StartupiVicente Rezende, CMO da RD Station: “A Inteligência Artificial é um braço mecânico que potencializa seu trabalho, não substitui”A inteligência artificial tem feito, cada vez mais, parte da rotina de trabalho dos profissionais de marketing, donos de empresas – e, francamente, todos nós. O CMO da RD Station, Vicente Rezende, tem uma abordagem bem sincera sobre o futuro da IA no marketing: ninguém tem todas as respostas. E quem disser que tem, provavelmente está mentindo. Mas isso não significa que ele não tenha insights valiosos sobre como navegar nesse mundo cada vez mais complexo.Em entrevista ao Startupi durante o RD Summit 2025, Rezende falou sobre construção e engajamento de comunidades, a queda do uso das personas no marketing e porque a personalização importa, a importância dos conteúdos gerados por humanos e como a tecnologia tem evoluído de forma cada vez mais rápida.RD Summit 2025 virou uma comunidade (que já teve até pedido de casamento)De acordo com Vicente, o RD Summit 2025 espera receber cerca de 20 mil pessoas ao longo de três dias. É a décima primeira edição do evento, e ele cresceu tanto que virou parte da vida da comunidade digital brasileira.O executivo explica que o evento não é só mais uma data para os participantes e clientes da RD, mas virou parte do ano e da vida dessas pessoas. Ele destaca um caso marcante, que aconteceu no primeiro dia do RD Summit 2025: um participante que conheceu a namorada no evento, mudou de carreira graças ao evento, viveu toda a jornada profissional e pessoal ao lado dela frequentando a convenção todos os anos — solicitou ajuda da equipe oficial do evento para pedir ela em casamento no palco principal. “Na hora que ele pediu se a gente poderia fazer isso, eu falei: claro, tem que fazer isso acontecer”, contou Vicente. E ela aceitou.Mas o que faz o evento crescer tanto? Para Vicente, a resposta está numa característica única da RD Station: “Tudo que você vê que a RD apresenta de produto e apresenta de metodologia, todos os produtos da RD Station são os mesmos produtos e a mesma metodologia que usamos para desenvolver o próprio negócio. O maior cliente da RD Station é a RD Station.”Em tecnologia, o executivo explica, isso tem um nome: “Eat Your Own Dog Food” — comer a própria ração de cachorro. E Vicente garante: “Essa é a empresa que mais come a sua própria ração de cachorro que eu já vi na vida.”Uma das revelações mais interessantes foi sobre como a RD Station está desenvolvendo suas soluções. “A gente está lançando dezenas de soluções de IA totalmente embarcadas nos nossos produtos, está ficando cada vez mais nativo. Em alguns casos eu não consigo nem te dizer onde começa o produto, onde termina o produto, onde começa essa IA, a IA está embedada dentro do produto em diversas frentes.”Isso significa que, cada vez mais, você não vai usar “uma ferramenta de IA” separadamente. A inteligência artificial vai estar ali, integrada, fazendo parte natural do seu fluxo de trabalho — potencializando o que você já faz, não substituindo.A morte dos playbooks e o mundo que está ficando mais complicadoUma coisa que Vicente deixou clara é que os tempos mudaram. E mudaram rápido. “A gente sai de um vento a favor muito grande na pandemia, pós-pandemia, que agora começa a arrefecer, começa a diminuir um pouco”, explicou.O resultado? Queda de tráfego orgânico, aumento da participação da mídia paga, popularização das LLMs (Large Language Models, tipo ChatGPT), e uma necessidade urgente de repensar estratégias. “Muito tem se falado sobre a morte do playbook. A gente tem que ser menos playbookado, e ser mais flexível”, afirmou.Na prática, para o executivo, trabalhar com pessoas, não apenas personas é a melhor forma de flexibilizar e personalizar . “A gente não pode definir personas e assumir que o comportamento da persona é idêntico para toda a população”, ressaltou Vicente.Para empresas menores, startups e pequenos negócios, isso significa olhar com mais carinho para a base de clientes que já existe. “Trabalhar a base de clientes ganha uma relevância muito grande dentro da estratégia de qualquer negócio, principalmente dentro de um negócio B2B, principalmente dentro de um negócio B2B com recorrência”, pontuou.O cliente precisa entender o potencial completo do produto que ele já usa. “Quanto mais ele usar o seu produto, maior