Foto: Geisa PratesAos 91 anos, Osvaldo de Oliveira Bonfim é uma verdadeira memória viva de Lavínia. Apesar da idade e das limitações, vive sempre alegre, cercado pelas filhas, genros, netos e a nova integrante da família: uma bisnetinha. Com lucidez admirável, segue sua rotina, caminha todas as manhãs e se informa pelo tradicional jornal impresso, resistindo às modernidades digitais. Nascido em Mirassol, em 22 de fevereiro de 1934, Osvaldo chegou a Lavínia aos cinco anos, em 1939. Filho de Alcebíades Almeida Bomfim e Jardelina Alta de Oliveira, cresceu em uma cidade ainda de ruas de terra, charretes no lugar de carros e uma pequena igrejinha onde hoje está a cozinha piloto. Foi açougueiro, agricultor e dono de bar, sempre em contato direto com as pessoas, o que segundo ele, lhe fazia muito bem. Ao jornal AGORA NA REGIÃO, ele compartilha lembranças de uma Lavínia que poucos conheceram e fala sobre sua trajetória de trabalho e vida.Como foi sua infância em Lavínia?Minha infância foi muito boa, eu guardo lembranças felizes. Só que era bem diferente do que se vê hoje. Naquele tempo, as crianças não tinham essa liberdade de apenas brincar e estudar. A gente tinha que trabalhar cedo para ajudar os pais, porque a vida era dura. Mesmo assim, eu me considero privilegiado, porque cresci solto pelas ruas de terra, brincando com os amigos, vendo os cavalos, as charretes… era uma infância simples, mas cheia de riqueza que dinheiro nenhum compra.Como era Lavínia quando chegou em 1939?Era uma cidadezinha muito pequena, com ruas todas de terra. A imagem que nunca sai da minha cabeça é a da caixa d’água na entrada da cidade e da igrejinha, que ficava onde hoje está a cozinha piloto. Carros eram raridade, o que dominava mesmo eram as charretes. Elas funcionavam até como táxi. E na época do café, os charreteiros trabalhavam de sol a sol, transportando o produto. Era um movimento bonito de ver, o poeirão levantava.Onde o senhor estudou?A primeira escola de Lavínia ficava no final da rua Araribá, que hoje chamam de Mário Covas. Era uma casinha simples de tábuas, mas era o que a gente tinha. Estudei lá. Me lembro bem do professor Aldo, que marcou muito minha infância. Faz mais de 80 anos isso, mas o rosto dele e o jeito de ensinar ainda estão frescos na minha memória.Conseguiu concluir os estudos?Infelizmente não. Antes de terminar o ensino fundamental precisei deixar a escola. Era obrigação ajudar na roça, porque a família dependia do trabalho de todos. Era assim com quase todo mundo naquela época, a necessidade vinha na frente do caderno.Aos 91 anos, Osvaldo caminha todas as manhãs pelas ruas de Lavínia. Foto: Geisa PratesQuando começou a trabalhar no comércio?Foi em 1954, quando eu tinha 20 anos. Abri meu primeiro açougue, onde hoje funciona um salão de cabeleireira. Gostava muito porque, além de trabalhar, eu conversava com as pessoas. E era essa parte que eu mais apreciava: ouvir histórias, dar risada, criar amizade com a freguesia. Trabalhar no comércio era mais do que vender carne, era ter contato com a comunidade.Com o que mais o senhor trabalhou?Depois eu voltei para a roça, arrendando terras para plantar amendoim. Depois tive a oportunidade de comprar o Bar do Sato, que ficava onde hoje é a ótica. Fiquei 12 anos com aquele bar, que acabou virando ponto de encontro de muita gente da cidade. Eu tinha minhas meninas pequenas na época, e o bar era ao mesmo tempo trabalho e sustento, mas também um espaço de convivência. Depois eu plantei cebola por um tempo e mais tarde voltei ao ramo que eu mais gostava, o de carnes, abrindo novamente uma Casa de Carnes, dessa vez em sociedade com meu amigo Abílio. Foi mais uma fase boa da minha vida, de muito esforço, mas também de muitas amizades construídas atrás do balcão.Quando o senhor decidiu parar de trabalhar?Em 1999, já com bastante estrada percorrida, resolvi que era hora de descansar. Me aposentei e deixei a Casa de Carnes somente para o Abílio. Mas levei comigo as lembranças, os rostos, os cumprimentos e as histórias de tantas famílias que atendi ao longo da vida. Essas memórias são meu maior patrimônio.Como é sua rotina hoje aos 92 anos?Hoje levo uma vida tranquila. Moro sozinho, mas nunca solitário, porque tenho minhas filhas que estão sempre por perto, meus cachorros que me fazem companhia e sempre que posso recebo visitas de amigos e vou ao comércio. Todas as manhãs, mesmo com minhas limitações, faço minha caminhada, que me dá ânimo e me mantém ativo. E continuo acompanhando as notícias, sempre pelo jornal impresso. Eu gosto de folhear as páginas, sentir o cheirinho do papel. É um hábito que me faz bem. O post ‘Trabalhar no comércio era mais que vender, era conversar com as pessoas’, recorda Osvaldo de Oliveira Bonfim apareceu primeiro em AGORA NA REGIÃO.