Uma idosa francesa, de 77 anos, e o filho dela com síndrome de Down, de 42, foram abandonados por um familiar no Aeroporto Internacional de São Paulo, na região metropolitana, na segunda-feira (18).O caçula dela, irmão do homem com Down, embarcou em um voo da Qatar Airways, com destino à França, ainda na segunda. Desde então, a idosa e o filho neurodivergente permaneceram no aeroporto, até a tarde dessa sexta-feira (22/8).Ambos foram encaminhados para o Hospital Geral de Guarulhos (HGG), após o Metrópoles questionar a prefeitura guarulhense e a GRU Airport sobre a situação de mãe e filho.A mulher, como apurado pela reportagem, estava com uma trombose grave na perna esquerda e, o homem com Down, severamente sujo pela ausência de higiene pessoal.5 imagensFechar modal.1 de 5Mulher e filho ficaram cinco dias em aeroportoArquivo Pessoal2 de 5Francesa foi hospitalizada com tromboseArquivo Pessoal3 de 5Passaporte do homem com downArquivo Pessoal4 de 5Passaporte de estrangeiraArquivo Pessoal5 de 5Idosa e filho com down foram abandonados em aeroportoArquivo PessoalA Prefeitura de Guarulhos afirmou, em nota (leia mais abaixo), no fim da tarde dessa sexta, estar ciente da situação da idosa e do filho dela desde o início da semana. O governo municipal afirmou que, pelo fato de a estrangeira “se negar a receber acolhimento” enfrentou “muitas dificuldades”.O que a francesa dizO Metrópoles obteve com exclusividade um registro (assista abaixo) no qual a idosa explica sua situação, quando estava no terminal 3 do aeroporto, na quinta-feira (21/8).Com a perna acometida pela trombose, ao lado de mochilas e sacos, ela relatou, em inglês, que, antes de vir para o Brasil, estava na Bolívia.O filho que posteriormente a abandonou no aeroporto morava no país vizinho do Brasil e, com ele, a francesa e o homem com Down passaram uma temporada.Quando chegou em Guarulhos, na segunda-feira (18/8), ela pretendia embarcar em um voo para Moscou, na Rússia, onde afirmou que gostaria “de ir para morrer”.O embarque dela e do filho com neurodivergência, porém, foi impedido pela tripulação do voo — pelo fato de a idosa não demonstrar condições de viajar sozinha com o filho.Hotel e consuladoImpedidos de embarcar para a Rússia, os franceses ficaram hospedados em um hotel, nas dependência do próprio aeroporto, por duas noites. As diárias foram custeadas pela companhia aérea.“Depois queriam que eu pagasse a estadia, então, saímos do hotel e, agora, estamos no começo da segunda noite”, relatou a idosa, conforme registrado em vídeo.Desde a quarta-feira (20/8), ela e o filho, por falta de opção e amparo, passaram duas noites dormindo em bancos, no terminal 3. Ambos se alimentaram graças a ajuda de passageiros e funcionários, sensibilizados com a condição dos dois.“Eu posso ir para onde eu quiser. Eu tenho dinheiro para ir […] Acho que pagamos mais de US$ 8 mil e nós não podemos embarcar. Nós estamos esperando aqui [Guarulhos] por uma semana”.Médico consularA reportagem teve acesso a um parecer, feito pelo setor de assuntos sociais do Consulado Geral da França em São Paulo. No documento, é afirmado que a Qatar Airways recusou o embarque dos passageiros “devido ao estado de saúde mental” da idosa e “à ausência de um acompanhante”.Foi recomendado para que a francesa retornasse à Bolívia, onde o filho que a abandonou residia.Ele foi procurado pelo consulado, ao qual afirmou que se mudaria para a França, acrescentando “não ter tempo, nem recursos financeiros para cuidar da mãe”.Um médico ligado ao Consulado da França avaliou a mãe e o filho abandonados, afirmando que não poderiam seguir viagem sozinhos.“Ele foi categórico: o estado de saúde dos viajantes não permite que façam a viagem sozinhos para a Rússia. Ele recomenda que sejam acolhidos pelos serviços sociais brasileiros, embora seja necessário encontrar uma solução que evite a separação da mãe e do filho, devido à deficiência deste último”, diz trecho do documento.O Metrópoles apurou com funcionários, em condição de sigilo, que os serviços sociais da Prefeitura de Guarulhos foram procurados, para ajudar os franceses, o que teria sido recusado.No aeroporto há um Posto Humanizado da Prefeitura, do qual nenhum funcionário de deslocou para avaliar a situação de mãe e filho abandonados, ainda segundo as denúncias. Ambos foram levados até o posto, somente nessa sexta-feira, por funcionários do aeroporto. Leia também São Paulo Bando que aluga crianças para pedir esmolas volta a atuar em aeroporto São Paulo Aluguel de criança em aeroporto não é investigado 2 anos após denúncia São Paulo Aeroporto de Guarulhos é reprovado em avaliação de qualidade da Anac São Paulo Prefeito de Guarulhos leva 80 agentes a aeroporto para cobrar impostos O que diz a Prefeitura de GuarulhosA Prefeitura de Guarulhos afirmou que foi notificada pelo Hotel Fast Sleep, que fica no aeroporto, sobre a situação de possível abandono de incapaz da idosa e do homem com Down.Em nota, afirmou ao Metrópoles que a Emirates, companhia aérea responsável pelo transporte da família, custeou dois dias de hospedagem, após os quais “não quis mais se comprometer de continuar os abrigando”, ressaltando os problemas de saúde da francesa.“Por sua vez, a Prefeitura de Guarulhos está e esteve sempre presente e atuante, dialogando com todas as partes, como a Gru Airport e o Consulado da França, fazendo o seu papel humanitário. E estará acompanhando esse caso até o final. Em momento algum deixou ou vai deixar essa família desamparada”.O que diz a GRU AirportA concessionária que administra o aeroporto de Guarulhos afirmou que, assim que foi notificada sobre a situação de mãe e filho abandonados, “acionou os órgãos públicos competentes”.“Eles foram encaminhados para o Posto Humanizado da Prefeitura de Guarulhos e, posteriormente, para o Hospital Geral de Guarulhos”. A GRU disse ainda que ofereceu “todo o suporte” à passageira e ao filho.