A necessidade de incluir e alfabetizar crianças que chegavam à escola com dificuldades de leitura e com diferentes necessidades educativas motivou a criação de um projeto que usa o jornal escolar como ferramenta pedagógica. Assim surgiu o projeto Jornal Escolar como recurso pedagógico inclusivo na alfabetização e letramento, desenvolvido na Escola Municipal Pequeno Jornaleiro e coordenado pela professora Francislaine Cavichini de Souza, com apoio do programa Mais Ciência na Escola da Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia (Seduct). A primeira edição do jornal, batizada de O Jornaleirinho, está prevista para circulação impressa e on-line em outubro.A iniciativa surgiu do encontro entre a formação em Jornalismo da professora e sua prática docente. “Sempre tive um sonho de fazer um jornal escolar. Aprendi muito com o Jornalismo e queria levar esse aprendizado aos alunos”, conta Francislaine, lembrando que o projeto nasceu também da observação de uma turma do 2º ano na qual muitos estudantes ainda não sabiam ler e havia crianças com laudos de TEA, TDAH e deficiência intelectual.O objetivo central do projeto é alfabetizar e letrar, ao mesmo tempo em que se promove a socialização e a oralidade dos alunos, com atenção especial à inclusão de crianças com necessidades educacionais específicas. A professora explica que todas as atividades foram alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e organizadas de forma a trabalhar a leitura, pesquisa, interpretação, escrita e oralidade por meio do próprio processo de produção jornalística.Na prática, a sala de aula foi transformada em redação, com editorias para pautas, fotografia, ilustrações, redação e edição. Os estudantes foram distribuídos conforme interesses e habilidades, e em todas as editorias há participação de alunos neurodivergentes, o que reforça a proposta inclusiva. Houve pesquisa de opinião com a comunidade escolar para definir temas e até votação para escolher o slogan “Pequenos repórteres, grandes descobertas”.As atividades contemplam desde noções básicas de jornalismo até reportagens e entrevistas dentro da escola. Equipados com crachás e dois celulares sem internet para fotos e gravações, os alunos realizaram entrevistas — a principal delas com a professora da Sala de Recursos — e produziram títulos, legendas e capas de maneira colaborativa. A capa da primeira edição é uma ilustração da aluna Rebeca Anastácio Procópio.Os resultados já são visíveis no cotidiano escolar. “O protagonismo oferecido no jornal escolar tem feito com que esses alunos se sintam motivados e capazes. Grande parte já aprendeu a ler”, relata Francislaine, que destaca também o avanço na fala e na socialização de um aluno com autismo e a adaptação positiva dos demais estudantes neurodivergentes às tarefas propostas.A participação da escola foi decisiva, uma vez que direção, professores e famílias se engajaram nas entrevistas e nas pesquisas. Os familiares participaram ativamente da enquete sobre os temas a serem abordados. “A comunidade escolar foi fantástica. Com paciência e apoio, os familiares demonstram grande satisfação com o desempenho dos filhos”, comenta a professora, ressaltando o papel dos bolsistas e da equipe como articuladores desse processo.Para Carla Salles, coordenadora do Mais Ciência na Escola, projetos como O Jornaleirinho exemplificam como a aproximação entre ciência, metodologia escolar e prática comunitária gera resultados concretos. “O programa possibilita que ideias criativas encontrem suporte técnico e bolsas para efetivação; ver professores transformarem a sala em laboratório de aprendizagem é a prova de que investir em projetos escolares amplia oportunidades educativas e fortalece a inclusão”, afirma Carla, que vê no jornal escolar um modelo replicável em outras turmas e unidades.