O número de pessoas que praticam esportes cresce a cada ano, impulsionado pela busca legítima por saúde, bem-estar e performance. Corrida, futebol e crossfit, em especial, figuram entre as atividades mais populares no Brasil e no mundo. No entanto, esse movimento positivo também traz um desafio crescente: o aumento das lesões musculoesqueléticas associadas à prática esportiva.Lesões mais comuns em esportes popularesEmbora a maioria das lesões não seja grave, elas podem comprometer o desempenho, limitar a mobilidade e até afastar temporariamente o praticante de sua rotina. O sucesso do tratamento e a segurança no retorno às atividades dependem, sobretudo, de um diagnóstico precoce, abordagem terapêutica adequada e estratégias inteligentes de prevenção. Cada modalidade impõe ao corpo demandas específicas, e isso se reflete no padrão de lesões que mais ocorrem. Na corrida, por exemplo, predominam as chamadas lesões por overuse (uso excessivo), como:Fascite plantar;Síndrome da banda iliotibial;Tendinopatia do tendão de Aquiles;Fraturas por estresse da tíbia ou metatarsos.Essas lesões geralmente estão associadas à sobrecarga progressiva, falhas no padrão de pisada, desequilíbrios musculares ou aumento súbito na intensidade ou volume dos treinos. No futebol, as lesões agudas são mais frequentes, com destaque para:Entorses de tornozelo;Lesões ligamentares de joelho (LCA, LCM);Estiramentos e rupturas musculares, especialmente nos isquiotibiais;Contusões, comuns em jogos de contato.No crossfit, que envolve movimentos de alta intensidade e amplitude, são observadas tanto lesões traumáticas quanto por sobrecarga, como:Síndromes do manguito rotador;Lombalgias e hérnias de disco;Lesões de punho e ombro por instabilidade articular.Estudos recentes publicados no British Journal of Sports Medicine reforçam que a maioria dessas lesões ocorre por falhas na execução dos movimentos, sobrecarga inadequada e ausência de orientação profissional individualizada. O crossfit, quando bem acompanhado e corretamente executado, é um esporte seguro e com baixo índice de lesões.Diagnóstico e tratamento: a importância do tempoIgnorar sinais de dor ou desconforto durante ou após o exercício é um erro comum e perigoso. O corpo costuma avisar que algo não está bem antes que a lesão se instale de forma definitiva. A avaliação médica precoce permite não apenas confirmar o diagnóstico, mas entender a causa biomecânica e funcional da lesão.O uso de recursos como ultrassonografia musculoesquelética em consultório, aliado ao exame físico e à análise do gesto esportivo, tem se mostrado uma ferramenta valiosa na prática clínica moderna. Essa abordagem torna o tratamento mais preciso e personalizado.A partir desse diagnóstico, o planejamento terapêutico pode incluir fisioterapia específica, controle da dor com técnicas não invasivas (como ondas de choque ou laser de alta intensidade), além de orientação sobre um retorno gradual ao esporte.Prevenção e longevidade no esporteO retorno às atividades físicas após uma lesão deve ser planejado com cautela e estratégia. Estudos mostram que recidivas são comuns quando há pressa em retomar o esporte ou quando os fatores que levaram à lesão inicial não foram devidamente corrigidos. Algumas medidas essenciais para prevenir novas lesões incluem:Reeducação do gesto esportivo, com acompanhamento de fisioterapeuta ou treinador capacitado;Correção de déficits de força, mobilidade ou estabilidade, com treino funcional específico;Adaptação da carga de treino, respeitando os limites do corpo e os sinais de fadiga;Sono e recuperação adequados, fatores essenciais para a regeneração muscular;Alimentação e suplementação equilibradas, sobretudo em esportes de alta intensidade.Atletas amadores e profissionais que seguem protocolos de prevenção e reabilitação personalizados apresentam taxas de recidiva significativamente menores e maior longevidade esportiva. Lesionar-se durante a prática esportiva não deve ser encarado como um “azar” ou algo inevitável. Na imensa maioria dos casos, as lesões são evitáveis e, quando ocorrem, apresentam ótimos resultados quando abordadas corretamente desde o início.Ao longo dos anos, acompanhei de perto a recuperação de centenas de pacientes que, ao receberem um plano individualizado, conseguiram não apenas voltar a praticar seus esportes favoritos, como também melhorar seu desempenho, sua consciência corporal e sua relação com o movimento.O esporte é, por excelência, uma ferramenta de transformação física e mental. Garantir que o corpo esteja preparado para essa jornada é parte essencial dessa conquista.Dra. Marina Melhado – CRM 179.632 / SP – RQE 121.033Médica ortopedista e traumatologista Leia também Do pensamento à ação: como interfaces cérebro-máquina estão transformando a reabilitação neurológica Fernanda Rodrigues enfrenta nova cirurgia após retorno do câncer de pele: o que caso ensina sobre o carcinoma basocelular