Grande Museu Egípcio abre após 20 anos e exibe tumba de Tutancâmon

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O Grande Museu Egípcio (GEM), descrito como o maior museu arqueológico do mundo, abriu as portas oficialmente para o público após décadas de construção e reformas neste sábado (1º). A inauguração acontece após inúmeras interrupções, atrasos e contratempos, e reúne cerca de 100 mil artefatos, incluindo a tumba do faraó Tutancâmon.É um projeto de tamanha importância para a economia centrada no turismo do Egito que o governo declarou feriado público para marcar sua inauguração. Leia Mais Cientistas criam método para detectar gravidez em restos mortais antigos Ovo de dinossauro de 70 milhões de anos é achado intacto na Patagônia Estudo diz que fungos foram chave da vida terrestre, não vilões da ficção Quando Róisín Heneghan recebeu uma ligação há 22 anos informando que seu escritório de arquitetura de apenas quatro pessoas havia sido escolhido para projetar um dos maiores museus do mundo, ela pensou que fosse uma brincadeira. Ela ligou de volta para o representante oficial para garantir que não se tratava de algum tipo de farsa.“Foi surreal”, relembrou em uma entrevista por vídeo de Dublin, Irlanda, onde administra o escritório Heneghan Peng Architects ao lado do marido Shih-Fu Peng. “Recebemos a ligação, e eu desliguei o telefone — porque naquela época, tudo era por telefone ou por cartas e correio — e eu disse: ‘Acho que ganhamos.'”Dezoito meses antes, em 2002, o governo do Egito havia lançado um concurso internacional de design para seu Grande Museu Egípcio, um vasto complexo que deveria abrigar 100 mil artefatos antigos a poucos passos das Pirâmides de Gizé.O que foi ainda mais surpreendente do que a proposta de um pequeno escritório irlandês ter sido escolhida entre 1.556 inscrições, é que levaria mais de duas décadas — e um orçamento que ultrapassou em muito US$ 1 bilhão — para que a visão de Heneghan e Peng se tornasse realidade.Anunciado inicialmente em 1992, os planos enfrentaram a revolução da Primavera Árabe no Egito em 2011 e um golpe militar dois anos depois. Em 2017, a CNN incluiu otimistamente o museu em sua lista dos “edifícios mais aguardados do mundo com conclusão em 2018”, antes que a pandemia de Covid-19 frustrasse as esperanças de uma abertura iminente.Descrito no comunicado dos arquitetos como “um testemunho da longevidade e escala da civilização do antigo Egito”, o museu também reflete a paciência de seus projetistas. (Para efeito de comparação, o Centre Pompidou em Paris foi inaugurado apenas seis anos após o anúncio do vencedor de seu concurso de design em 1971.)Heneghan diz que visitou o museu pela última vez “há alguns anos”, quando ainda estava em construção. Ela não estará presente na inauguração de sábado e, sem ter recebido nenhum papel de supervisão durante a construção, o escritório às vezes dependia de fotografias e do Google Earth para verificar o progresso da obra.“No Egito, e em muitos projetos naquela região, frequentemente as equipes de supervisão são completamente diferentes da equipe de design — e foi assim neste caso”, explica.Heneghan também mencionou que houve algumas alterações no projeto original, mas que isso “era esperado” para uma construção desta magnitude. Para a arquiteta de 62 anos, que estava no final dos seus 30 anos quando o concurso foi anunciado, ver o projeto se concretizar valeu, ainda assim, a espera.“Grandes projetos são complexos”, ela responde diplomaticamente quando questionada sobre os sucessivos atrasos. “Este é um grande museu, e eles estão movendo peças muito, muito sensíveis. Então, se demorar um pouco mais para fazer corretamente, acho que vale a pena.”Entre esses artefatos frágeis estão papiros milenares, têxteis, sarcófagos, cerâmicas e restos humanos mumificados. Eles estão distribuídos em mais de 258.000 pés quadrados de espaço de exposição permanente, tornando-o o maior museu do mundo dedicado a uma única civilização. As galerias são organizadas por período histórico, desde o período pré-dinástico até a era Copta — ou seja, de aproximadamente 3000 a.C. até o século VII d.C. Uma galeria dedicada a Tutancâmon exibe 5.000 itens encontrados no túmulo do jovem rei.