Facções criminosas e milícias estão cada vez mais presentes no território brasileiro e já fazem parte do convívio de no mínimo 28,5 milhões de pessoas — ou 19% da população do país.Os dados foram divulgados pelo Datafolha após pesquisa realizada a pedido do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). O resultado do trabalho se baseou em pessoas que conviveram com o crime organizado no bairro onde vivem.Em comparação aos dados do ano passado, o crescimento foi de cinco pontos percentuais, quando 14% dos entrevistados afirmavam ter algum tipo de contato com grupos criminosos.Na época, o número representava 23 milhões de brasileiros, cerca de 5 milhões a menos do que agora. Leia Mais Polícia mira grupo que fabricava fuzis e abastecia facções do RJ Bebidas adulteradas: operação em 5 estados busca rastrear origem do metanol Metanol em bebidas: saiba por que governo de SP não investiga o PCC Para a pesquisa atual, foram entrevistadas 2.007 pessoas com mais de 16 anos, em 130 municípios de todas as regiões do Brasil. As entrevistas ocorreram entre os dias 2 e 6 de junho e tinham como foco situações de violência.Presença de facções e milíciasO Nordeste, as capitais e as grande cidades, aquelas com mais de 500 mil habitantes, foram relatadas como os grandes palcos de atuação das organizações criminosas e das milícias.Além disso, classes sociais distintas também foram analisadas. Ricos e pobres relataram a presença do crime organizado nas vizinhanças de forma parecida.Um total de 19% das pessoas que recebem até dois salários mínimos (R$ 3.036) respondem afirmativamente sobre o convívio com o crime. Outros 18% dos entrevistados, aqueles com renda de cinco a dez salários (R$ 7.590 a R$ 15.180), relatam o mesmo.Segundo a pesquisa, pessoas que se autodeclaram pretas são mais afetadas pela presença do crime organizado em comparação com a população branca.Entre os negros, 23% confirmam a convivência, 10% a mais do que o segundo.Cemitérios clandestinos e CracolândiasQuem relata sofrer com o crime organizado, também afirma conviver com a presença de cemitérios clandestinos por onde mora. Além disso, conta também sobre a presença de “cracolândias” na região por onde anda no dia a dia.De acordo com a pesquisa, um a cada quatro entrevistados (27%) diz conhecer cemitérios clandestinos. A proporção é de 16% para a população em geral.Outro dado é de que quatro em cada dez pessoas também dizem encontrar cracolândias nos trajetos do cotidiano.Nos dois casos, a proporção de pessoas que relatam esses problemas cresceu desde 2024.Abordagem violenta da PMEm relação à violência em si, 16% dos entrevistados afirmaram já ter presenciado abordagens truculentas da Polícia Militar. Os números são mais altos entre jovens — 25% das pessoas de 16 a 24 anos dizem já ter presenciado casos; e entre homens e moradores dos grandes centros urbanos, com 21% relatando as ocorrências.Em 2024, o número de pessoas que respondiam “sim” para a mesma pergunta correspondia a 14% dos entrevistados. Parentes desaparecidosEm relação a sumiços, 8% dos perguntados responderam que já tiveram parentes ou conhecidos que estão ou já estiveram desaparecidos.A porcentagem corresponde a 13,4 milhões de pessoas. As classes sociais mais afetadas por esse problem são a D e E, consideradas as mais pobres.Vigilância privadaA pesquisa também estuda outras atividades ilegais como a oferta do serviço de vigilância privada por policiais de folga. Um em cada cinco entrevistados conta que a prática ocorre nos bairros onde mora. Os números também cresceram desde o ano passado, quando saíram de 18%, em 2024, e chegararam a 21%, em 2025. A prática da vigilância privada é proibida na maior parte dos estados do Brasil.*Sob supervisão de Carolina Figueiredo