Taís Araújo falou abertamente sobre frustrações com a trajetória de sua personagem na novela, criticando decisões que alteraram a narrativa que imaginava para Raquel. Segundo a atriz, mudanças recentes no enredo escrito por Manuela Dias não respeitaram o arco de ascensão social que ela esperava retratar.Em entrevista ao site Quem, Taís explicou como enxerga os caminhos da sua personagem em ‘Vale Tudo’: “Esse momento da Raquel voltar a vender sanduíche na praia, confesso que recebi com um susto. Porque não era a trama original. Então, para mim, a Raquel ia numa curva ascendente. Quando vi aquilo, falei: ‘Ué, vai voltar para a praia, gente’. Aí eu entendi e também falei: ‘OK, mas ela está escrevendo uma parte da história’. Vamos embora fazer”.A atriz reforçou que a intenção inicial era mostrar uma trajetória de empoderamento da personagem: “Quando peguei a Raquel para fazer, falei: ‘Cara, a narrativa dessa mulher é a cara do Brasil. E ela vai ter uma ascensão social a partir do trabalho. Vai ser linda e ela vai ascender e ela vai permanecer’. Isso vai ser uma narrativa muito nova do que a gente vê sobre representação da mulher negra na teledramaturgia brasileira. Quando vejo que isso não aconteceu, como uma artista que quer contar uma nova narrativa de país, e a dramaturgia proporciona isso, confesso que fico triste e frustrada”.Taís destacou ainda que o público brasileiro, e principalmente o espectador negro, está pronto para acompanhar uma história de ascensão: “É urgente que a gente se veja nesse lugar. E acho que a Raquel tinha todas as possibilidades da gente contar essa nova narrativa dessa mulher. E quando li, pensei: Ai, meu Deus, não vai ter? Não, não vai ter’. Tenho que lidar com a realidade que me cabe, que é a de uma intérprete, de uma personagem, que não é escrita por mim”.Apesar das frustrações, a atriz se mantém comprometida com a personagem e a importância que ela representa: “E com respeito enorme a todas as mulheres que Raquel representa, vou até o final defender essa personagem porque acredito nessa mulher. Acredito nessa mulher negra que trabalha para manter uma família, que acende socialmente, que se dedica, que é uma mulher séria, capaz, competente”.Ela comentou sobre como tentou imprimir nuances de força e autonomia mesmo nos momentos difíceis: “Uma das nuances que eu quis dar a esse momento foi de levantar a poeira. Ela não ia ficar chorando, ela ia levantar e trabalhar. É o que as mulheres desse país fazem. As que estão na base da pirâmide. Elas levantam e são bravas, são valentes, são corajosas, elas vão trabalhar. Eu gostaria muito que a Raquel tivesse uma curva ascendente, poderosa, que a batalha dela fosse outra e não a batalha pela sobrevivência”.Taís ainda falou sobre a frustração em relação aos conflitos éticos que poderiam ter sido explorados na narrativa: “Estou vendo tudo que as pessoas tão falando, tá, gente? Vendo, escutando, lendo, entendendo. Me alio para caramba com vocês nesse sentimento. Inclusive, às vezes de frustração. De querer um outro movimento. Gostaria muito mesmo que a batalha que ela tivesse, o conflito em si, fosse de outra ordem. Conflitos éticos com Odete, por exemplo. E aí quando não tem, a gente tem que lidar com o que tem. E o que tem é isso”.Sobre os capítulos finais, Taís comentou: “Para o público a história já está na altura do capítulo 129, mas para mim faltam apenas 12 para o fim da história, que deve ter cerca de 173 capítulos na versão atual. Raquel é um exemplo de mulher. Ela é um exemplo para mim. Sempre vou deixá-la absolutamente humana e ainda falta novela aí. Torço para que ela consiga reverter a situação, que ela consiga se estabelecer financeiramente, colocar em prática tudo o que ela tanto fala e se dedica”.