“Queríamos que os visitantes apreciassem a dimensão da coleção”, diz Heneghan sobre sua visão original para o projeto.Na área externa, jardins bem cuidados e uma praça aberta (com um obelisco de 87 toneladas) recebem os visitantes. A experiência do museu começa, no entanto, em um átrio imponente, onde uma estátua de 36 pés de altura de Ramsés II permanece solenemente em guarda.Os motivos angulares e piramidais empregados na fachada do edifício — expressos em concreto, vidro e calcário local — se estendem até este grandioso pátio interno.As dobras do telhado permitem a entrada generosa de luz natural no espaço — um luxo possível pelo fato de artefatos de pedra serem menos vulneráveis à exposição solar do que itens orgânicos, como pinturas, por exemplo. Rompendo com a ortodoxia museológica, Heneghan considerou que a luz natural “criaria uma ambientação melhor, em vez de manter o espaço sempre artificialmente iluminado.”O elemento central funcional é uma escadaria de seis andares, que conduz os visitantes por monumentos de pedra e estátuas faraônicas dispostos em ordem cronológica reversa. Em seu topo encontra-se a maior obra de arte de todas: uma vista direta e desobstruída do complexo das pirâmides de Gizé, a pouco mais de um quilômetro de distância.Projetar um marco arquitetônico ao lado de uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo seria uma tarefa intimidadora para qualquer arquiteto. A abordagem de Heneghan e Peng foi de deferência visual.Isso foi, em parte, uma questão de geometria: A inclinação do teto do museu aponta diretamente para o ponto mais alto da Grande Pirâmide — mas não além, de modo que o edifício, apesar de seu tamanho imponente, não invade nem ofusca o perfil de sua vizinha.Visto de cima, os volumes do museu se abrem como um telescópio de lente ampla, com as linhas de suas paredes matematicamente alinhadas à vista que oferece. Em outras áreas, as instalações de armazenamento e conservação, incluindo 17 laboratórios, ficam mais recuadas, conectadas ao museu por meio de um túnel.“Falamos sobre isso como a criação de uma nova “borda” para o platô do deserto”, diz Heneghan, descrevendo o desafio de respeitar o entorno enquanto se projeta em grande escala. “Foi sempre um equilíbrio. É um edifício muito grande e muito significativo. O truque”, ela conta, “foi dar ao museu a proeminência que ele exige, mas apenas no sentido horizontal”, não no vertical — em outras palavras, sem interferir na linha do horizonte.Foi, talvez, essa ausência de ego arquitetônico que fez o projeto de Heneghan e Peng triunfar sobre propostas de mais de 80 países em 2003.Embora vencer a comissão, apenas quatro anos após estabelecerem seu escritório, tenha impulsionado significativamente o perfil público da dupla (“para nós, abriu um mundo inteiro de possibilidades”, afirma Heneghan, acrescentando: “as pessoas nos conheciam por causa do museu”), eles permaneceram comprometidos com um design reflexivo e discreto.Muito mudou para a dupla nas décadas desde aquele telefonema decisivo. Seu escritório abriu uma filial em Berlim e hoje emprega 20 pessoas trabalhando em projetos comerciais, residenciais, educacionais e cívicos. Eles produziram outras importantes obras de arquitetura cultural, desde o Museu Palestino na Cisjordânia até o Centro de Visitantes da Calçada dos Gigantes na Irlanda do Norte.No entanto, Heneghan mantém-se fiel ao projeto do início de carreira pelo qual ela — e seu escritório — talvez sempre sejam mais conhecidos. Se hoje fosse convidada a projetar o museu mais prestigioso do Egito do zero, ela não faria muitas mudanças, afirmou.“Nossa abordagem ainda seria muito semelhante”, acrescenta Heneghan. “Acredito que a estrutura fundamental do projeto é muito sólida e que resistiu bem ao teste do tempo.”Estátuas raras em tamanho real são descobertas em tumba de Pompeia