17% das complicações após procedimentos estéticos têm sequelas permanentes

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Um estudo brasileiro revelou que existe um alto número de complicações de saúde após procedimentos estéticos realizados com profissionais não médicos. O trabalho, publicado em julho no periódico Dermatologic Surgery, revelou que 17% das complicações tratadas por médicos resultam em sequelas permanentes.O Brasil é o segundo país que mais realiza procedimentos estéticos no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, de acordo com relatório da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). No entanto, a alta demanda, somada à falta de regulamentação para a prática, resulta em uma maior quantidade de profissionais não médicos realizando tais procedimentos. Leia Mais Cirurgia para aumentar altura existe, mas é extremamente dolorosa; entenda Reversão de procedimentos estéticos ganha força, mas nem sempre é possível Brasil é o país que mais realiza cirurgia plástica no mundo, diz relatório “A lei do ato médico tem uma série de brechas pelas quais os conselhos conseguem criar observações que possibilitam que esses profissionais realizem procedimentos estéticos. E até pessoas sem nenhum tipo de formação na área da saúde têm começado a fazer procedimentos invasivos médicos. Não há um órgão regulatório que fiscalize isso”, diz a dermatologista Elisete Crocco, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia-Regional SP (SBD-RESP) e uma das autoras do estudo.O estudo incluiu respostas de 1.058 médicos, principalmente dermatologistas, infectologistas e cirurgiões plásticos. Desses, 51,6% atendem mais de 100 pacientes por mês, sendo que 29,9% cuidam de mais de 150 pacientes e, cerca de 14 dessas pessoas já se submeteram a procedimentos estéticos com não médicos, representando 12,7% do volume total de pacientes.“Fatores como menor custo, ampla divulgação nas redes sociais e desconhecimento dos riscos técnicos envolvidos contribuem para essa escolha. Muitos pacientes subestimam a complexidade anatômica e não compreendem que, mesmo procedimentos minimamente invasivos, podem ter complicações severas quando realizados por pessoas sem formação médica adequada”, afirma o dermatologista Rafael Azevedo, membro da SBD-RESP.Ainda de acordo com o estudo, quase 90% dos médicos participantes relataram atender até 15 pacientes por mês com complicações decorrentes de procedimentos realizados por não médicos. Considerando todos os entrevistados, a média foi de cinco casos mensais por profissional.Entre os profissionais não médicos mais procurados estão dentistas e biomédicos, mas esteticistas, fisioterapeutas, farmacêuticos, enfermeiros e até pessoas leigas, sem qualquer formação na área de saúde, também realizam esses procedimentos.Complicações mais comuns relacionadas aos procedimentos estéticosSegundo o estudo, as complicações mais comuns associadas a procedimentos estéticos realizados por não médicos estão cicatrizes, inflamações, infecções e necrose.“Entre os diversos procedimentos que representam riscos para o paciente quando realizados incorretamente, podemos destacar os preenchimentos injetáveis, pela possibilidade de cegueira e necroses, e os procedimentos cirúrgicos como os mais arriscados. Mas não só isso. Existe um alto risco de contaminação por micobactéria, que muitas vezes é desconhecido pelos profissionais não médicos. O número de complicações por fios de PDO também é grande. Mas as mais graves são as sequelas cirúrgicas e necroses por preenchimentos, porque são definitivas”, diz Crocco.“Complicações podem acontecer com qualquer profissional, mas a diferença está na capacidade de reconhecer e manejar essas intercorrências com segurança. Em caso de infecção, reação inflamatória grave ou até oclusão vascular, é o médico quem tem preparo e respaldo legal para agir com rapidez e eficácia”, afirma Daniel Cassiano, diretor da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-RESP).“Não se trata de uma disputa entre categorias. A questão não é a disputa entre categorias, mas reconhecer os limites de atuação de cada formação profissional. É justamente essa atuação fora da alçada que coloca em risco a segurança do paciente e leva a casos muitas vezes evitáveis aos consultórios”, completa.Com relação ao manejo das complicações, os médicos entrevistados relataram que foi necessário acompanhamento prolongado, com uma média de sete a oito consultas por ano, podendo chegar a 12 em muitos casos. Múltiplas cirurgias também precisaram ser realizadas, em média quatro por paciente.O manejo depende da natureza e da gravidade da complicação. “Casos leves podem requerer apenas suporte clínico e antibióticos. Já quadros mais severos, como necroses, infecções profundas ou eventos vasculares, exigem intervenções imediatas com hialuronidase, corticosteroides, anticoagulação, internação hospitalar e, em alguns casos, cirurgias reparadoras. Mas o desfecho nem sempre é esteticamente satisfatório, podendo haver sequelas permanentes”, acrescenta Azevedo.Autores defendem regulamentação mais robustaPara os autores do estudo, os dados mostram uma “situação preocupante”, reforçando a necessidade de regras mais claras e melhores orientações aos pacientes, além de uma regulamentação mais robusta sobre o assunto.“Nós precisamos de um órgão regulatório que faça essa mediação entre os conselhos de classe, definindo e fiscalizando, de acordo com a formação de cada especialidade, o que aquele profissional é capaz e tem o direito de fazer depois que se forma”, afirma Crocco.Até que isso aconteça, os especialistas recomendam que os pacientes adotem cuidados adicionais na hora de escolher o local para realizar o procedimento.“A ausência de registro no conselho profissional, realização de procedimentos em locais inadequados (como residências ou salões de beleza), ausência de supervisão médica e preços muito abaixo do praticado no mercado são sinais de alerta. O paciente deve sempre verificar se o local possui alvará sanitário e se o profissional é médico, preferencialmente especialista em Dermatologia ou Cirurgia Plástica. A estética segura exige conhecimento profundo em anatomia, farmacologia e fisiopatologia, áreas que fazem parte da formação médica”, finaliza Azevedo.Cirurgião alerta sobre limites éticos e físicos em procedimentos estéticos