Linkin Park solidifica nova fase com show intenso em Curitiba

Wait 5 sec.

Apesar de alguns indicativos em entrevistas de que poderia ocorrer, a volta do Linkin Park, um dos mais importantes nomes da música pesada do atual milênio, não parecia tão provável após o falecimento do icônico vocalista Chester Bennington, em 2017. Porém, em setembro de 2024 a banda voltou aos holofotes em um anúncio que se tornaria um dos mais comentados do rock naquele ano.Emily Armstrong assumiu a vaga de Chester, enquanto Colin Brittain foi recrutado para a bateria, substituindo Rob Bourdon, que preferiu não se envolver com as atividades atuais. Em turnês, há ainda outra mudança: o guitarrista original Brad Delson, agora escalado apenas em estúdio, deu lugar ao membro não oficial Alex Feder.Ainda no ano passado, mais especificamente em novembro, o grupo veio ao Brasil para duas apresentações como parte da turnê do álbum “From Zero” — e logo anunciou um retorno para 2025. A primeira das datas no país foi cumprida na última quarta-feira (5) em Curitiba, para um Estádio Couto Pereira lotado. Após a capital paranaense, tocam em São Paulo (08/11 – Estádio MorumBIS) e Brasília (11/11 – Arena BRB Mané Garrincha).Antes da apresentação, o sistema de som já criava o clima com uma playlist variada — de Redman a Alice in Chains e Rihanna. Uma sinalização do ecletismo que sempre marcou o grupo, principalmente na mistura de elementos eletrônicos, rap e rock pesado.Quando as luzes se apagaram, o público respondeu com intensidade desde os primeiros ruídos da introdução, que levaram de cara a um dos grandes sucessos do grupo. Cantada por Emily junto do multi-instrumentista e liderança criativa Mike Shinoda, “Somewhere I Belong”, do álbum “Meteora” (2003), deu o tom da noite: o entrosamento entre os dois é o novo eixo da banda. O público respondeu de forma imediata, transformando o estádio em um grande coro. Outro clássico, “Crawling”, veio colado e colocou quem ainda estava meio disperso nos eixos.A vantagem de um show do atual Linkin Park é que temos dois momentos distintos e devidamente entrelaçados, sem separação. Existe a celebração da fase com Bennington, que rendeu dois discos de enorme popularidade — o já citado “Meteora” e o debut “Hybrid Theory” (2000) — e outros momentos celebrados nos trabalhos posteriores. E também há a performance das canções do último disco “From Zero” (2024) e sua versão deluxe, mostrando uma banda cheia de energia e entregando riffs e melodias marcantes, além de ótimos refrães, como ficou claro em “Up from the Bottom” e a pancada “The Emptiness Machine”, ambas logo no começo da performance. Mais à frente, “Over Each Other”, com Emily também na guitarra, teve efeito similar e ainda criou uma dobradinha formidável com “What I’ve Done”, do disco “Minutes to Midnight” (2007).O repertório se divide em quatro atos, além do bis. Após a explosão do primeiro bloco, o movimento seguinte foi mais introspectivo. Serviram para acalmar os ânimos canções como “Where’d You Go”, do projeto paralelo de rap de Mike Shinoda, Fort Minor; “Waiting for the End”, do cansativo álbum “A Thousand Suns” (2010); e “Burn it Down”, que foca mais nos elementos eletrônicos e no rap do que no rock.Todavia, o grupo montou o setlist para Curitiba de maneira bastante inteligente. “From the Inside” foi antecipada e para encerrar este bloco, tocaram a enérgica “Given Up” e “One Step Closer”, com a participação de Poppy, cantora que fez a abertura do show e os está acompanhando na turnê pela América do Sul (o show da artista é comentado mais abaixo neste texto).Entre interações com a plateia e momentos de fan service, Shinoda manteve a conexão com a plateia. Chegou a vestir uma camisa do Brasil e cantar junto ao público na grade, em movimentação feita antes do show pelo DJ Joe Hahn neste caso para fotografar os fãs por ali. Dois pedestais na ponta da passarela exibiam bandeiras brasileiras, reforçando a sintonia conosco. Previsível, mas extremamente funcional.O encerramento do set convencional, com os dois blocos finais, veio com a sequência de sucessos que consolidaram o nome do Linkin Park. A extremamente melódica “What I’ve Done” funcionou, justamente por ter momentos marcantes e ser perfeita para cantar junto. Um dos maiores hits, “In the End” evidenciou a dificuldade de substituir a voz de Chester Bennington — compensada pelo coro coletivo da multidão. O auge da participação do público, todavia, ocorreu em “Faint”, com o refrão ecoando por todo o estádio e encerrando a parte regulamentar do show em tom apoteótico.Para o bis, ainda havia espaço para mais três músicas, que