Longe da mira de Trump, Argentina desperta interesse de Brasil e China por M&As

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A aceleração de fusões e aquisições na Argentina pode ser o sinal para um novo ciclo de negócios envolvendo empresas brasileiras e chinesas. Após a imposição de barreiras tributárias pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o mercado já começa a ver movimentos de triangulação de exportações para contornar tarifas americanas.Apenas no primeiro semestre do ano, houve um crescimento de 62% em valor nos M&As feitos no país vizinho, enquanto o número de deals subiu 14%, segundo a TTR Data. Há expectativa de que reformas promovidas pelo governo de Javier Milei, bem como as recentes alterações no comércio internacional promovidas pelos EUA possam acelerar o ritmo no segundo semestre, ainda que investidores tradicionais sigam apenas observando o cenário.“Nós já temos duas operações de companhias chinesas e brasileiras querendo abrir ou comprar uma companhia na Argentina para fazer a triangulação de exportações para Estados Unidos”, conta o líder do departamento de M&A e Venture Capital da DLA Piper Argentina, Antonio Arias.Leia também: Escândalo de corrupção implica irmã de Milei e atinge governo a semanas de eleiçõesLeia também: Fusões e aquisições têm retomada com crescimento de 5% em 2024Desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou sua lista de tarifas, Brasil e China foram dois dos países mais penalizados. Os impostos de importação sobre produtos brasileiros — apesar das centenas de exceções — ficaram em 50%, e o custo para produtos chineses foi negociado temporariamente a 30%, após o anúncio de um valor inicial de 145%.Mas a Argentina, governada por Milei, aliado do presidente Donald Trump, ficou na outra ponta, com uma alíquota mínima de 10% sobre produtos embarcados para os EUA.Segundo Arias, parte da estratégia de investidores chineses e brasileiros é comprar negócios na Argentina para beneficiar parte da sua produção e, a partir de lá, exportá-los aos EUA com uma alíquota menor. “Lógico que não é fácil, há muitas regras envolvendo como adicionar valor ao produto importado pela Argentina e depois exportado para outro país para que ele seja catalogado como de origem argentina”, explica.O país vizinho já vinha se tornando mais atrativo a investidores estrangeiros há alguns meses quando, em meio às iniciativas para derrubar restrições cambiais, Milei liberou a repatriação de lucros de empresas com operação na Argentina para fora do país.Até então, na regra investidores precisavam de autorização do Banco Central para levar dividendos da Argentina ao seu país de origem. Na prática, empresários estrangeiros não conseguiam essa autorização. Com a decisão, dividendos distribuídos a partir de janeiro de 2025 — o efeito é retroativo — podem ser repatriados pelos investidores com retenção de 7%.Para Daniel Lasse, da assessoria para fusões e aquisições Value Capital, a Argentina ganha competitividade com as mudanças, inclusive em relação ao Brasil. “Ajuda em termos de movimento, tanto político quanto tarifário e tributário. É um marco para trazer investidores ao país”, diz.Perfil dos investidores ainda não é o de fundos tradicionaisArias explica que parte do crescimento no ritmo dos M&As também pode ser explicado pela desaceleração dos preços na Argentina para níveis mais controlados desde a posse do atual presidente. No mês de dezembro de 2023, a inflação chegou a 25,5%, e depois de uma série reduções tem batido aumentos entre 1,5% e 2,8% ao mês em 2025, o que reforça um olhar mais curioso dos investidores.Apesar do otimismo, investidores tradicionais ainda não desembarcaram em peso no país. Segundo explica Arias, o mercado de M&As ainda está muito centrado em empresários regionais e em um crescente interesse de fundos de Special Situations.“Tem argentinos empolgados com o crescimento argentino em longo prazo comprando as operações de alguns estrangeiros que estão saindo. Na Argentina, muitas vezes acontece que estrangeiros saem do país no momento errado”, explica. Investidores nacionais aproveitam essa janela para entrar no negócio, como ocorreu na venda do Walmart para o Grupo Narváez em 2020.Fundos de Special Situations, normalmente dedicados a investimentos em ativos mais endividados de alto risco e potencial de retorno, são alguns dos que passaram a olhar mais atentamente ao mercado argentino, segundo Arias. Mas há uma certa diferença em relação à estratégia tradicional desse tipo de veículo. Como o mercado de dívida argentino esteve fechado pelos últimos anos, os fundos de Special Situation muitas vezes não vão encontrar um ativo endividado para investir. É a própria instabilidade econômica do país que faz empresas locais entrarem em suas teses. “Eu brinco que só pelo fato de estarem na Argentina, já é um investimento arriscado”, diz Arias.Uma exceção aos empresários locais e fundos de situações especiais são investidores estratégicos com interesse especial nos setores de mineração e óleo e gás. Apenas a compra de 50% da Petronas, campo de petróleo La Amarga Chica, na região de Vaca Muerta, pela Vista Energy representou US$ 1,207 bilhão do total de US$ 3,489 bilhões negociados nos primeiros seis meses de 2025.Argentinos veem oportunidades no BrasilNos primeiros seis meses de 2025, apenas Brasil e Argentina entre os países da América Latina registraram crescimento no número e valor das transações de M&A na comparação com o mesmo período de 2024. Parte relevante do fluxo de transações vem de investidores ou empresas argentinas com destino ao Brasil. São US$ 468,77 milhões em transações externas registradas pelo país vizinho, dos quais US$ 308,34 milhões foram aportados em ativos brasileiros.Para Daniel Lasse, da Value Capital, o atual patamar das taxas de juros e incerteza política às vésperas da eleição presidencial de 2026 tem afastado investidores financeiros de novas empreitadas em fusões e aquisições. Ao menos no mercado intermediário, onde a assessoria atua, os ativos estão relativamente baratos.“Quando você olha um país próximo como a Argentina se fortalecendo, no ano que vem os ativos brasileiros podem estar ainda mais baratos, fortalecendo esse cenário de argentinos comprando brasileiros”, diz. The post Longe da mira de Trump, Argentina desperta interesse de Brasil e China por M&As appeared first on InfoMoney.