacional, risco geopolítico, transformação digital e sustentabilidade.Se até há pouco tempo os conselhos davam prioridade à contratação de perfis financeiros e digitais, temos assistido a um aumento na procura de perfis de conselheiros com experiência global relevante em operações e cadeia de abastecimento. Esta tendência deve-se à preocupação com eventuais disrupções nas cadeias logísticas, bem como trazer uma visão externa e nova, com vista a aumentar a eficiência, otimizar o footprint industrial e gerar economias de custo.O novo mapa comercial global não representa apenas um desafio. É, também, uma oportunidade para repensar estruturas de decisão, reforçar a resiliência empresarial e alinhar a atuação industrial com as exigências de um mundo em rápida transformação. Só com uma governança dinâmica, informada e orientada para o futuro, as empresas conseguirão manter a sua relevância.O conteúdo Governance industrial num novo mapa comercial global aparece primeiro em Revista Líder.