Mais um capitulo da disputa global pelo mercado de semicondutores começou na última sexta-feira (22), quando as ações de desenvolvedoras de chips chinesas dispararam na Bolsa de Xangai. Uma publicação feita no aplicativo de mensagens WeChat e uma reportagem do jornal The Information explicam.Até a tarde desta segunda-feira, no horário de Brasília, papéis das desenvolvedoras Cambricon Technologies subiam quase 50%, enquanto a Hygon Information Technology subiu cerca de 40%. Do outro lado do mundo, a líder mundial do setor, Nvidia (NVDC34), teve um desempenho bem mais modesto, na casa de 3%.Acontece que na mesma semana o DeepSeek — aquele mesmo modelo de linguagem chinês que fez as ações da Nvidia despencarem no início do ano — havia anunciado uma atualização da sua versão 3.1. Em uma publicação no superaplicativo WeChat, a empresa afirmou que a atualização estaria adaptada à “próxima geração de chips domésticos”, ou seja, chips desenvolvidos na China.Leia mais: O que é DeepSeek? Conheça IA chinesa que desafia gigantes da tecnologia globalCambricon e Hygon não são bem as grandes concorrentes da Nvidia na China, espaço ocupado pela Huawei, mas como a maior fabricante de chips chinesa não tem capital aberto, investidores gastaram seus cartuchos em outras companhias locais. Foi aí que as ações dispararam.O anúncio feito pela DeepSeek coincidiu com a publicação de uma reportagem pelo site americano The Information afirmando que a Nvidia teria instruído fornecedores a interromper a produção relacionada ao chip H20, opção mais moderna com acesso ao mercado chinês.De acordo com o jornal, a Nvidia fez os alertas devido aos recentes pedidos do governo chinês para que empresas locais evitem o uso do H20 em seus negócios.Até agora, o H20 é a opção de semicondutor mais potente produzida pela Nvidia com capacidade de entrar na China, mas ainda é inferior à sua linha de vanguarda Blackwell.Desde a gestão do ex-presidente americano Joe Biden, a Nvidia enfrenta restrições para levar seus semicondutores de ponta ao enorme mercado da China. Apesar de ter reforçado a aproximação ao atual presidente americano, Donald Trump, o CEO Jensen Huang não conseguiu evitar que, em abril, a Casa Branca determinasse que seria necessária uma licença para exportar chips H20 para a China.O resultado foi visto poucos dias depois, na divulgação dos resultados do trimestre encerrado em abril pela Nvidia: US$ 2,5 bilhões em vendas de chips H20 pausadas.Huang chegou a anunciar investimentos de US$ 500 bilhões em servidores nos Estados Unidos como parte de suas negociações para evitar restrições ao envio dos chips adaptados. Em agosto, semanas após uma reunião entre Trump e Huang no Salão Oval da Casa Branca, a Nvidia anunciou que retomaria as vendas do H20 à China.Em uma decisão polêmica, o Departamento de Comércio dos EUA fechou um acordo para permitir que Nvidia e AMD vendam chips adaptados ao mercado chinês desde que paguem o equivalente a 15% dos lucros com as vendas dos H20 ao governo americano. Analistas internacionais levantaram receios sobre a jurisprudência que uma espécie de “pedágio” por exportações poderia gerar.“Isso é realmente bizarro e incomum, e o mais preocupante — além dos casos individuais da AMD e da Nvidia — é a possibilidade de que isso seja expandido”, disse Gary Hufbauer, pesquisador sênior do Peterson Institute for International Economics à Bloomberg.O Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, chegou a dizer que a solução poderia ser vista em outra indústrias com o tempo. À Bloomberg Surveillance, ele disse que, por enquanto, o modelo é único, mas agora que está em teste “por que não expadí-lo?”.Receios à parte, o acordo permitiria que a Nvidia retomasse o acesso à China. Mas a notícia sobre orientações do governo de Xi Jinping contra a compra de chips H20 foi publicada. Embora apurações de veículos estrangeiros tenham indicado que o governo alegou questões de segurança para recomendar a restrição ao H20, reguladores chineses teriam interpretado comentários do Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, sobre os modelos exportados “insultantes”, publicou o Financial Times.De acordo com o veículo, pessoas com conhecimento sobre a ação regulatória, a Administração do Ciberespaço da China (CAC), a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC) e o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação (MIIT) reagiram aos comentários feitos por Lutnick no mês passado.Em uma entrevista à CNBC em 15 de julho, o secretário disse: “Não vendemos a eles o nosso melhor produto, nem o nosso segundo melhor, nem mesmo o nosso terceiro melhor”, um dia após a derrubada dos controles de exportação por Trump.“Você quer vender aos chineses o suficiente para que seus desenvolvedores fiquem viciados na tecnologia americana, esse é o raciocínio”, disse.Em uma viagem à Taiwan para discutir a próxima linha de chips Rubin com a produtora Taiwan Semiconductor Manufacturin (TSMC), Huang disse a jornalistas ter ficado surpreso quando Pequim expressou preocupações quanto à segurança dos H20 e estaria em contato com autoridades. Ele ainda afirmou que a Nvidia negocia com o governo americano para desenvolver um sucessor ao H20.Nesta quarta-feira (27), a Nvidia publica seus resultados trimestrais sob forte expectativa do mercado. Dados sobre gastos com inteligência artificial e guidance para os próximos trimestres podem servir para tranquilizar ou incendiar o mercado com o receio de que os imparáveis investimentos das gigantes da tecnologia estejam perto de um teto.The post Lá e de volta outra vez: Nvidia volta a ver barreiras na venda de chips para a China appeared first on InfoMoney.