O número de autorizações emitidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para importar canabidiol no estado de São Paulo cresceu 13% nos sete primeiros meses de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior.Entre janeiro e julho de 2024, a Anvisa forneceu 32.841 permissões para São Paulo. Neste ano, no mesmo período, o número de autorizações subiu para 37.309. O total representa 34% de todas as concessões emitidas no Brasil nos primeiros sete meses deste ano.Desde maio do ano passado, é possível acessar remédios à base de cannabis na rede pública de saúde paulista, após a promulgação de uma lei estadual.O aumento registrado em 2025, no entanto, ocorre no contexto de ampliação do acesso ao canabidiol no Sistema Único de Saúde (SUS) paulistano, promovido pela Prefeitura de São Paulo.Acesso a canabidiol é ampliado na cidade de São PauloA gestão Ricardo Nunes (MDB) anunciou, no fim do mês passado, que vai ampliar o acesso a medicamentos com canabidiol na rede pública de saúde da capital. Os produtos estarão disponíveis em serviços especializados da rede municipal, facilitando a aquisição para pacientes que, até então, precisavam recorrer à Justiça para obter o tratamento.A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que estruturou um processo de oferta dos medicamentos. Segundo a pasta, a prescrição será realizada exclusivamente por médicos legalmente habilitados e capacitados para o uso da cannabis medicinal, com base em avaliação clínica individual. Os profissionais da rede municipal estão sendo capacitados para prescrever o tratamento.“Mudança cultural”Para Rafael Moraes de Albuquerque Pessoa, cirurgião geral e diretor médico da Cannect, o aumento de autorizações concedidas pela Anvisa reflete não apenas a ampliação de políticas públicas, como a promovida pela Prefeitura de São Paulo, mas também uma mudança cultural.“Médicos e pacientes estão mais informados e seguros em considerar os produtos à base de cannabis como parte do arsenal terapêutico. Isso não significa necessariamente uma substituição dos tratamentos convencionais, mas sim a possibilidade de oferecer ainda mais opções quando as já disponíveis não trazem resposta adequada ou causam efeitos adversos relevantes”, disse.Onde encontrar medicamentos com canabidiolOs medicamentos estarão disponíveis em farmácias municipais de referência, onde serão oferecidas cinco apresentações orais de canabidiol: Full Spectrum 200mg/ml e 100mg/ml (com até 0,2% THC); Broad Spectrum 200mg/ml, 100mg/ml e 50mg/ml (isentas de THC).O paciente deve apresentar a prescrição médica, notificação de receita B1, cartão SUS ou CPF e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).A relação de farmácias onde é possível encontrar tratamentos à base de canabidiol pode ser consultada na plataforma Remédio na Hora.Veja quais doenças têm coberturaDe acordo com a prefeitura, o canabidiol será destinado inicialmente como alternativa de tratamento adjuvante – isto é, somado a um tratamento base – a pacientes com quadros graves e/ou refratários. Leia também Saúde Tratamento com canabidiol chega ao SUS em SP. Quem pode pedir e como? São Paulo Prefeitura de SP amplia acesso a canabidiol no SUS. Veja cobertura São Paulo Unesp abre inscrições para vestibular com 5.800 vagas em 24 cidades São Paulo PM publica edital de concurso com 2 mil vagas para soldado em SP A terapia abrange diversas condições clínicas listadas por Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), entre elas: epilepsias, dores crônicas, doenças neurodegenerativas, transtorno do espectro autista e algumas patologias reumatológicas.Um grupo específico de doenças será coberto, inicialmente, com avaliação individual de cada caso, considerando a condição clínica do paciente, nos casos mais graves e/ou refratários que não respondem aos tratamentos usuais.Segundo a SMS, 31 doenças terão cobertura de medicamentos com canabidiol. São elas:F32 – Episódios depressivosF33 – Transtorno depressivo recorrenteF41 – Outros transtornos ansiososF51 – Transtornos não-orgânicos do sono devidos a fatores emocionaisF84 – Transtornos globais do desenvolvimentoG10 – Doença de HuntingtonG20 – Doença de ParkinsonG30 – Doença de AlzheimerG35 – Esclerose múltiplaG40.4 – Outras epilepsias e síndromes epilépticas generalizadas / Síndrome de Lennox-GastautG40.8 – Outras epilepsiasG40.9 – Epilepsia não especificadaG47 – Distúrbios do sonoG56 – Mononeuropatias dos membros superioresG57 – Mononeuropatias dos membros inferioresG58 – Outras mononeuropatiasG59 – Mononeuropatias em doenças classificadas em outra parteG60 – Neuropatia hereditária e idiopáticaG61 – Polineuropatia inflamatóriaG62 – Outras polineuropatiasG63 – Polineuropatia em doenças classificadas em outra parteM06 – Outras artrites reumatóidesM06.9 – Artrite reumatóideM13 – Outras artritesM13.8 – Outras artrites especificadasM13.9 – Artrite não especificadaM19 – Outras artrosesM79.7 – FibromialgiaQ85.1 – Esclerose tuberosaR52.2 – Outra dor crônicaT45.1 + R11.2 – Intoxicação por drogas antineoplásicas e imunossupressoras (T45.1) que resultou em náusea e vômito não especificado (R11.2).Conforme a Prefeitura de São Paulo, as orientações da SMS seguem a legislação vigente e a regulamentação da Anvisa.“É importante ressaltar que os efeitos variam conforme cada condição, paciente e formulação usada, e que é indispensável uma avaliação médica qualificada”, destaca Pessoa.Segundo o cirurgião, a resposta clínica com o tratamento à base de cannabis pode demorar algumas semanas, e alguns efeitos adversos podem ocorrer, como: sonolência, diarreia e alterações de apetite. Ele destaca ainda que existem existem lacunas de evidência robusta em algumas indicações, o que exige cautela e acompanhamento médico contínuo.Por outro lado, já ficou comprovado que o canabidiol pode oferecer resposta em pacientes que não apresentaram melhora com tratamentos convencionais. O perfil de segurança também se mostra, geralmente, como favorável, “com menos risco de dependência em comparação a opioides ou benzodiazepínicos”, disse o médico.Além disso, o canabidiol tem o potencial de reduzir o uso concomitante de outras medicações.Por fim, Pessoa acrescenta que o Brasil tem avançado de forma consistente em regulação e acesso. “Hoje existem diferentes vias: importação pela Anvisa, compra em farmácias nacionais e, em casos específicos, acesso via SUS e associações de pacientes”, afirmou.