Por Folha de São Paulo 23/08/2025 13h00 — emEconomiaRIO JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Paula Lima, 28, migrou para Santa Catarina em busca de crescimento profissional em fevereiro de 2022. Deixou para trás o trabalho de cabeleireira e a rotina de vida em Duque de Caxias, região metropolitana do Rio.Três anos e meio depois, não se arrepende. Buscou qualificação de nível técnico e diz que já encontrou quatro empregos no Sul.Atua hoje na área administrativa de uma concessionária de veículos. "Aqui tem muita oportunidade", afirma Paula, que mora com o filho em São José, na Grande Florianópolis.A cerca de 3.400 km dali, no Recife, Alex Sales dos Santos, 54, atravessa uma situação diferente. Ele diz que procura emprego com carteira assinada há cerca de um ano.Santa Catarina e Pernambuco ilustram parte dos extremos que persistem no mercado de trabalho do Brasil, apesar da recuperação de indicadores de emprego e renda após a pandemia.No estado do Sul, a taxa de desemprego caiu a 2,2% no segundo trimestre de 2025. Trata-se do menor patamar do país e da mínima da série histórica de Santa Catarina.Já em Pernambuco o desemprego foi de 10,4% no intervalo de abril a junho. Mesmo em trajetória de baixa, o indicador local é o maior e o único acima de 10% entre as unidades da federação.Ao contrário de Santa Catarina, o estado nordestino ainda não conseguiu renovar a mínima de sua série. A menor taxa já registrada por Pernambuco foi de 7,4%, no quarto trimestre de 2013. O maior patamar foi de 21,8%, no segundo trimestre de 2021, na pandemia.Os dados integram a pesquisa oficial de emprego e desemprego do país, a Pnad Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A série histórica começou em 2012.Na média do Brasil, o desemprego recuou a 5,8% no segundo trimestre de 2025. É a menor taxa da série. Também foi a primeira vez que o número nacional ficou abaixo de 6%.A exemplo de Paula, Alex também morava em Duque de Caxias, no Rio, de onde saiu há mais de dez anos para viver e trabalhar em Pernambuco.Nas estatísticas oficiais, não chega a ser considerado desempregado, já que recorreu a bicos nos últimos meses, mas o que ele quer mesmo é a garantia de uma vaga formal. "O que aparecer, sendo um trabalho digno, meu irmão, estou pegando. O importante é trazer o pão para casa", diz ele, que completou o ensino fundamental.Enquanto isso não vira realidade, Alex conta com o apoio da esposa, que está empregada, e de um projeto social, o Samaritanos, que o auxilia na tentativa de recolocação no mercado."O mercado de trabalho no Brasil tem mostrado resiliência, sucessivas quedas no desemprego, e isso vale para os estados, mas em níveis diferentes", afirma o economista Bruno Imaizumi, da consultoria 4intelligence."O Brasil é um país superdesigual. Tem discrepâncias regionais que explicam boa parte da situação."O CONTEXTO DE PEPernambuco mostra a maior taxa de desemprego do país, de forma consecutiva, desde o segundo trimestre de 2024.Apenas outros cinco estados encabeçaram esse ranking ao longo da série iniciada em 2012. Todos são do Norte e Nordeste: Amapá, Bahia, Rio Grande do Norte, Sergipe e Alagoas."Pernambuco tem características históricas de grandes extensões rurais, de um estado que se forma a partir da escravidão", diz o economista Edgard Leonardo Lima, professor do Centro Universitário Tiradentes. "Então, há uma parcela da população que já vem à margem. Isso traz reflexos até hoje."Segundo Lima, o mercado de trabalho local também sente os impactos de uma economia menos diversificada do que em outras regiões brasileiras. Há, nas palavras dele, cadeias produtivas "mais curtas".Por isso, o economista entende que o estado deve seguir em busca de avanços na área de infraestrutura logística. A intenção é facilitar a ligação entre Recife e o restante do estado."Temos várias cidades do interior que sobrevivem através de auxílios como Bolsa Família, recursos de prefeituras e agricultura familiar."O sociólogo Sidartha Soria e Silva, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), chama a atenção para o desempenho do mercado de trabalho no setor da construção.Ele diz que a atividade havia experimentado um boom devido a obras no porto de Suape, mas, com o fim desse impulso, amargou demissões na última década.No quarto trimestre de 2013, quando Pernambuco registrou a sua menor taxa de desemprego (7,4%), a construção tinha um total de 353 mil pessoas ocupadas no estado, conforme a Pnad.No segundo trimestre de 2025, o número era de 267 mil, o que sinaliza uma redução de 86 mil postos (formais ou informais)."Tinha canteiros de obras enormes. Houve uma desmobilização, e esse contingente não foi realocado, não foi absorvido, por outros setores", diz Silva.O professor também afirma que aspectos históricos influenciam o contexto local do trabalho. "Em estados como Santa Catarina, a ocupação da terra foi diferente, com fomento ao pequeno negócio. Aqui [em Pernambuco] a história é diferente", diz."Tem a questão da escravidão, de monoculturas de exportação, de concentração de riquezas e pobreza grande", acrescenta o professor, que defende esforços públicos e privados na geração de empregos e na qualificação da mão de obra.A Folha pediu posicionamento sobre os dados de desemprego para o governo de Pernambuco na segunda (18) e tentou novo contato na quarta (20), mas não teve retorno.O CONTEXTO DE SCEm Santa Catarina, o baixo nível de desocupação pode ser associado à formação de uma economia "extremamente diversificada", segundo Lauro Mattei, professor de economia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e coordenador do Necat (Núcleo de Estudos de Economia Catarinense).Ele ressalta a presença de indústrias de diferentes segmentos no estado, além do desenvolvimento de atividades agropecuárias e do setor de serviços, que inclui o turismo em regiões como o litoral.Na opinião de Mattei, essas características, aliadas a políticas nacionais como o aumento do salário mínimo, têm contribuído para a expansão da economia e da demanda por trabalhadores."É um conjunto de fatores que ajuda a explicar o boom do emprego. É um boom mesmo."Apesar de dizer que esta é a melhor fase do mercado de trabalho catarinense, Mattei avalia que o estado não é um "oásis" nem "mil maravilhas".Segundo o professor, questões que atingem o Brasil também aparecem em menor escala em Santa Catarina. Nesse sentido, ele afirma que o número local de desempregados (101 mil) não pode ser desprezado. "Estamos falando de gente."Mattei ainda destaca que a taxa de informalidade catarinense (24,7%) é a menor do país, mas significa que 1 em cada 4 trabalhadores ocupados não tem as garantias do emprego formal."Esses pontos se explicitam também aqui. É importante dizer, porque as pessoas têm o hábito de desconsiderar que Santa Catarina faz parte do Brasil."Após a divulgação dos dados mais recentes do IBGE, o secretário do Planejamento de Santa Catarina, Fabricio Oliveira, associou os resultados à gestão do governo estadual. Também declarou que o momento é de confiança para trabalhadores e empreendedores.Bastidores da PolíticaEsgotamento sanitário é necessário, mas é preciso respeito a Manaus"; // imagens[1] = // ""; // imagens[4] = // ' source src = "/sites/all/themes/v5/banners/videos/vt-garcia-07-2023.mp4" type = "video/mp4" >'; // imagens[2] = // ""; // imagens[4] = // ""; // imagens[3] = // ""; // imagens[4] = // ""; index = Math.floor(Math.random() * imagens.length); document.write(imagens[index]);//]]>