Nos últimos anos, o crescimento da influência das facções criminosas em conjuntos habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida tem gerado preocupações em municípios de diferentes estados brasileiros. Notícias recentes destacaram casos alarmantes de expulsão de famílias por parte de organizações como o Terceiro Comando Puro em Fortaleza e o Bonde dos 40 em Teresina, indicando uma presença crescente e sistemática do crime organizado em locais antes destinados ao fornecimento de moradia digna para a população de baixa renda.Essa situação chama atenção por se tratar de uma expansão do poder econômico e político das facções, que têm conseguido controlar de forma eficaz estas áreas de habitação social. Com as práticas de extorsão, estas organizações estabelecem bases operacionais, denominadas como “quartéis generais”, dentro destas comunidades, facilitando tanto suas operações logísticas quanto o recrutamento de novos membros.Por que as facções se interessam por conjuntos habitacionais?A ocupação de conjuntos habitacionais é uma estratégia planejada e tem forte embasamento econômico para as facções. Em vez de desenvolverem seu território do zero, na periferia com poucas condições e sem infraestrutura, essas organizações optam por tomar espaço já preparado. A concentração de moradores serve não apenas à logística do tráfico de drogas, mas também para a imposição de taxas sobre os serviços essenciais, como gás e energia.Outra vantagem apontada é o uso de moradores como um tipo de escudo humano, que dificulta ações policiais mais intensivas pelas possíveis consequências sociais negativas que estas poderiam gerar. Assim, enquanto os moradores vivem sob constante temor, raramente registram queixas formais, perpetuando este ciclo de domínio.O impacto das facções no contexto urbano e socialEste fenômeno não é novo no cenário urbano brasileiro, sendo a Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, talvez o exemplo mais conhecido de formação de uma comunidade marcada pela presença do crime organizado. Contudo, a expansão posterior de programas habitacionais sem infraestrutura adequada e a falta de presença estatal acabaram impulsionando o surgimento de novas “Cidades de Deus” por todo o país.Os efeitos sociais dessa ocupação criminosa são complexos. Além das questões de segurança, existem preocupações com a modificação do tecido social das comunidades. O domínio sobre o voto, por exemplo, coloca em risco a democracia local e amplia a capacidade de influência política das facções, criando verdadeiros currais eleitorais em áreas onde o Estado é menos presente.Quais medidas podem ser adotadas?Diante dessa problemática, é necessário um empenho conjunto entre diferentes esferas do governo brasileiro. Primeiro, reforçar a presença do Estado por meio de políticas públicas que integrem os conjuntos habitacionais ao restante das cidades, com melhor acesso a serviços básicos e equipamentos urbanos. Outra medida seria a intensificação de ações policiais preventivas e incisivas contra o crime organizado, tanto para desarticular as já existentes como para prevenir novas ocupações.Programas sociais e educacionais que possibilitem aos jovens oportunidades de desenvolvimento fora do âmbito do crime são essenciais. A criação de centros comunitários com atividades diversas pode reduzir a vulnerabilidade destes jovens ao aliciamento por parte das facções, mudando o panorama a médio e longo prazo.Qual o papel da sociedade civil?Além das ações governamentais, a sociedade civil também desempenha um papel crucial. Plataforma de visibilidade e incentivo à denúncia podem ajudar os moradores a se sentirem mais seguros e apoiados ao denunciar atividades criminosas. Ao mesmo tempo, ONGs e outras instituições podem atuar na instrução e empoderamento das populações locais, promovendo a capacitação profissional e a resistência às influências externas das facções.FAQ – Perguntas FrequentesComo as facções conseguem listas dos moradores antes da ocupação?Em muitos casos, essas listas são obtidas através de corrupção e conluios com indivíduos internos à administração dos programas habitacionais, que vazam informações em troca de favores ou dinheiro.Quais outras atividades econômicas as facções controlam nesses conjuntos?Além da venda de drogas, as facções costumam cobrar taxas sobre serviços essenciais, vender produtos piratas, além de controlar mercados locais e até promover festas e eventos que servem para lavar dinheiro.Há tentativas de ocupação inversa, onde os moradores retomam o controle?Sim, há casos onde, em parceria com as forças policiais, os próprios moradores organizam-se para resistir e retomar o controle de suas moradias, embora estas ações sejam arriscadas e difíceis de serem realizadas sem assistência adequada.Os programas habitacionais ainda são uma solução viável?Sim, com planejamento adequado, integração social e forte supervisão governamental e comunitária, os programas habitacionais podem ser uma ferramenta eficaz para reduzir déficit habitacional sem o impacto do crime organizado.O post Programa Minha Casa Minha Vida fortalece influência política e econômica do crime organizado apareceu primeiro em Terra Brasil Notícias.