O ciclo de cortes de juros no Brasil tem data para começar, segundo boa parte do mercado: início de 2026. E para a bolsa de valores, essa expectativa é como ouvir o sinal de largada para alta. O histórico dos últimos 20 anos mostra que o Ibovespa subiu tanto antes da tesourada como após o afrouxamento monetário, criando uma janela de oportunidade para investidores.É o que revela um estudo feito por Bruna Sene, analista de renda variável da Rico, a pedido do InfoMoney. O material, que analisou os cinco últimos ciclos de queda de juros no Brasil, também mapeou quais setores tiveram os melhores e piores desempenhos nesse cenário.“Os dados mostram que o mercado costuma antecipar os ciclos de queda da Selic, com os maiores retornos ocorrendo antes do primeiro corte. Isso significa que esperar o início oficial do ciclo pode significar perder parte relevante da valorização”, alertou a especialista.Leia também: Bolsa vive “maior assimetria da história”, diz gestora; entenda a tese da ApexHistórico de ciclosNo dia 15 de setembro de 2005, por exemplo, o Copom fez um corte de 0,25% após 17 meses de alta, derrubando a Selic para 19,75%. Nos 12 meses antes da decisão, o Ibovespa havia acumulado alta de 31,4%, e nos seis meses antes, uma valorização de 6,4%. Após o corte, a trajetória positiva continuou, com ganhos de 27,8% em apenas seis meses e de 23,1% em 12 meses.“O ciclo de 2005 a 2008 foi longo e profundo, com a Selic caindo de 19,75% para 11,25% em cerca de dois anos e meio. Essa queda consistente deu suporte a um rali amplo do Ibovespa, que se espalhou também pelos setores mais sensíveis ao crédito”, lembrou Bruna.O movimento também se repetiu em 2016, quando a bolsa subiu 35,7% no ano anterior ao início do ciclo de queda dos juros e 20,7% nos seis meses antes. No período seguinte, entregou mais 19,6% em 12 meses, embora os seis meses posteriores tenham sido de estabilidade, com leve alta de 0,5%. “O ciclo iniciado em 2016 foi o mais longo e profundo da história recente: de 14,25% até 2% em mais de quatro anos. Com inflação controlada e ambiente de recuperação, esse foi o ciclo em que a queda de juros teve maior impacto positivo e duradouro sobre a Bolsa”, disse Bruna. Em 2023, último recorte do estudo, o padrão voltou a se confirmar: alta de 16,2% nos 12 meses anteriores e de 11,1% nos seis meses antes, seguida por um desempenho mais moderado — 4,3% em 12 meses e 5,6% em seis meses.Desempenho do Ibovespa antes: Data Corte12 meses antes6 meses antes15/09/200531,43%6,43%22/01/2009-30,13%-33,75%01/09/2011-13,35%-14,55%20/10/201635,75%20,66%03/08/202316,20%11,11%Fonte: Nelogica e RicoDesempenho do Ibovespa depois: Data Corte12 meses depois6 meses depois15/09/200523,17%27,84%22/01/200974,75%40,48%01/09/2011-1,82%13,49%20/10/201619,66%0,50%03/08/20234,37%5,65%Fonte: Nelogica e RicoHá, porém, exceções. Em 2009, no auge da crise financeira global, o Ibovespa caiu 30,1% nos 12 meses anteriores e mais 33,7% nos seis meses antes do corte. Depois, reagiu com força: alta de 74,7% em 12 meses e 40,5% em seis meses. Já em 2011 ocorreu o contrário: a bolsa caiu 13,3% no ano anterior e 14,6% nos seis meses antes, e não encontrou fôlego mesmo após a decisão, acumulando perdas de 1,8% em 12 meses – embora tenha conseguido subir 13,5% nos seis meses seguintes.“É importante destacar que os cortes de juros não atuam isoladamente sobre os preços dos ativos. Em 2009, por exemplo, o ciclo de cortes começou após a crise financeira global de 2008. Nesse caso, os retornos negativos antes do corte refletem a forte volatilidade e aversão ao risco do período, enquanto os retornos positivos após o início do ciclo foram impulsionados pela recuperação dos mercados globais”, disse Bruna.Cotação do Ibovespa versus Taxa Selic MetaFonte: BCB, Nelogica e RicoLeia também: Bolsa não é só Ibovespa; conheça outros índices e saiba como investirSetor up, setores downNo ciclo de 2005, o otimismo com o crescimento impulsionou commodities, bancos e setores domésticos, segundo o estudo. Nos 12 meses