Assessores sugerem taxa fixa como caminho mais transparente na relação com investidor

Wait 5 sec.

Em um mercado cada vez mais competitivo, a discussão sobre a remuneração dos assessores de investimentos tem ganhado espaço entre profissionais e clientes. No centro do debate está o modelo de taxa fixa, conhecido como fee based, que vem sendo apontado por especialistas como uma alternativa mais transparente ao comissionamento tradicional.Descubra o novo modelo de remuneração para Assessores XPO tema foi discutido em uma conversa conduzida por Alexandre Dellamura, head de conteúdo da Melver, e Rafaela Truda, head de growth B2B da XP Inc., com a participação de Fernando Kobuti, sócio e assessor de investimentos da Blue3, e Henrique Silva, fundador do escritório Invés e entusiasta do modelo de taxa fixa.Dellamura explicou que, no formato tradicional, o assessor recebe uma comissão sobre os produtos recomendados, enquanto no modelo de taxa fixa a cobrança é feita como um percentual sobre o patrimônio do cliente. “É um formato que traz mais previsibilidade e transparência, já que o cliente sabe exatamente qual taxa está pagando”, destacou.Truda acrescentou que a principal diferença percebida pelo investidor é o modo de cobrança: em um modelo, o valor vem embutido no produto; no outro, há um débito direto na conta do cliente. “Isso não significa que um seja mais caro do que o outro, mas sim que o cliente passa a ter mais clareza sobre quanto está pagando”, disse.XP revela como funcionam contratações e formatos na assessoria de investimentosPequod Investimentos é eleita melhor escritório de assessoria do Brasil e abre vagasDa comissão ao fee based: um movimento do mercadoKobuti lembrou que, quando começou na profissão, em 2017, só existia o modelo de comissionamento. Segundo ele, o fee based surgiu em 2020, em resposta a críticas sobre potenciais conflitos de interesse. “Na época, eu apresentava as duas opções aos clientes e deixava que eles decidissem. Poucos migravam para o novo modelo, porque não entendiam bem a diferença ou preferiam manter o status quo”, contou.Com o tempo, no entanto, o assessor passou a refletir sobre os riscos embutidos no comissionamento. “Eu sempre tive clareza dos meus valores e ética, mas a economia comportamental mostra que, mesmo com boas intenções, o contexto pode induzir a conflitos de interesse. Percebi que o fee based diminui muito essa probabilidade”, afirmou.Em 2023, Kobuti decidiu adotar exclusivamente o modelo de taxa fixa para clientes que demandam recomendações de investimentos. “Expliquei aos clientes que não era uma questão de preço, mas de alinhamento. Prefiro trabalhar como um médico: o paciente paga a consulta e confia que o diagnóstico não está atrelado a uma comissão do medicamento prescrito”, comparou.O assessor reconhece que a mudança não foi isenta de riscos. “Tive receio de perder clientes, mas apenas um deixou minha base por preferir o modelo de comissionamento. A maioria compreendeu o racional e percebeu que o real benefício está na imparcialidade do serviço”, completou.Leia tambémTrump demite Lisa Cook, diretora do Fed; caso pode parar na Suprema CorteTrump fez o anúncio em uma carta para Cook que ele publicou nas mídias sociaisLula defende mundo livre de imposições: ‘Nenhum país combate crime sozinho’A declaração de Lula é uma resposta indireta a ações no campo comercial e militar do governo Donald TrumpCultura de pagamento ainda é desafioHenrique Silva, que já esteve entre os principais assessores da XP, reforçou que a questão cultural é um dos maiores entraves para a consolidação do fee based no Brasil. “Muitos investidores acreditam que a assessoria é gratuita, porque a comissão está embutida nos produtos. O débito em conta causa desconforto, mas é uma questão de educação financeira”, explicou.Silva destacou que o modelo já é predominante em mercados mais maduros. “Nos Estados Unidos, mais de 70% dos assessores trabalham com taxa fixa. Na Inglaterra, o comissionamento foi banido justamente para evitar distorções na relação com o cliente”, disse.Ele citou ainda que grandes fortunas já optam por esse formato há muito tempo. “Os multimilionários não aceitam conflito de interesse. Para quem tem cem milhões ou um bilhão, não faz sentido arriscar uma recomendação enviesada por comissão”, observou.Segundo o assessor, os casos polêmicos que chegaram à mídia envolvendo escritórios ou profissionais quase sempre estavam ligados ao modelo de comissionamento. “Isso mostra como o alinhamento de interesses é fundamental para preservar a confiança e a relação de longo prazo”, acrescentou.Em busca de ex-bancários e novos talentos, Bull abre vagas e mira expansão no paísCapse Investimentos: assessor que se realça é aquele que agrega valor real ao clienteTransparência como ativo de valorPara Silva, a adoção do fee based não deve ser vista apenas como uma questão de remuneração, mas de alinhamento estratégico entre cliente e assessor. “O investidor me procura porque quer ficar mais rico no longo prazo. Nada mais justo que, à medida que ele cresce, eu também seja remunerado de forma proporcional”, afirmou.Ele defende que o papel do assessor é semelhante ao de um médico. “Quando confiamos em um médico, aceitamos até injeções dolorosas porque sabemos que ele não tem interesse em nos prejudicar. O mesmo vale para a assessoria financeira: o cliente precisa confiar que a recomendação é imparcial e feita para o seu bem-estar patrimonial”, comparou.Silva também ressaltou a necessidade de posicionamento dos profissionais. “O cliente não tem obrigação de conhecer os modelos de remuneração. Cabe ao assessor, como técnico, escolher aquele que acredita ser o mais adequado para construir uma relação de confiança e resultados”, concluiu.O debate mostra que, apesar de resistências iniciais, o fee based ganha espaço no Brasil como modelo que privilegia transparência, imparcialidade e alinhamento de interesses. Para clientes e assessores, a tendência é de que a clareza sobre custos e a confiança na relação pesem cada vez mais na decisão.The post Assessores sugerem taxa fixa como caminho mais transparente na relação com investidor appeared first on InfoMoney.