“As Helenas de Manoel Carlos”, nova temporada da trilogia iniciada com “O Leblon de Manoel Carlos”, estreou recentemente no YouTube da produtora Boa Palavra, dirigida por Júlia Almeida, filha de Manoel Carlos, um dos mais expressivos nomes da teledramaturgia brasileira.Com oito episódios lançados quinzenalmente, às 19h, a série reúne algumas das atrizes que deram vida às protagonistas de Maneco, como Regina Duarte, Vera Fischer, Taís Araújo, Maitê Proença, Júlia Lemmertz e Christiane Torloni.Além de revistarem as próprias trajetórias, elas também dividem com o público os desafios de encarnar uma personagem que transcende gerações a partir de diferentes nuances. Leia Mais "Uma serenata de amor ao Rio", diz filha de Manoel Carlos sobre legado do autor "O Leblon de Manoel Carlos": conexão do autor com bairro inspira documentário Vera Fischer errou em cena de "Laços de Família" com Deborah Secco; entenda “Cada Helena foi escrita para uma determinada atriz. Cada história, trama, foi desenvolvida pensando na atriz. Era um conjunto complexo”, reflete Júlia com exclusividade à CNN.“Elas são marcas registradas do meu pai. É fácil hoje em dia se inspirar no que já foi feito. Se prestarmos atenção, estamos atravessando uma época de remakes, reprises e grandes homenagens, que não deixam de ser releituras do que já foi feito. Todo crédito deve ser dado ao trabalho original do criador oficial, todo processo – que compreende anos de criação – deve ser mostrado, preservado e respeitado para que não seja apenas explorado”, acrescenta.Sobre o processo criativo da produção, a atriz e CEO diz que a mágica ficou por conta da trabalho orgânico. Embora a equipe tivesse um roteiro, diferentemente da primeira temporada, em que esteve em todos os sets, dessa vez ela optou por se preservar e preservar as atrizes, já que a ideia era algo com a estética mais intimista.“Deixei o Paulo Matta, responsável pelas entrevistas, completamente à vontade com elas. Quando o material chegou até mim, liguei para ele e disse: ‘O roteiro caiu. Vamos do zero, apenas com as entrevistas’. Todos me acharam louca, mas fomos construindo um episódio por vez, manualmente e enlouquecendo o editor”, brinca.Júlia Almeida, filha de Manoel Carlos, é CEO da produtora Boa Palavra • Bruno RyferManoel Carlos tinha entendimento do tamanho do impacto do trabalho deleJúlia Almeida Mesmo aposentado das telinhas desde 2014, quando colocou “Em Família” no ar, Maneco – diagnosticado com Parkinson há alguns anos – ainda se destaca a partir de um legado intocável, marcado pela essência e personalidade ímpar.“Ele sempre foi um grande observador, com uma grande intuição e talento. Esse é um combo e tanto. Mas o diferencial foi ter o entendimento do tamanho do impacto que ele poderia fazer com seu trabalho — e ele fez isso para o bem, para tratar de temas importantes que a sociedade na época talvez não estivesse preparada para discutir”, diz.Com mais de sete décadas de carreira, o autor explorou narrativas como a inclusão social e o preconceito relacionados a pessoas com Síndrome de Down, maus-tratos e abuso financeiro contra idosos, bissexualidade, violência doméstica e prostituição.“Ele abriu portas para assuntos espinhosos que um país tão grande e segmentado como o nosso, não tratava. Manoel Carlos foi o abre-alas para pautas que hoje falamos e opinamos abertamente. Foi aplaudido e vaiado por isso, mas esse é o diferencial. Ele expunha os nossos desejos, vaidades, coisas boas e ruins de todo ser humano. No horário nobre e sem medo”, reflete.Meu papel é preservar o universo do criador, diz Júlia AlmeidaAlém de preservar a memória e a contribuição criativa do patriarca, tanto para os admiradores, quanto para as futuras gerações, o papel de Júlia frente à Boa Palavra também é dialogar e trabalhar com ferramentas tecnológicas e audiovisuais.“Cresci e vi meu pai enterrar três filhos e voltar para a máquina de escrever no esmo dia, criando ‘as Helenas do Leblon’. Por essas e por outras, e por Manoel Carlos ser assim, as Helenas nasciam com força feroz que tinham: existe bagagem – tutano, como diria minha mãe – força de vontade, e não um copy-paste”, conclui.As Helenas de Manoel Carlos — Capítulo 1 | Regina DuarteVera Fischer sobre viver Helena de Manoel Carlos: “Grande glória”.