Como Elie Horn aprendeu a “aceitar a derrota” e controlar a expansão da Cyrela

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O boom de IPOs no setor mobiliário entre 2005 e 2007 fez a incorporadora Cyrela (CYRE3) crescer. Também ensinou uma dura lição ao seu fundador, Elie Horn. Depois de ver seu caixa saltar de US$ 10 milhões para US$ 1 bilhão, expandiu a operação nacionalmente: Porto Alegre, Recife, Natal, Vitória, Salvador. Quando se deu conta que estava perdendo o controle, voltou atrás — fechou o negócio em 74 das oitenta cidades onde tinha fincado o pé. Custou caro e mostrou ao executivo: é preciso “aceitar a derrota”.Essa é uma das histórias que atravessam “Fora da Nova Curva”, onde Florian Bartunek, Giuliana Napolitano e Pierre Moreau organizam os relatos de 13 dos maiores investidores e empreendedores do Brasil sobre as mudanças no cenário político, econômico e social nos últimos anos.Alex Behring, Andrea Pinheiro, Daniel Goldberg, Elie Horn, Felipe Guerra, Luiz Barsi, Luiz Felipe Dias de Souza, Marcelo Claure, Octávio Magalhães, Paulo Guedes, Ralph Gustavo Rosenberg, Sara Delfim e Tania Sztamfater Chocolat são os nomes a contarem histórias de seus negócios, investimentos e vida.O InfoMoney disponibiliza abaixo, com exclusividade, um trecho do depoimento de Elie Horn. “Fora da Nova Curva” será lançado na próxima quarta-feira (5). O livro será vendido por R$ 89,90 na versão física e por R$ 39,90 na digital pelo selo Portfolio-Penguin.Trecho do depoimento de Elie Horn em “Fora da Nova Curva”Aceitei a derrota, e isso nos salvouÉ interessante lembrar a época do boom dos IPOs no setor imobiliário, que ocorreu entre 2005 e 2007. A maioria das empresas desse período acabou não sobrevivendo. O que acontece é que os investidores exigem crescimento constante, e isso levou muitas empresas a saírem de São Paulo em busca de parceiros em outras regiões, para tentar expandir rapidamente.Nós também seguimos essa tendência, influenciados pelos jovens do mercado financeiro. Abrimos operações em cerca de oitenta cidades, com um cashflow pesado por trás, e começamos cerca de duzentas obras ao mesmo tempo — talvez até mais do que isso, nem sei ao certo. Antes do IPO, tínhamos um caixa que cresceu de 10 milhões para 1 bilhão de dólares. Achei que eu era o dono do mundo. Influenciado pelos jovens que me incentivavam a expandir, abri operações em Porto Alegre, Recife, Natal, Vitória, Salvador, Campinas, Jundiaí, cidades em Minas Gerais e em tantos outros lugares.Mas logo vi que expandir não era assim tão simples. O paulistano é diferente do nordestino, o sulista é diferente do carioca. Quando percebi que estava perdendo o controle, mandei fechar tudo. Fechamos nossas operações em 74 das oitenta cidades. Custou muito caro, tanto abrir quanto fechar, mas conseguimos manter nosso nome limpo e proteger o caixa. Eu soube abrir e soube fechar, e essa foi a nossa salvação. As outras empresas que expandiram não souberam fechar na hora certa, não reconheceram o erro e quebraram. Eu, por outro lado, aceitei a derrota, falei publicamente que a culpa era minha, e acho que foi isso que nos salvou.Sucessão: “engoli em seco e deixei que eles assumissem”Acredito que é possível criar um negócio bem-sucedido que não seja familiar, mas é fundamental ter uma gestão competente. Sem isso, se a empresa focar apenas o lucro e a ganância, pode acabar fracassando, como vimos acontecer com algumas grandes companhias.Entendo o desejo de manter as empresas na família, e tive a sorte e a competência de ter filhos — Efraim e Raphael — que são capazes de continuar tocando a companhia. Se eles não fossem bons, eu não teria deixado a empresa nas mãos deles.Antes de trazê-los para a empresa, tentei pessoas de fora, mas não deu certo. Nesse meio-tempo, comecei a desenvolver uma crise de Parkinson, que me fez acelerar o processo de transição. Meus dois filhos têm habilidades complementares: um é excelente em relações humanas e gestão financeira, e o outro é muito criativo. Foi como se Deus tivesse dividido minhas qualidades entre os dois, e isso tem sido essencial para o sucesso contínuo da Cyrela.Na época dessa transição, tive a sorte de contar com o apoio de algumas pessoas importantes. Contratei o Sergio Foguel, que era da Odebrecht, e ele foi uma grande influência para mim. Algo que sempre pratiquei é a humildade. Gosto de falar com todo mundo e fazer as mesmas perguntas para diferentes pessoas. No final, você acaba aprendendo, não porque é o melhor, mas porque é curioso e persistente.Hoje, não tenho mais um grande envolvimento na empresa, porque meus filhos preferem assim. Há 15 anos, alguém me deu um conselho que segui à risca: “Deixe seus filhos aprenderem a trabalhar enquanto você ainda está vivo, porque na morte não há mais como corrigir”. Então, quando saí da presidência, fiquei em silêncio, engoli seco e deixei que eles assumissem o controle. Sou uma pessoa muito controladora, mas compreendi que, para o bem da empresa, era necessário fazer essa transição.Serviço“Fora da Nova Curva” – Florian Bartunek, Giuliana Napolitano e Pierre MoreauLivro físico: R$ 89,90 – E-book: R$ 39,90Selo: Portfolio-PenguinEvento de lançamentoData: 5 de novembro (quarta-feira)Horário: 19hLocal: Livraria da Travessa – Shopping Iguatemi (Av. Brig Faria Lima, 2232, piso 3)The post Como Elie Horn aprendeu a “aceitar a derrota” e controlar a expansão da Cyrela appeared first on InfoMoney.