PIB: Por que o Brasil não voltou ao nível de 2014 até agora?

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O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil nunca voltou ao auge do crescimento médio de 11% ao ano de 1968 a 1973, mas agora enfrenta dificuldades para retornar à taxa de 10 anos atrás.Em 2014, a soma dos bens e serviços produzidos no país foi de US$ 2,46 trilhões, enquanto em 2024 o montante da produção foi de R$ 2,17 trilhões. Ou seja, a economia não só manteve a estagnação observada desde o fim do século passado, mas passou a regredir nos últimos anos.Segundo especialistas consultados pela CNN, o comportamento do PIB nos últimos dez anos reflete as crises internas e os choques externos que o país atravessou no período.“Esse período foi muito difícil para a economia brasileira. Se pegarmos de 2014 a 2024, tivemos a pior crise econômica da história em 2015 e 2016 e, quando tivemos uma lenta recuperação após esse período, tivemos a crise da Covid. Em 2020 e 2021 o crescimento líquido é quase zero”, afirmou Renan Pieri, professor de economia da FGV/EAESP, em entrevista ao CNN Money nesta terça-feira (30).Nos anos de 2015, 2016 e 2020, o PIB brasileiro retraiu mais de 10%, o que dificultou a recuperação nos anos seguintes aos das crises. Leia Mais Geração de emprego no Brasil tem pior novembro da série, mostra Caged Confiança do Comércio sobe 0,2 ponto em dezembro ante novembro Queda do IGP-M favorece corte do juro no início do ano, dizem especialistas A crise econômica agravada em 2016 resultou em uma crise política, que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo especialistas, o choque é muito grande para a economia de um país, pois afasta investidores de uma nação com tamanha instabilidade.“Isso criou perdas permanentes no crescimento potencial do Brasil. A nossa produtividade permaneceu estagnada, refletindo todos os nossos problemas estruturais, como falta de investimento em educação e falta de eficiência econômica”, afirmou Rafael Costa, fundador da Cash Wise Investimentos.“E o mercado, não é só o brasileiro, mas mundial, olha para o Brasil e vê todo esse sinal claro de deterioração institucional que afasta o capital e limita o crescimento e o potencial de crescimento. Então, ao longo desses anos 2014 e 2024, foi exatamente isso que aconteceu”, acrescentou o economista.No cenário internacional, um dos grandes gargalos de crescimento foi a pandemia da Covid-19, que derrubou economias e desestruturou cadeias de produção e logística ao redor do mundo.Em 2020, ano da disseminação global do vírus, o PIB brasileiro afundou 3,3%.Problemas estruturaisOs problemas estruturais citados são enfrentados até hoje pelo Brasil, com a União tendo de lidar com o orçamento cada vez mais engessado e a impossibilidade de maiores investimentos em educação e ciência.Em meio a isso, a postura gastadora do governo ajuda a piorar o cenário fiscal e impede a tentativa de um crescimento sustentável por muitos anos.“Nosso governo continua com uma postura fiscal totalmente perdulária, gastando mais do que arrecada e elevando o risco macroeconômico. Isso pressiona câmbio, pressiona juros”, declarou Rafael Costa, da Wise.“Há vários anos o mercado precifica o crescimento do PIB potencial em torno de 2%. Se nada acontecer, nenhum choque positivo, como uma safra melhor, ou negativo, como adversidades climáticas, isso é o que o PIB deveria crescer. Os últimos três anos, de 2022 para frente, foram um pouco melhores”, pontuou Pieri.CâmbioOs especialistas também salientaram outro fator que contribuiu para a estagnação do PIB na última década: a desvalorização do real frente ao dólar.“O dólar quase que dobrou entre 2014 e 2024, saiu de R$ 2 e pouco e chegou a passar dos R$ 6, obviamente reduzindo o PIB em dólar”, explicou Costa.Em dezembro de 2014, a cotação para o dólar à vista era R$ 2,67. Agora, em 30 de dezembro de 2025, a taxa de câmbio está em R$ 5,48.“Temos o problema da desvalorização do real, então parte dessa queda é porque o real perdeu valor diante do dólar. Mas mesmo que desconsidere o câmbio e desconte a inflação, terá algum crescimento no período, mas muito tímido, principalmente ao considerar o PIB per capita”, disse Pieri.Mercado precifica crescimento econômico de 2% há anos, afirma professor | MORNING CALL