Ícone do carimbó, Mestre Damasceno morre aos 71 anos no Pará

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Mestre Damasceno, um dos maiores representantes da cultura marajoara, morreu aos 71 anos na madrugada desta terça-feira (26), em Belém, no Dia Municipal do Carimbó. A morte foi confirmada por familiares, e o governo do Pará decretou luto oficial em homenagem ao artista.Internado desde junho, Damasceno Gregório dos Santos enfrentava um quadro delicado de saúde. No mesmo mês, foi diagnosticado com câncer em estado de metástase no pulmão, fígado e rins. Ele chegou a ser atendido no Hospital Jean Bittar e, posteriormente, foi transferido para o Hospital Ophir Loyola, onde permaneceu na UTI tratando pneumonia e insuficiência renal.Homenagens em vidaEste ano, Damasceno foi um dos homenageados da 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, ao lado da escritora Wanda Monteiro. O evento aconteceu entre os dias 16 e 22 de agosto, em Belém, e reuniu milhares de visitantes.Durante a feira, foi lançado o livro Mestre Damasceno e as Cantorias do Marajó, escrito por Antonio Carlos Pimentel Jr., que conta a trajetória do artista para o público infanto-juvenil.Guardião da cultura marajoaraSímbolo da cultura popular do Marajó, Mestre Damasceno dedicou mais de 50 anos à preservação e renovação das tradições locais. Em 2013, fundou o Conjunto de Carimbó Nativos Marajoara, responsável por quatro álbuns que consolidaram o carimbó pau e corda como marca registrada de sua arte.Entre suas criações mais recentes está o Cortejo Carimbúfalo, que une o carimbó ao Búfalo-Bumbá, levando a tradição para as ruas de Salvaterra. Em 2023, ele idealizou o Festival de Boi-Bumbá do município, reunindo grupos de comunidades quilombolas e fortalecendo ainda mais a cena cultural local.Reconhecimento nacionalAo longo da carreira, Damasceno recebeu diversos prêmios e homenagens. Em 1973, aos 19 anos, foi campeão como colocador de Boi-Bumbá em Soure. Mais tarde, conquistou duas vezes os prêmios da Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural, do extinto Ministério da Cultura (2009 e 2017), além do Prêmio Mestre da Cultura Popular do Pará – SEIVA (2015). Em 2017, foi reconhecido como Mestre de Carimbó pelo IPHAN.Em maio deste ano, recebeu a Ordem do Mérito Cultural, a mais alta honraria do Ministério da Cultura. Na ocasião, emocionou-se ao lembrar suas raízes quilombolas.“Trago comigo tudo o que aprendi com meus pais e avós, ancestrais quilombolas. São mais de 50 anos dedicados às tradições culturais marajoaras, e hoje colho os frutos de uma vida inteira de trabalho. Espero fazer ainda mais”, disse durante a cerimônia.