Aedes aegypti: pesquisa muda o que sabemos sobre a reprodução dos mosquitos

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A comunidade científica estava errada sobre a fêmea do mosquito Aedes aegypti. Ela não é passiva no ato sexual com machos. E mais do que isso: ela escolhe com qual mosquito fará o acasalamento. As descobertas estão em um novo estudo de uma equipe liderada por Leslie Vosshall, especialista em mosquitos da Universidade Rockefeller e do Instituto Médico Howard Hughes, nos EUA. O artigo foi publicado na revista Current Biology.Nele, os cientistas relatam que encontraram a primeira evidência do que acontece quando uma fêmea de mosquito decide acasalar pela única vez em sua vida: ela move seus órgãos genitais de forma muito sutil, o que permite o encaixe genital e a transferência de esperma. Isso lhe confere o controle total da cópula — uma descoberta que contraria antigas suposições na área.“É realmente profundo que a área tenha assumido por tanto tempo que a fêmea deve ser passiva”, disse a pesquisadora Leslie Vosshall. “Esse dogma persistiu por muitos anos, apesar de se basear em uma contradição: a de que as fêmeas acasalam apenas uma vez, mas também a de que não têm escolha sobre quando, com quem ou quantas vezes. Se não tivessem escolha, muitos machos acasalariam com uma única fêmea o tempo todo. E não é por falta de tentativas. Eles importunam as fêmeas constantemente.”As pesquisadoras Leslie Vosshall e Leah Houri-Zeevi (Imagem: Universidade Rockefeller/Divulgação)Base científicaEstudos detalhados sobre o acasalamento de mosquitos são feitos desde a década de 1950 utilizando congelamento instantâneo e filmagens sob microscópios para compreender o processo. No entanto, segundo a pesquisadora, a interpretação das observações ignorou o possível controle exercido pelas fêmeas. “Talvez porque não esperassem que elas tomassem qualquer decisão”, afirmou Vosshall.O acasalamento entre esses minúsculos animais dura 14 segundos, e a fase que inclui a nova descoberta leva apenas de 1 a 2 segundos. A equipe desacelerou imagens de alta velocidade e alta resolução para analisar quadro a quadro, além de aplicar aprendizado profundo e mosquitos transgênicos com espermatozoides fluorescentes.“A fêmea controla o acasalamento com um movimento sutil de seus órgãos genitais. Na verdade, existe um processo de três etapas que começa quando o macho entra em contato com os órgãos genitais da fêmea com a ponta de seu próprio órgão genital. Ele possui estruturas chamadas gonostilos que insere na ponta do órgão genital da fêmea e vibra. Essas estruturas são cruciais para o processo. Se ela deseja acasalar, alonga a ponta do seu órgão genital, permitindo que o macho se encaixe nela e transfira o esperma”, explica Leah Houri-Zeevi, primeira autora do estudo.Fêmea controla o acasalamento com um movimento sutil de seus órgãos genitais (Imagem: Reprodução)A fêmea do mosquito consegue desenvolver centenas de ovos a partir desse único acasalamento — pode chegar a 1.000. Após cada alimentação sanguínea, ela extrai esperma de uma reserva interna para inseminar seus ovos, que são então depositados (cerca de 150 em cada postura), repetindo esse processo a cada poucos dias. Isso oferece aos vírus nocivos carregados por mosquitos infectados inúmeras oportunidades de infectar novos hospedeiros, confirmando que a intervenção no acasalamento é uma das estratégias mais eficazes de combate às doenças como dengue e chikungunya.Leia Mais:Fungo capaz de matar o mosquito da dengue é criado por cientistasDengue: produto elimina larvas do mosquito em até 48 horasBrasil ganha segunda fábrica de mosquitos para combater dengueDivergência evolutivaA equipe também identificou o mecanismo de alongamento da ponta nos mosquitos-tigre asiáticos. No entanto, dentro de cada espécie, existe uma fechadura específica para a fêmea e uma chave específica para o macho — resultado de uma divergência evolutiva de 35 milhões de anos, o que impede a reprodução de descendentes viáveis.Macho entra em contato com os órgãos genitais da fêmea com a ponta de seu próprio órgão genital (Imagem: Reprodução)Entretanto, Isso não impede os machos de tentarem acasalar com fêmeas da outra espécie. Aliás, mosquitos-tigre asiáticos machos — que possuem gonostilos muito maiores do que os de seus homólogos da febre amarela — usam seus gonostilos para burlar o controle de acasalamento das fêmeas da febre amarela e acasalar com elas sem o comportamento de alongamento da ponta genital feminina, segundo a pesquisa.Para o futuro, a equipe pretende explorar os mecanismos de acasalamento tipo chave-e-fechadura para cada espécie. “Queremos entender o código neuronal que a fêmea usa para sentir a estimulação do macho e, então, tomar sua decisão”, disse Vosshall. “A questão central é: como ela escolhe entre diferentes pretendentes, visto que se trata de uma escolha única na vida?” O post Aedes aegypti: pesquisa muda o que sabemos sobre a reprodução dos mosquitos apareceu primeiro em Olhar Digital.