O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira que fundos de investimento que teriam sido usados pelo crime organizado para depositar recursos ilícitos no setor de combustíveis movimentaram R$ 52 bilhões em quatro anos.Em entrevista coletiva em Brasília para detalhar três operações deflagradas nesta quinta para apurar o envolvimento de facções criminosas no setor de combustíveis, Haddad disse que o setor foi escolhido por ser o que estava “mais à vista”.Na mesma entrevista, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que o envolvimento do crime organizado em outros setores da economia também será investigado. MegaoperaçãoUma megaoperação envolvendo vários órgãos públicos com agentes atuando em oito Estados mira nesta quinta-feira um esquema bilionário de fraudes e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis, com participação de fundos de investimento e fintechs usados para lavar os recursos que, segundo investigadores, têm ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).A operação, denominada Carbono Oculto, conta com participação da Polícia Federal, das Polícias Civil e Militar de São Paulo, dos Ministérios Públicos Federal e Estadual de São Paulo, da Receita Federal, da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e da Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo. De acordo com os órgãos, 1.400 agentes estão envolvidos na operação.Segundo a Receita Federal, “trata-se da maior operação contra o crime organizado da história do país em termos de cooperação institucional e amplitude”.Mandados de busca e apreensão estavam sendo cumpridos contra 350 investigados — entre pessoas físicas e jurídicas — em São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.Segundo nota do Ministério Público paulista, o montante sonegado supera a casa dos R$ 7,6 bilhões.“As investigações apontam que o sofisticado esquema engendrado pela organização criminosa, ao mesmo tempo que lavava o dinheiro proveniente do crime, obtinha elevados lucros na cadeia produtiva de combustíveis. O uso de centenas de empresas operacionais na fraude permitia dissimular os recursos de origem criminosa. A sonegação fiscal e a adulteração de produtos aumentavam os lucros e prejudicavam os consumidores e a sociedade”, disse a Receita Federal em nota.“Operações financeiras realizadas por meio de instituições de pagamento (fintechs), em vez de bancos tradicionais, dificultavam o rastreamento dos valores transacionados. Por fim, o lucro auferido e os recursos lavados do crime eram blindados em fundos de investimento com diversas camadas de ocultação de forma a tentar impedir a identificação dos reais beneficiários.”Uma decisão judicial vista pela Reuters e que autoriza as diligências realizadas nesta quinta-feira aponta a empresa de investimentos Reag como um dos alvos da operação. Em fato relevante enviado ao mercado, a companhia confirmou que foi alvo de mandado de busca e apreensão em sua sede no âmbito da Carbono Oculto, disse ainda estar colaborando com as autoridades e à disposição para qualquer esclarecimento.