O mistério em torno de um dos enterros mais opulentos do Paleolítico Superior, descoberto na Itália em 1942, ganhou uma interpretação dramática e sombria. Uma nova análise dos restos mortais do jovem apelidado de “Il Principe” (“O Príncipe”) indica que ele sobreviveu por alguns dias após um violentíssimo ataque de um grande predador — provavelmente um urso — antes de sucumbir aos ferimentos. A descoberta sugere que seu rico túmulo não era apenas um símbolo de status, mas possivelmente um ritual para “sanar” uma morte excepcionalmente traumática.Datado entre 27.900 e 27.300 anos atrás, na caverna de Arene Candide, o sepultamento sempre intrigou os arqueólogos pela combinação entre a juventude do indivíduo e a riqueza dos artefatos funerários: centenas de conchas, pingentes de marfim de mamute e uma lâmina de sílex. No entanto, um estudo recente, que revisou minuciosamente o esqueleto, encontrou um quadro de violência extrema: fraturas no crânio, dentes quebrados, uma clavícula fraturada e um grande buraco na mandíbula, além de uma fíbula perfurada.Os pesquisadores descartaram quedas acidentais ou violência interpessoal como causa. O padrão dos ferimentos, incluindo lesões no pescoço, ombro e mandíbula, é consistente com o ataque de um animal de grande porte. “No contexto pré-histórico aqui examinado, é mais plausivelmente atribuído ao ataque de um animal de grande porte, provavelmente um urso”, afirmam os autores do estudo publicado no Journal of Anthropological Sciences.Esqueleto não tem parte da mandíbula e da clavícula (Imagem: Lorenzo Donzelli via Wikimedia Commons)Análise óssea trouxe respostasA análise óssea trouxe um detalhe crucial: os ferimentos mostram sinais iniciais de cicatrização. Isso significa que o adolescente não morreu no ataque, mas agonizou por dois ou três dias antes de falecer, provavelmente por hemorragia interna, falência de órgãos ou lesão cerebral grave.Este sofrimento prolongado pode ser a chave para reinterpretar o significado do enterro suntuoso. Os estudiosos propõem que as oferendas não refletiam necessariamente um alto status social em vida, mas uma “sanção ritual” coletiva. Leia mais:O que a ciência já sabe sobre o desaparecimento de lagos no ÁrticoComo a NASA usa plantas para testar a qualidade do ar64% das raças de cães ainda carregam genes dos lobos (até os chihuahuas)A comunidade pode ter realizado um ritual funerário elaborado como uma forma de processar e encerrar simbolicamente um evento traumático que marcou a todos. Essa hipótese é reforçada pelo fato de que outros túmulos extravagantes do período Gravetiano também contêm indivíduos com ferimentos ou deformidades incomuns.A história de “Il Principe” deixa de ser, portanto, a de um nobre adolescente, e passa a ser a de uma vítima de uma das formas mais brutais de morte na Pré-História, cujo sofrimento final exigiu da sua comunidade uma resposta ritual igualmente extraordinária.O post “Príncipe” pré-histórico de túmulo famoso morreu após ataque brutal de urso apareceu primeiro em Olhar Digital.