mantiveram a energia. Foram elas: “Papercut”, do disco de estreia; a recente “Heavy is the Crown”, que soa como um amálgama da sonoridade característica do grupo; e “Bleed it Out”, com um ritmo próprio para palmas e pulos.Foram quase duas horas de um show que, mesmo tendo altos e baixos, mostrou-se sólido o suficiente para justificar esta nova etapa na carreira. As músicas de “From Zero” mostraram o vigor criativo do Linkin Park, enquanto os clássicos promoveram uma celebração de obras de importância inegável.Repertório — Linkin Park:Act I:Somewhere I BelongCrawlingUp From the BottomNew DivideThe Emptiness MachineAct II:The CatalystBurn It DownCut the BridgeWhere’d You Go (Fort Minor cover)Waiting for the EndFrom the InsideTwo FacedSolo de Joe Hahn (com Colin Brittain)When They Come for Me / Remember the NameGiven UpOne Step Closer (com participação de Poppy)Act III:LostOver Each OtherWhat I’ve DoneAct IV:OverflowNumbStainedIn the EndFaintBis:PapercutHeavy Is the CrownBleed It OutPoppyAbrindo a noite, Poppy apresentou uma proposta curiosa, que não chega a ser novidade mas que ainda causa uma certa estranheza para quem curte o rock de maneira mais ortodoxa. O pop escancarado é somado a riffs pesados de guitarra e vocais rasgados, criando uma fórmula que funciona ao vivo.Ela e banda subiram ao palco às 19h50, para um repertório enxuto, de nove músicas, que foram suficientes para apresentar o trabalho à maioria dos presentes. Ao mesmo tempo, havia fãs, dispersos, por todos os setores, em todo caso.Com vozes distorcidas, limpas e gritos rasgados, “have you had enough?” foi uma boa maneira de deixar claro, logo de cara, os terrenos musicais em que transita. Extremamente eletrônica e caótica, “BLOODMONEY” não causou muito efeito, ao contrário de “V.A.N.”, uma collab com o grupo Bad Omens. Foi o momento de maior empolgação do público, presente em quase sua totalidade no estádio uma hora antes da atração principal.Sem grandes efeitos visuais, Poppy sustentou o espetáculo com atitude e um carisma excêntrico. No palco, usou um pedestal adornado por pedras vermelhas, como fossem rubis, enquanto a banda mostrava entrosamento e peso, especialmente nas passagens mais intensas, que foram justamente as melhores do show. “Scary Mask” trouxe um elemento cênico extra: uma máscara que Poppy segurava enquanto cantava a densa. As partes mais rápidas e o solo de guitarra são os grandes trunfos da faixa.A interação com o público foi constante: em “crystallized” a cantora conseguiu fazer uma parte considerável da plateia pular. Em alguns momentos, como em “Anything Like Me”, usou a passarela central que a levou até quase metade da pista.Antes de “Concrete”, ela chegou a pedir um circle pit, ainda que a música em si soasse mais pop do que o pedido sugeria — há um breakdown no meio, mas a composição em geral é uma interpolação de camadas de música pop extremamente açucaradas. Os versos “Chewy chewy, yummy yummy yummy” — que parecem muito algo que o Babymetal faria — não me deixam mentir. O coro de “Poppy! Poppy!” vindo das arquibancadas, todavia, mostrou que a estratégia musical anárquica funciona para o público mais moderno.O encerramento veio com “N.W.O.”, marcada por uma introdução densa e pulsante, e batidas fortes sustentando os versos, que desaguam em um refrão levemente melancólico e melódico, que gruda fácil na cabeça. Poppy estreou discograficamente com “Poppy.Computer” (2017), disco não lembrado esta noite. O setlist teve foco, obviamente, no álbum “Negative Spaces”, lançado há exato um ano, com quatro faixas, seguido por três de “I Disagree” (2020), além de duas collabs: “Scary Mask”, do EP “Choke”, gravada com o grupo Fever 333, e a supracitada “V.A.N.”.Foi a segunda visita de Poppy ao Brasil. Assim como a atração principal da noite, ela veio no segundo semestre do ano passado, porém, como atração do Knotfest, realizado no Allianz Parque, em São Paulo. Quem é antenado nos novos desdobramentos do rock, provavelmente vai gostar. Para os que se deleitam com as décadas primordiais do estilo, não há nada que os fará mudar de ideia. Mas como entretenimento ao vivo, não tem como negar: é bastante efetivo. Agora é esperar para ver se Poppy também vai acertar no quesito perpetuidade.Repertório — Poppy:have you had enough?BLOODMONEYV.A.N (colab com Bad Omens)the cost of giving upAnything Like MecrystallizedScary MaskConcretenew way outQuer receber novidades sobre música direto em seu WhatsApp? Clique aqui!Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.O post Linkin Park solidifica nova fase com show intenso em Curitiba apareceu primeiro em Igor Miranda.