Na manhã gelada de dezembro em Manhattan, Brian Thompson, presidente executivo da UnitedHealthcare, foi morto a tiro no coração da cidade financeira mais vigiada do mundo. O assassinato, inicialmente descrito como um ‘cisne negro’, revelou-se antes um sinal dos tempos. Em menos de um ano, outros altos responsáveis corporativos viriam a ser alvo de ataques, e a sensação de vulnerabilidade deixou de ser exceção para se tornar rotina.Também o homicídio de Wesley LePatner, executiva da Blackstone, em julho, veio acirrar a preocupação. Dois casos em poucos meses que vieram confirmar um cenário que os especialistas descrevem como inevitável: a escalada da violência dirigida a líderes empresariais.Segundo dados da consultora Equilar, a despesa mediana com segurança pessoal de executivos das 500 maiores empresas cotadas nos Estados Unidos cresceu 16% em 2024, atingindo um recorde de 106.530 dólares anuais por dirigente. Os números incluem vigilância residencial, guardas privados, cibersegurança e serviços mais sofisticados, como transporte aéreo exclusivo. Entre CEOs, o valor mediano dos chamados ‘perks’ de segurança quase duplicou desde 2020, de 40 mil para 78 mil dólares.«Os riscos dispararam desde a pandemia, com as redes sociais a amplificarem ameaças e agora com a inteligência artificial a facilitar ataques digitais e tentativas de intrusão», alerta Ben Joelson, especialista em segurança corporativa do Chertoff Group.Da porta de casa ao helicópteroO reforço vai muito além de alarmes e vigilância discreta. Em Nova Iorque e em Silicon Valley, multiplicam-se os esquemas que envolvem equipas de batedores, carros blindados e, em alguns casos, helicópteros para evitar trajetos previsíveis e minimizar riscos de emboscada.Empresas de segurança privada oferecem pacotes que incluem análises de risco permanentes, rotas alternativas para deslocações urbanas, treino de familiares e até escoltas armadas em jatos executivos. «Hoje, muitas multinacionais organizam verdadeiras operações militares para garantir que o CEO chega em segurança de casa para o escritório», explica Glen Kucera, presidente da Allied Universal.O exemplo brasileiroNo Brasil, onde o sequestro e a violência urbana sempre foram ameaças concretas, os executivos de grandes grupos já circulam com este tipo de aparato há anos. São comuns os comboios de SUVs blindadas com motoristas treinados, escoltas armadas em motociclos e até o uso de helicópteros privados em cidades como São Paulo, onde o trânsito denso também se torna um fator de risco.Empresas como Itaú, Vale e Petrobras contratam serviços que combinam tecnologia de rastreamento, monitorização em tempo real e logística aérea. Só na capital paulista, o transporte executivo por helicóptero tornou-se uma indústria milionária — com heliportos instalados em edifícios corporativos e uma malha aérea privada que rivaliza com a de Nova Iorque.Tendência globalEspecialistas dizem que o movimento é imparável. A instabilidade geopolítica, os ataques cibernéticos e o escrutínio público sem precedentes sobre quem ocupa cargos de topo tornam os executivos alvos cada vez mais vulneráveis.«A aceitação social da violência como resposta a frustrações ou desigualdades está a crescer. Isso mudou o cálculo das empresas: já não se trata de luxo ou privilégio, mas de mitigação de risco», resume Matthew Dumpert, da consultora Kroll.A tendência, antes vista como um exagero do mundo financeiro norte-americano ou uma necessidade típica do Brasil, está a espalhar-se pela Europa. Grandes grupos industriais e tecnológicos, pressionados por acionistas e pela opinião pública, começam a investir em planos de segurança para os seus líderes.Num mundo onde a visibilidade pode ser ameaça, a proteção dos executivos tornou-se um negócio em plena expansão — e, para muitos, a única forma de garantir que as decisões de topo não são interrompidas por uma bala ou por um sequestro.Este artigo é uma extensão de outro da Reuters.O conteúdo Segurança dos CEOs torna-se um dos maiores custos invisíveis de Wall Street aparece primeiro em Revista Líder.