Ano do Boi Gordo: 2026 promete virada para abates e valorização da commodity, vê Rabobank

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A produção de carne bovina do Brasil deve recuar em 2026, após três anos seguidos de abates intensos de fêmeas, segundo o Rabobank. Esse movimento, aliado à queda na oferta de bezerros, deve sustentar preços mais altos do boi gordo pelo menos até 2028, impactando a disponibilidade de gado terminado (pronto para o abate).O RaboResearch projeta forte retração na produção de carne bovina, de 5% a 6% em relação a 2025, totalizando 10,5 milhões de toneladas em equivalente carcaça. A queda reflete a menor oferta de animais – tanto de machos quanto de fêmeas – e o foco dos criadores na recomposição do rebanho, com sinais mais consistentes de recuperação nos preços dos bezerros.No mercado interno, os preços do boi gordo vêm se valorizando desde o segundo semestre de 2025. Em outubro, a arroba ultrapassou R$ 330 nos contratos futuros para fevereiro de 2026, indicando expectativa de alta de até 10% frente ao mercado físico.A valorização é sustentada pela menor oferta e pela firme demanda, mas pode enfrentar resistência no varejo, onde o consumo de carnes mais baratas, como frango e suíno, deve ganhar espaço.Quer investir no setor? O Agro Times montou um guia com tudo que você deve saber antes de investir no agronegócioExportações: EUA x ChinaNo comércio exterior, o ritmo segue acelerado. Até setembro de 2025, o Brasil exportou 2,4 milhões de toneladas de carne bovina, um recorde histórico tanto para o mês quanto para o volume acumulado, com crescimento de 16% em quantidade e 35% em receita frente ao mesmo período de 2024.A China permanece como principal destino, respondendo por 47% das compras, seguida pelos Estados Unidos, com 219 mil toneladas. No entanto, a imposição de tarifas adicionais aplicadas pelos EUA – que chegaram a 76,4% – já provocaram queda nos últimos dois meses, apesar do aumento acumulado de 49% neste ano, na comparação anual.A concentração das exportações em poucos mercados, especialmente China e EUA, representa um risco estratégico. Juntos, esses países responderam por mais de 59% da receita das exportações brasileiras de carne bovina. Qualquer mudança nas políticas comerciais ou sanitárias pode impactar fortemente o setor.A China ainda mantém estoques confortáveis e pode desacelerar as compras no curto prazo. Por outro lado, a forte aceitação da carne brasileira, com migração dos consumidores para cortes mais acessíveis, tende a sustentar a demanda mesmo diante de menor crescimento econômico, graças à competitividade de preços da proteína nacional.A disputa comercial entre EUA e China, que pode se intensificar após as eleições americanas, é outro fator de atenção. Uma nova rodada de tarifas ou restrições pode afetar diretamente os embarques brasileiros, exigindo cautela dos exportadores.“Maior atenção à tendência de recuperação dos preços do boi gordo, principalmente a partir do segundo trimestre de 2026, pois, em um cenário mais adverso de aplicação de novas tarifas pela China e manutenção das tarifas de importação dos EUA, pode ser um fator de pressão negativa nessas cotações”, veem os analistasLa Niña, eleições e a Copa do MundoA confirmação do fenômeno La Niña no último trimestre de 2025 pode impactar o potencial de engorda da produção extensiva. Chuvas abaixo da média no Sul e excesso de precipitação no Centro-Oeste e Matopiba podem prejudicar a recuperação das pastagens e comprometer a engorda a pasto na primeira metade do ano.A qualidade das pastagens deve melhorar com o início das chuvas no último trimestre, mas o risco de invernadas e déficit hídrico segue elevado nessas regiões.Para o Rabobank, a Copa do Mundo e a eleição presidencial podem favorecer temporariamente o poder de compra de parte da população, sustentando os preços da carne bovina no mercado doméstico.