Os veículos brasileiros possuem a menor pegada de carbono do mundo durante todo o ciclo de vida de automóveis, caminhões e ônibus, mostrou um estudo da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) em parceria com o BCG (Boston Consulting Group). Para o setor, o resultado é um exemplo positivo que o país levará à COP30.O Brasil ainda pode intensificar o uso dos biocombustíveis para reduzir emissões de gases de efeito estufa enquanto a eletrificação ganha escala no país, segundo a pesquisa.“Nós temos uma vantagem competitiva que pode ser melhorada, mas em comparação global, nós estamos muito bem. Em ano de COP, o setor automotivo já tem algo a mostrar de importante ao mundo.”, disse Igor Calvet, presidente da Anfavea, em coletiva nesta quinta-feira (30).A COP30, conferência global da ONU sobre mudanças climáticas, será sediada pelo Brasil entre os dias 10 e 21 de novembro e traz a descarbonização, assim como transição energética e economia de baixo carbono, para o centro das discussões.Para a Anfavea, a vantagem do Brasil na descarbonização do setor automotivo em relação aos principais mercados do mundo se deve à matriz elétrica, composta por 90% de fontes renováveis e à matriz energética 50% renovável.Esses fatores impactam toda a cadeia, desde a fabricação dos veículos até a emissão durante o uso e recarga de modelos elétricos.Além disso, o setor explica que um fator determinante para a pegada de carbono menor é o uso em larga escala dos biocombustíveis, reflexo da grande presença de veículos flex na frota nacional.O estudo “Caminhos da Descarbonização: a pegada de carbono no ciclo de vida do veículo”, é o primeiro a calcular as emissões de CO₂ em todo o ciclo de vida do veículo fabricado no Brasil, comparando-as com a produção em outros países.Carros elétricos da ChinaOs veículos fabricados no Brasil que rodam utilizando etanol – sejam híbridos ou a combustão – possuem as menores taxas de emissões de CO₂ no mundo. Segundo a pesquisa, os veículos só rivalizam com modelos 100% elétricos quando fabricados no Brasil com bateria ocidental.Os elétricos chineses emitem mais CO₂ frente a quase todos os tipos de veículos brasileiros, perdendo até para modelos a combustão que utilizam etanol. Atualmente, os veículos movidos a combustível fóssil utilizados na China apresentam a maior pegada de carbono entre todos os tipos de veículos analisados.Os dados evidenciam os motores flex como um diferencial global da frota brasileira. Os biocombustíveis destacam-se como ferramenta para promover a descarbonização no médio prazo, especialmente para caminhões rodoviários, onde a eletrificação ainda é restrita a modelos de curta distância.Ainda segundo o estudo, o Brasil possui potencial para liderar a descarbonização em sua frota, mas também exportar tecnologia para o mundo.Automóveis a combustão no Brasil emitem até 91% de emissãoOs automóveis a combustão apresentam entre 87% e 91% de suas emissões durante o uso, mostrou o estudo. Nos eletrificados, a taxa cai para 53% a 57%, sendo que a produção, em especial das baterias, representa quase a metade das emissões.No caso dos caminhões e ônibus a diesel, mais de 94% das emissões ocorrem durante a utilização, fazendo com que quase todo o potencial de descarbonização seja colocado no maior uso de biocombustíveis.Já no caso dos caminhões urbanos elétricos rodando no Brasil, as emissões no uso caem para 33%, ante mais de 70% nos outros mercados, devido à matriz limpa nacional. Ônibus elétricos também emitem mais na fase de produção dos insumos, sobretudo da bateriaDesafios para os próximos anosA vantagem que o Brasil possui na matriz elétrica tende a ser reduzida nos próximos anos, ao considerar os investimentos da China e Europa na redução do uso de energia térmica e aumento de fontes hídricas, solar, eólica e até nuclear, mostrou o levantamento.Além disso, a matriz energética é uma vantagem brasileira difícil de ser superada, devido às condições que favorecem o cultivo e a tecnologia para produção de biocombustíveis.Para os veículos a combustão ou híbridos, o maior potencial de redução na pegada de carbono vem da qualidade e do maior uso dos biocombustíveis, apontou a Anfavea. Em seguida vem o ganho de eficiência da motorização.Já para os elétricos, o corte de emissão de CO₂ depende de três fatores:Uso de energia de fontes renováveis;Baterias mais limpas;Ganho de eficiência nas baterias (menores, com maior autonomia e durabilidade).“O estudo mostra o potencial de redução futura ao avançar em ganhos de eficiência ao longo das diferentes etapas da cadeia produtiva e de uso. São caminhos que permitem ao país acelerar sua jornada de descarbonização automotiva e permanecer na vanguarda global”, explica Masao Ukon, diretor executivo e sócio-sênior do BCG.Para o presidente da Anfavea, o novo estudo deixa claro também que a descarbonização depende da cadeia completa.“Os fabricantes vêm se esforçando há muitos anos para reduzir a pegada de carbono, tanto nos processos industriais como na eficiência dos veículos. Essa mobilização deve ser estendida para toda a produção dos insumos, o chamado ‘berço’, e também para as operações de descarte e reciclagem, que têm grande potencial de descarbonização ao estimular a renovação de frota e o aproveitamento de materiais reciclados”, explica Igor Calvet.“O conjunto desses achados será a grande contribuição da Anfavea para as discussões sobre a descarbonização do setor automotivo durante a COP30, nas próximas semanas, em Belém”, conclui.Fundos sustentáveis crescem 48% em ano de COP30, diz pesquisa