vai ser a retenção, maior vai ser o trabalho de manutenção desse cliente, maior vai ser a longevidade dele contigo ao longo da vida dele.”IA como produto ou como ferramenta?Uma das questões levantadas durante a conversa foi sobre o papel da IA nos negócios: ela continua sendo o produto final, como no caso do ChatGPT e outros chatbots, ou passa cada vez mais a atuar como ferramenta e um “meio” para o desenvolvimento de atividades?Vicente foi categórico: “Acho que ela é o meio do caminho para uma série de coisas.Mas eu acho que tem um caminho muito virtuoso para frente onde a inteligência artificial serve para alavancar seu potencial fazedor. Ela vai ser teu braço mecânico, ela vai ser a extensão do seu cérebro.”O executivo fez uma analogia interessante – nós já temos extensores de cérebro há um bom tempo. “O celular é o lugar onde você não precisa mais guardar telefones na cabeça ou decorar que o 7 de setembro é o Dia da Independência. Acho que a IA vai para esse lugar cada vez mais de aumentar potencial de trabalho e não substituição de trabalho.”E a melhor parte? Ninguém sabe exatamente para onde isso vai. “Quando lançaram o iPhone, ninguém imaginou um Spotify ou um Shazam ou um Waze. Isso não estava no plano. Eu acho que a gente está num momento desse, de grandes apostas, de vários caminhos possíveis. Acho que a única certeza é que ninguém sabe”, afirmou Rezende.A IA é mais revolucionária que a internet?O executivo ressaltou que ainda não existe mensuração do impacto que a IA renderá ao mundo, para ele, no entanto, não há dúvida de que ela é mais revolucionária do que muitas tecnologias que já fazem parte do nosso dia a dia há anos.“A IA é mais do que isso. Talvez mais revolucionário que o Google, propriamente dito. Talvez mais revolucionário que a própria internet.” E explicou por quê: não é só um motor de busca novo, é uma capacidade de aumento de força de trabalho na acepção mais ampla da palavra.“Tem gente muito séria questionando se é necessário que você precise aprender uma segunda língua”, exemplificou. Ele próprio fez questão de separar as coisas: aprender uma nova língua continua sendo uma das melhores ginásticas cerebrais que você pode fazer. Mas a necessidade profissional de dominar outro idioma? Essa pode estar mudando.“Eu vou conseguir fazer uma negociação em mandarim. Hoje eu não consigo fazer uma negociação em mandarim. Eu acho que a gente tá a anos de eu, Vicente, que não faço ideia de como falar mandarim, consiga entrar numa mesa de negociação em mandarim e sair com o negócio fechado.”A diferença está entre o aprendizado em si e a ferramenta aplicada a uma necessidade profissional específica. “Eu seria uma pessoa mais interessante se eu falasse mandarim. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.”O risco da pasteurização e por que o humano ainda faz a diferençaUma preocupação legítima surgiu na conversa: com todo mundo usando IA para criar conteúdo, não vamos cair numa época onde tudo fica igual? Vicente foi honesto: “Ainda não chegamos lá. Estamos numa rampa. Podemos chegar nesse lugar.” Mas ele trouxe um contraponto importante: “O que eu posso dizer é que a gente ainda não chegou lá. Eu acho que a IA já acelerou muito os processos de comunicação para uma série de empresas. E a gente tá tirando resultado disso agora.”E sobre o futuro? “Como é que isso vai ser no futuro, eu não consigo cravar.” Mas uma coisa ele tem certeza: “Eu acho que a IA é um potencializador do seu próprio potencial. Ela é um boost no seu próprio potencial. Ela é um braço mecânico. E nesse sentido, eu tô menos preocupado com essa humanização porque eu acho que o humano vai sempre fazer a diferença no final dessa história aí.”Claro, vão existir operações de comunicação totalmente focadas em IA, assim como hoje já existem operações focadas na repetição, sem muito diferencial criativo-humano. Mas para quem quer se destacar de verdade, o caminho passa por juntar o melhor dos dois mundos.Aproveite e junte-se ao nosso canal no WhatsApp para receber conteúdos exclusivos em primeira mão. Clique aqui para participar. Startupi | Jornalismo para quem lidera inovação!O post Vicente Rezende, CMO da RD Station: “A Inteligência Artificial é um braço mecânico que potencializa seu trabalho, não substitui” aparece primeiro em Startupi e foi escrito por Cecília Ferraz