O noticiário brasileiro foi tomado por casos de intoxicação com metanol após o uso de bebidas alcóolicas. A tragédia, que já deixou seis mortos, também deve ter efeitos econômicos e já entrou no radar de analistas que acompanham o mercado de cervejas e ações como as da Ambev (ABEV3).Os impactos ainda não estão claros. De um lado, consumidores de destilados poderiam migrar para as cervejas, que não tiveram registro de contaminação. Por outro, o caso pode despertar o receio de consumo de bebidas alcoólicas de forma geral, o que pode afetar o desempenho das cervejarias, em um ano já bastante negativo para o setor.Segundo um levantamento feito pela Quantum, desde a primeira morte, no dia 19 de setembro, a Ambev já perdeu R$ 9,6 bilhões em valor. Investidores parecem estar cautelosos com o papel — mas a crise do metanol não é o único motivo para isso.Em relatório publicado nesta sexta-feira (3), o JP Morgan comentou os dados de produção industrial do IBGE, que mostraram uma queda de 11,8% na produção de bebidas alcoólicas em agosto.CONFIRA: Como a WDC espera acessar o pacote de R$ 300 BILHÕES do GOVERNO para investir em datacenters? Confira o novo episódio do Money Minds no Youtube“Essa é mais uma entre várias notícias negativas para a Ambev nesta semana”, escreveram os analistas. “A Heineken deve reportar queda de 7,3%, na base anual, dos volumes nas Américas, enquanto a Ambev mencionou novamente ‘baixa confiança do consumidor e impactos climáticos’ no México e no Brasil”, dizem. No início da semana, a XP Investimentos rebaixou a recomendação das ações da Ambev para venda. Além disso, a corretora reduziu o preço-alvo das ações de R$ 13,40 para R$ 10,90. Entre os motivos, um ambiente mais competitivo, mudanças de hábitos nas gerações mais novas e até mesmo remédios emagrecedores.O fator clima também prejudica os resultados do mercado de cervejas, incluindo a Ambev, graças às temperaturas mais baixas registradas ao longo deste ano no país.Crise do metanol é nova variável para a AmbevO último trimestre do ano é, sazonalmente, um período no qual as pessoas bebem mais — por conta do clima mais quente e das festividades.Uma crise sanitária mais séria, como a do metanol, pode impactar os hábitos de consumo no curto prazo. Mas, por enquanto, as visões sobre o impacto do acontecimento para a Ambev e para o mercado de cervejas como um todo se dividem.“O acontecimento pode aumentar o consumo de cerveja no mix, o que seria positivo para a Ambev”, diz um analista do setor, que prefere não ser identificado. “Porém, é possível que haja um impacto no fluxo de pessoas no chamado ‘on trade’, os bares.” Os casos de intoxicação envolvendo metanol, até agora, envolveram apenas bebidas destiladas como gin e whisky. Até o momento, uma morte já foi confirmada pela intoxicação e outras sete estão em investigação. Outros 11 casos foram confirmados em São Paulo e o estado conta com 42 casos suspeitos. Pernambuco tem mais seis casos suspeitos e Distrito Federal e Bahia estão com um caso cada. “O acontecimento deve impactar as vendas do segmento de bares diretamente, principalmente em destilados. Mas há possibilidade de os fermentados, como cervejas e vinhos, ganharem espaço”, diz Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores. SAIBA MAIS: O Money Times reuniu as recomendações de mais de 20 bancos e corretoras em um conteúdo gratuito e completo para você investir melhorO metanol aparece em destilados porque ele é formado naturalmente durante o processo de fermentação. Usualmente, como ele tem um ponto de ebulição mais baixo que o do etanol, ele some nas primeiras frações da destilação. Já em fermentados, a presença de metanol é menor porque não há o processo de “concentração do álcool”, como nos destilados, e pelas leveduras e bactérias usadas no processo tenderem a eliminá-lo naturalmente. Além disso, médicos dizem que é mais fácil detectar o metanol nesses produtos por conta da diferença no gosto.Outra visão que entra no radar para o lado positivo é que a credibilidade da Ambev, uma marca consolidada, pode auxiliar no momento de crise. “Empresas de grande porte como Ambev e Heineken não devem sofrer impacto operacional direto, já que contam com rígidos processos de qualidade e rastreabilidade. O efeito maior aparece na percepção do consumidor”, afirma Caroline Sanchez, analista da Levante Inside Corp.“Marcas menores e produtores informais acabam sendo os mais penalizados, enquanto líderes consolidados podem até capturar demanda adicional pela confiança que transmitem”, fala Sanchez.De qualquer forma, a visão de parte dos analistas é que ainda é cedo para falar se haverá ou não impacto para a Ambev e o que pesará mais no balanço: o medo das pessoas beberem ou um possível “impulso” ao consumo de cervejas. Mas a questão se torna mais uma variável para a companhia.“Embora não sejamos médicos e ainda seja cedo para afirmar, argumentamos que é mais provável uma redução no consumo total de bebidas alcoólicas do que uma simples migração de categorias no curto prazo”, escreveram os analistas do JP Morgan.