Requerimentos protocolados no âmbito da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) pedem a quebra de sigilo telemático e o compartilhamentos de dados financeiros de José Carlos Oliveira, ex-ministro da Previdência durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).Os requerimentos foram feitos pelo senador Izalci Lucas (PL-DF), que desde a abertura da Comissão, na manhã de quarta-feira (20/8), já vem protocolando centenas de pedidos para o colegiado envolvendo os citados nas investigações da farra do INSS.Além da solicitação de um Relatório de Inteligência Financeira (RIF) ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o senador também quer a quebra de sigilo telemático institucional das atividades realizadas entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022, quando ocupou cargos públicos.O parlamentar diz que o INSS e o Ministério da Previdência devem ser oficiados para que forneçam todo o conteúdo relativo às contas de e-mail institucional de titularidade de José Carlos.“Deve ser encaminhada cópia integral de todas as mensagens enviadas, recebidas ou armazenadas, incluídas àquelas em rascunhos e lixeira, com todos os seus respectivos anexos, em formato e conteúdo originalmente salvos pelo usuário, assim como os conteúdos multimídias (fotos, vídeos, áudios, documentos)”, afirma.Os requerimentos do senador, contudo, ainda precisam passar pela aprovação do colegiado para valer.No documento, o senador argumenta que as informações a respeito de José Carlos são relevantes, uma vez que ele foi presidente do Instituto Nacional do Seguro Social e também comandou a pasta da Previdência em período “nevrálgico” do esquema.Ele também cita supostas transações suspeitas de José Carlos que foram expostas na investigação.“A investigação revelou uma triangulação financeira absolutamente atípica, na qual o ex-presidente mantinha sociedade com um auxiliar administrativo de baixa renda, que, por sua vez, recebia valores de um assessor direto da presidência da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer)”, afirma o senador.Como mostrou a coluna, José Carlos é um dos citados pela Polícia Federal (PF) nos documentos da operação Sem Desconto, deflagrada no final de abril. A apuração aponta para transações suspeitas do ex-ministro de Bolsonaro relacionadas ao assessor de uma das entidades suspeitas de descontos indevidos.Segundo a PF, Oliveira atualmente mudou o nome para Ahmed Mohamad Oliveira Andrade.Prédio do INSS em BrasíliaA PF cita as transações ao analisar movimentações financeiras suspeitas de integrantes da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), uma das entidades investigadas por descontos indevidos dos aposentados.Os dados foram enviados à PF pelo Coaf. Ao analisar transações de Cícero Marcelino, assessor de Carlos Ferreira Lopes, presidente da Conafer, a PF cita o ex-ministro de Bolsonaro.Cícero Marcelino é apontado como possível operador da Conafer e aparece em transações suspeitas com José Laudenor, um auxiliar administrativo com renda de R$ 1,5 mil. Laudenor, por sua vez, aparece como sócio de José Carlos Oliveira em uma empresa.Em outra empresa, a Fayard Organização e Serviços, José Laudenor é o atual sócio, mas até junho de 2022 José Carlos Oliveira também aparecia na sociedade.“Tal empresa se trata de uma Pessoa Exposta Politicamente (PEP) relacionada em razão da PEP principal José Carlos Oliveira (e que teve o nome alterado para Ahmed Mohamad), que fez parte do quadro societário até junho de 2022; destaca-se que o investigado também foi presidente do INSS entre e Ministro do Trabalho e Previdência”, diz a PF.Outra, a Yamada e Hatheyer Serviços, tem a dupla José Carlos Oliveira e Laudenor como sócios.“Também são sócios da empresa: Yasmin Ahmed Hatheyer Oliveira, filha de Ahmed Mohamad (José Carlos Oliveira), e Edson Akio Yamada, ex-Diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS, setor responsável pela celebração dos ACTs com as entidades associativas”, diz a PF em relatório.ACTs eram os convênios firmados entre as entidades e o INSS para que fossem realizados os descontos nas contas dos aposentados e pensionistas.Com base nos dados enviados pelo Coaf, a PF afirma que José Laudenor “manteve vínculos financeiros com Cícero Marcelino (que, por sua vez, operou milhões de reais da Conafer) e também com Ahmed Mohamad (ex-Presidente do INSS e ex-Ministro do Trabalho e Previdência)”.Essas transações, diz a PF, sugerem “a utilização das contas de José Laudenor para movimentar recursos de terceiros e/ou atividades não declaradas.”À coluna, Izalci afirmou que passou grande parte do recesso legislativo no mês passado debruçado sobre o caso da farra do INSS. Em seu gabinete, o senador tem inclusive um quadro mostrando visualmente as ligações entre associações e pessoas investigadas na Sem Desconto.