Entenda o banho de sangue que atingiu as criptomoedas nesta semana

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O mercado de criptomoedas viveu na sexta-feira, 10 de outubro, uma das maiores turbulências de sua história. Em um único dia, US$ 19,3 bilhões foram liquidados, mais de 10 vezes o volume registrado durante a pandemia de covid-19 ou a quebra da FTX. Agora, analistas tentam entender o que levou a esse colapso repentino.A queda começou ainda pela manhã de sexta, depois que Donald Trump sugeriu o retorno de tarifas “massivas” sobre produtos chineses. O cenário piorou de vez no início da noite, quando o presidente dos EUA anunciou tarifas de 100% sobre as importações da China, reacendendo temores de uma nova guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.A decisão foi uma resposta direta às medidas de controle de exportação de terras raras impostas por Pequim. A nova regra chinesa determina que qualquer produto fabricado no exterior com o uso desses elementos químicos precisa de uma licença de exportação.As terras raras são um grupo de 17 minerais fundamentais para a produção de equipamentos de alta tecnologia, como carros elétricos, chips de computadores e sistemas de defesa. Uma vez que a China domina esse setor, respondendo por cerca de 90% do processamento mundial e 60% da extração desses materiais, as novas regras ameaçam abalar as cadeias globais de suprimento.Trump classificou a decisão de Pequim como “extraordinariamente agressiva” e “um plano elaborado há muitos anos”. “É impossível acreditar que a China teria tomado uma atitude dessas, mas eles tomaram — e o resto é história”, escreveu ele na sexta.Neste domingo, o Ministério do Comércio da China afirmou que o país não busca confronto, mas não vai hesitar em aplicar “medidas firmes e correspondentes” se Washington mantiver as novas tarifas.“A China exorta os EUA a corrigirem imediatamente suas ações equivocadas e, sob a orientação do consenso alcançado entre os dois chefes de Estado, a preservarem os frutos das negociações arduamente conquistados”, disse o porta-voz da pasta em entrevista coletiva, segundo a Folha de S.Paulo.Entendendo a queda das criptomoedasMas por que o Bitcoin e as criptomoedas despencaram de forma tão drástica com a volta das tensões comerciais entre China e Estados Unidos, um conflito que, embora grave, não é inédito e nem afeta diretamente o setor cripto como outros episódios do passado?A resposta está em uma combinação de fatores. A forte alavancagem de traders no mercado de derivativos, a ativação em cadeia de ordens automáticas de venda e a baixa liquidez em um momento atípico — noite de sexta-feira — criaram o cenário para a reação exagerada daquele dia. O que poderia ter sido apenas uma correção de preços, refletindo um evento macroeconômico que afeta os mercados de risco, se transformou em uma liquidação em massa.Mas vale destacar: apesar do volume histórico das liquidações, a queda nos preços das principais criptomoedas não foi das mais severas. Isso indica que o movimento foi amplificado por posições altamente alavancadas, e não por uma reversão estrutural do mercado.Para Jonathan Man, gerente de portfólio da Bitwise, o episódio se explica pela dinâmica entre os mercados perpétuos e os provedores de liquidez. Segundo ele, o sistema de alavancagem cria um efeito dominó: quando os preços caem rapidamente, os provedores reduzem a exposição, forçando novas liquidações e ampliando ainda mais o movimento de baixa.“Todos os mercados perpétuos são jogos de soma zero, onde o lado perdedor paga o vencedor. No entanto, se os perdedores correm o risco de perder mais do que possuem, são liquidados para manter a solvência do sistema”, escreveu ele no X. “Em um mercado funcionando normalmente, as liquidações acontecem de forma orgânica: a exchange assume a posição perdedora e ela é preenchida no livro de ordens por ofertas de compra e venda em espera. Porém, em períodos de incerteza, os provedores de liquidez passam a cotar com spreads maiores ou removem completamente sua liquidez.” Man explica que o colapso se agravou por uma reação em cadeia típica dos mercados altamente alavancados. Segundo ele, quando os provedores de liquidez perdem confiança na própria capacidade de se proteger, precisam aumentar os spreads para compensar o risco de inventário ou até retirar liquidez para reforçar capital e margens em outras posições.Outro fator que ampliou o caos foi o uso intensivo de um mecanismo conhecido como Auto De-leverage (ADL), usado por corretoras quando não há liquidez suficiente. De acordo com o diretor da Bitwise, o ADL é especialmente prejudicial aos traders, pois pode forçar o encerramento de operações lucrativas.“Pode parecer injusto — por que ser punido por ter uma operação vencedora? — mas isso acontece porque não há dinheiro suficiente para pagar os lucros. Lembre-se: os contratos perpétuos são jogos de soma zero e, se todos os vendidos forem liquidados, os vencedores não podem receber”, explicou Man. Ele ressaltou que, nessas situações, as exchanges priorizam a própria solvência, e não a dos investidores.Leia também: Alguém lucrou R$ 480 milhões apostando na queda do Bitcoin antes do anúncio de TrumpPerda de paridade de tokens piorou situaçãoA perda de paridade de criptomoedas importantes agravou ainda mais a crise. A terceira maior stablecoin do mercado, a USDe, emitida pela Ethena e amplamente utilizada em finanças descentralizadas (DeFi), chegou a cair para US$ 0,65 na Binance. Outros tokens, como BNSOL e WBETH, também perderam a paridade com o dólar, em um evento que ainda está sendo investigado.“Esse episódio resultou em liquidações forçadas que afetaram as posições de alguns usuários”, reconheceu a Binance, acrescentando que investidores que sofreram perdas por falhas na plataforma poderão solicitar indenização.Leia também: Binance trava durante liquidação em massa e promete indenizar usuáriosNo total, mais de 1,6 milhão de traders foram liquidados, segundo dados da CoinGlass. A Lookonchain identificou que mais de mil carteiras na plataforma Hyperliquid foram completamente eliminadas durante o crash, com um total de 6.300 carteiras em prejuízo e perdas combinadas superiores a US$ 1,23 bilhão. Entre elas, 205 perderam mais de US$ 1 milhão e outras 1.070 registraram prejuízos acima de US$ 100 mil.“Ontem foi um lembrete de como nosso mercado ainda é frágil”, concluiu o analista da Bitwise. “Aqueles com excelência operacional sem dúvida se saíram melhor. Se você estava comprado, mas sem alavancagem, provavelmente sentiu o golpe, mas viverá para lutar outro dia. A boa notícia é que o mercado foi resetado e hoje está mais firme do que estava ontem. Em frente.”No MB, a sua indicação vale Bitcoin para você e seus amigos. Para cada amigo que abrir uma conta e investir, vocês ganham recompensas exclusivas. Saiba mais!O post Entenda o banho de sangue que atingiu as criptomoedas nesta semana apareceu primeiro em Portal do Bitcoin.