Dólar: existe um preço ideal para a moeda americana?

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Todo mundo já ouviu alguém falar que o dólar subiu, caiu ou que está caro demais para viajar, importar produtos ou investir. Parece que a moeda americana tem um poder mágico sobre o bolso dos brasileiros, mexendo desde a etiqueta da calça jeans até o valor de uma viagem para Miami. E nessa montanha-russa que é o câmbio, muita gente se pergunta: será que existe um preço certo para o dólar?Dólar Hoje: Confira a cotação e fechamento diário do dólar comercialEconomistas dizem que não existe um número mágico. O que há é uma tentativa de equilíbrio, ou a chamada de taxa de câmbio de equilíbrio, que indica quanto a moeda americana deveria valer em relação ao real considerando comércio, entrada e saída de capital e inflação. Só que esse valor muda conforme a economia cresce, desacelera ou enfrenta turbulências.Na prática, o preço do dólar é definido pelo mercado. Se há mais gente comprando, ele sobe; se há mais gente vendendo, ele cai. Essa movimentação é influenciada por política monetária, taxas de juros, inflação, fluxo de capitais, eleições e confiança dos investidores, segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.Saiba mais:Variação do dólar: entenda por que a moeda sobe e desce tantoExistem teorias como a paridade do poder de compra, que tentam apontar qual seria o câmbio “justo” no longo prazo, mas raramente esse número aparece de verdade, porque crises internacionais ou movimentos rápidos de grandes fundos mudam a rota da moeda. Outro conceito importante é o “trilema monetário”: nenhum país consegue ter ao mesmo tempo uma taxa de câmbio fixa, política monetária independente e livre circulação de capitais. É preciso abrir mão de uma dessas opções, o que explica por que o dólar nunca tem um valor fixo.O máximo que dá para fazer é estimar um intervalo de referência, levando em conta custos e produtividade da economia brasileira. Algo entre R$ 4,20 e R$ 5,80, explica José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School. Se o dólar ficar abaixo de R$ 4,20, exportadores perdem competitividade; acima de R$ 5,80, produtos importados ficam mais caros, pressionando a inflação, desde matérias-primas e commodities até produtos de alta tecnologia. E esse intervalo não é definitivo: mudanças no Brasil ou no mundo podem alterá-lo rapidamente.Câmbio fixo não foi bom para o BrasilEm 1999, o país viveu um momento de grandes mudanças. Poucos dias depois de assumir o segundo mandato, o presidente Fernando Henrique Cardoso e o time do Banco Central (BC) acabaram com o câmbio fixo, modelo que mantinha o dólar preso a um valor definido. Foi o fim da famosa paridade de R$ 1 para US$ 1, que ajudou a controlar a hiperinflação em 1994.No final dos anos 1990, o câmbio fixo já não funcionava. As contas externas estavam no vermelho, a economia ensaiava recessão e crises cambiais se espalhavam pelos países emergentes. A mudança para o câmbio flutuante era inevitável.Leia também:Como o dólar impacta a economia?Com a nova regra, o real passou a oscilar conforme oferta e demanda, perdendo a previsibilidade que só os regimes fixos davam. Isso trouxe choques ao longo do caminho, mas também uma vantagem: o governo não precisava mais gastar reservas tentando sustentar artificialmente o dólar. A dívida externa deixou de ser um fantasma e o Brasil ganhou fôlego para enfrentar turbulências internacionais.Desde então, o BC acompanha de perto os movimentos do dólar para que o câmbio não saia do controle. O papel da autoridade monetária não é fixar um preço, mas atuar quando a agitação é grande demais. Nessas horas, diz Shahini, o BC oferece liquidez em dólar ou segura a volatilidade, funcionando como uma rede de proteção para o sistema financeiro e para empresas que dependem da moeda. “Cabe ao BC zelar pela estabilidade e pelo funcionamento ordenado do mercado, mas não ditar um valor para a moeda”, afirma.Mas, afinal, o que influencia o dólar?No dia a dia, o dólar é muito mais do que uma moeda para viagens. Ele funciona como um termômetro do humor dos investidores. No curto prazo, quando cresce a chamada aversão ao risco (aquele clima de pânico em que investidores correm para proteger o dinheiro), pode ocorrer a fuga de capital estrangeiro. Isso faz o real perder valor porque menos dólares circulam no país, explica o professor Filho.Os juros nos Estados Unidos também pesam. Se sobem, aplicar dinheiro lá fica mais atrativo, valorizando o dólar. No médio prazo, entra em jogo a diferença entre os juros básicos do Brasil e dos EUA. Quanto maior o diferencial, mais chance de atrair investimentos para cá, especialmente em renda fixa, o que pode segurar o dólar ou fortalecer o real.A situação fiscal brasileira também influencia. Quando o governo mostra avanços em reformas e sinaliza equilíbrio nas contas públicas, investidores se sentem mais confiantes e as apostas futuras no real tendem a ser mais firmes.Veja também:Cotação do dólar: 3 motivos pelos quais você deve acompanharOutro ponto é o fluxo financeiro no curtíssimo prazo. A entrada e saída de investidores estrangeiros, seja na Bolsa ou na renda fixa, muda diretamente a oferta de dólares no mercado. Nesse contexto, entra também o sentimento do mercado: se há medo, os investidores compram dólares como proteção, já que a moeda americana costuma se mover na direção contrária aos ativos de risco locais.No médio prazo, os fundamentos da economia contam ainda mais. A balança de pagamentos, que inclui balança comercial, serviços e rendas como lucros e salários, mostra a capacidade do país de gerar dólares. Para o Brasil, isso depende muito das commodities, como soja, minério de ferro e petróleo. Quando esses produtos estão em alta lá fora, o setor exportador traz mais dólares, ajudando a fortalecer o real.“Quem exporta se beneficia com o dólar mais alto porque recebe mais em reais. Por outro lado, quem importa produtos, como indústria e varejo, sofre com a moeda mais cara”, explica Filho.The post Dólar: existe um preço ideal para a moeda americana? appeared first on InfoMoney.