Acaba de ser lançado oficialmente o (TFFF na sigla em inglês). O anúncio foi feito pelo presidente Lula durante um almoço oficial na Cúpula do Clima, que reúne chefes de Estado de mais de 70 países em Belém. O fundo proposto pelo Brasil busca remunerar países que conservam suas florestas.Ter um financiamento de longo prazo para que os países mantenham suas florestas tropicais nativas conservadas, englobando investimento público e privado, com retorno financeiro garantido aos investidores é o que propõe o TFFF. Segundo a proposta, povos indígenas e comunidades locais podem receber pelo menos 20% dos pagamentos -, garantindo autonomia e continuidade, independentemente de mudanças de governo. Leia também: 1.Marcha Mundial pelo Clima acontece no dia 15 em Belém 2.Com 143 delegações confirmadas, Belém sedia Cúpula do Clima Em discurso, Lula ressaltou que o TFFF não é baseado em doação. “Investimentos soberanos de países desenvolvidos e em desenvolvimento vão alavancar um fundo de capital misto. O portfólio vai se diversificar em ações e títulos. Os lucros gerados serão repartidos entre os países de florestas tropicais e os investidores. Os recursos irão diretamente para os governos nacionais, que poderão garantir programas soberanos de longo prazo”, afirmou. “Um quinto dos recursos poderá ser destinado aos povos indígenas e comunidades locais. Cuidar dos seringueiros, extrativistas, mulheres e povos indígenas, é cuidar das florestas”, completou.Apoio ao TFFFO Brasil estabeleceu uma meta de capitalização de US$ 125 bilhões para o TFFF, sendo cerca de US$ 25 bilhões em recursos públicos. Em setembro, o país já havia anunciado o primeiro investimento ao fundo: 1 bilhão de dólares.Após o anúncio oficial ontem, mais três países se juntaram com investimentos. A Indonésia anunciou US$ 1 bilhão e Noruega e França anunciaram respectivamente US$ 3 bilhões e US$ 500 milhões, ambos estão entre os países investidores que não têm florestas tropicais.O Greenpeace Brasil realizou sobrevoo no sul do Amazonas e no norte de Rondônia para monitorar o desmatamento e queimadas em julho de 2024. | Foto: © Marizilda Cruppe / GreenpeaceNo total, o TFFF já conta com endosso de 53 países. O objetivo agora é garantir, até o fim da COP, compromissos que demonstrem interesse concreto dos países, seja com valores definidos ou com apoio político. As expectativas são altas.Os feitos até o momento foram celebrados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que afirmou já ter alcançado 50% do que era previsto para o fundo até 2026. “Se cada país do G20 aportar o equivalente ao que o Brasil está comprometendo, fechamos a conta. Estou muito animado”, disse em coletiva de imprensa. Com a aprovação da isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais, na última quarta-feira (5/11), o ministro está de vento em popa. Leia também: 1.2024 quebra recordes de perda florestal por incêndios no mundo 2.Floresta tropical mais antiga do mundo é devolvida aos povos originários da Austrália Também em coletiva, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, compartilhou a satisfação da consolidação do fundo. “Queríamos o TFFF operacional já nesta COP. Foi um trabalho intenso e a viabilização dos recursos é uma grata surpresa”, afirmou. “Achávamos que a estrutura para receber aportes não estaria pronta, mas conseguimos, com apoio técnico e do Banco Mundial”, complementou.A ministra ainda ressaltou os ganhos potenciais do ponto de vista ambiental: “reduz emissões, protege modos de vida indígenas e responde à demanda dos países desenvolvidos por mecanismos mistos.”Paisagem do Quilombo Praia Grande, localizado em Iporanga (SP), resume integração das comunidades quilombolas com a floresta, a partir de suas residências e de áreas de cultivo de espécies nativas. Foto: Fellipe Abreu | ISAOutros potenciais investidores incluem Alemanha, Armênia, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, China, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Finlândia, Irlanda, Japão, Mônaco, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suécia, além da União Europeia.Esperança e cautela marcam reação de ambientalistasA reação de organizações ambientais, em geral, também foi positiva. Mesmo salientando que muitos detalhes precisam ser aprimorados, as ONGs reconhecem, sobretudo, a importância de garantir o reconhecimento e aporte financeiro a populações que vivem na e da floresta, sendo considerados os verdadeiros guardiões da natureza.Jennifer Morris, Chief Executive Officer da The Nature Conservancy Global, está confiante no mecanismo apresentado pelo Brasil. “As florestas tropicais estão na linha de frente da luta climática, mas os esforços anteriores para deter seu declínio ficaram aquém. A ambição sem precedentes do TFFF, seu mecanismo inovador e o apoio direto a comunidades indígenas, tradicionais e locais vão mudar esse cenário — garantindo o financiamento necessário para enfrentar esse problema em uma escala significativa”, afirmou. Para Jennifer, Belém pode “conquistar um lugar na história das COPs ao impulsionar os esforços de conservação das florestas por gerações futuras”.Foto: Mariana BassaniPara Mirela Sandrini, diretora executiva do WRI Brasil, o Fundo terá êxito apenas se realmente beneficiar aqueles que mais dependem das florestas para seu sustento. “A sua operação precisa ser à prova de falhas — com supervisão transparente e priorizando a proteção das florestas tropicais intactas, ao mesmo tempo em que envolve genuinamente os Povos Indígenas e as comunidades locais”. Mirela também acredita que o TFFF deve lidar com a degradação, uma vez que “quando as florestas são impactadas pela extração de madeira, mineração ou construção de estradas, proteger uma área apenas desloca a destruição para outra. Sem essa precisão, o fundo corre o risco de se tornar apenas mais uma promessa bem-intencionada, e não um verdadeiro avanço.” Leia também: 1.Estudo comprova que Povos Indígenas e Tradicionais são guardiões das florestas 2.Povos indígenas são os que mais protegem vegetação nativa Para o Greenpeace, o TFFF é um passo importante para acabar com o desmatamento. A organização afirma que a alocação direta obrigatória de ao menos 20% para povos indígenas e comunidades locais “estabelece um precedente importante, inclusive para as negociações de financiamento da COP30, e endereça uma grande lacuna do financiamento ambiental e climático”.O encontro de líderes segue até sexta (7), onde será debatido às metas climáticas e à implementação dos compromissos assumidos. A COP30 tem início no próximo dia 10 e segue até 21 de novembro.The post Brasil lança fundo para remunerar quem preserva florestas appeared first on CicloVivo.