anteriores ao corte, commodities e bancos registraram perfomance positiva. Nos 6 meses anteriores, o destaque passou para setores domésticos como varejo e construção, “beneficiados pela perspectiva de crédito mais barato”, disse Bruna. Após o corte, os ganhos se consolidaram em materiais e financeiro, enquanto setores mais defensivos tiveram desempenho modesto. Nos 6 meses seguintes, houve rotação para setores de consumo.O ciclo de 2009 foi marcado por forte queda antes do corte por causa da crise financeira global de 2008, de acordo com o estudo. Nos 12 e 6 meses anteriores ao corte, praticamente todos os setores sofreram, com bancos e materiais entre os mais afetados pela crise global. Após o corte, houve uma recuperação expressiva, liderada por materiais, construção e varejo, impulsionados pela volta do crédito. Nos 6 meses seguintes, quase todos os setores subiram, “caracterizando um ‘rali de alívio’ global”, disse Bruna.Em 2011, a desaceleração econômica prejudicou setores cíclicos, e a recuperação foi tímida, mostra o estudo. Nos 12 meses anteriores, varejo e imobiliário recuaram. Nos 6 meses anteriores, a queda se espalhou para bancos e consumo. Após o corte, utilities e setores defensivos sustentaram parte da performance, enquanto os cíclicos continuaram em queda. Nos 6 meses seguintes, houve leve recuperação, mas sem grandes destaques.Nos 12 meses anteriores antes do ciclo de 2016, utilities, bancos e imobiliário subiram, impulsionada pela melhora política e pela virada na confiança, segundo o estudo. Nos 6 meses anteriores, as small caps e setores cíclicos domésticos como consumo e construção engataram um rali. Após o corte, materiais e small caps lideraram, enquanto utilities ficaram para trás. Nos 6 meses seguintes, os ganhos continuaram em infraestrutura e construção, mas de forma mais moderada. Nos 12 meses anteriores ao ciclo de 2023, imobiliário e bancos lideraram, enquanto setores de consumo ficaram mais fracos. Nos 6 meses anteriores, o destaque foi para imobiliário e small caps. Após o corte, apenas utilities entregaram retorno positivo, enquanto setores cíclicos domésticos como consumo, construção e small caps registraram quedas. Nos 6 meses seguintes, o padrão se manteve, com utilities sustentando e os cíclicos pressionados por questões fiscais e juros globais, de acordo com o estudo.E em 2025?Em 2025, o Ibovespa já acumula alta de 11%, aos 134.265 pontos, refletindo a precificação antecipada da queda da Selic. Para Bruno Roccio, assessor da Raro Investimentos, parte do movimento já está no preço, mas ainda há espaço para ganhos adicionais caso o ciclo seja consistente e acompanhado de maior estabilidade fiscal.“Acredito que parte desse movimento de queda da Selic já pode estar precificada nessa alta, mas é claro que se o ciclo de cortes for consistente e se fato for acompanhado por um cenário fiscal um pouco mais estável, a gente tem espaço para ganhos adicionais, especialmente naqueles setores que são mais sensíveis a juros”, disse. Leia também: Bolsa cai com Jackson Hole e impasse Brasil-EUA no radarVale investir agora?Segundo Bruna, esperar o início oficial do ciclo pode significar perder parte relevante da valorização. “Para quem tem perfil compatível com renda variável e visão de médio a longo prazo, entrar na bolsa agora pode ser uma estratégia inteligente”, falou. Mas manter uma carteira diversificada é essencial, falou. “A diversificação é importante porque outros fatores também colaboram para o desempenho de ativos, além do ciclo de juros”.Roccio falou que o mais importante é realmente investir de acordo com o seu perfil e, se possível fazer aportes constantes, guardar dinheiro, investir, tentar manter estratégia ao longo dos anos. “Investimento não é corrida de 100 metros, é maratona. Vamos atravessar ciclos positivos e negativos, e a disciplina nos aportes faz toda a diferença”, diz Roccio.The post Bolsa sobe antes e depois da queda da Selic. Como aproveitar? Veja setores que bombam appeared first on InfoMoney.