O grupo criminoso especializado no “Golpe do Pai de Santo”, desarticulado em operação deflagrada nesta quinta-feira (16/10) pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul (PCRS), atuava de forma coordenada, com disseminação de anúncios na internet, ameaças e extorsão.A quadrilha oferecia trabalhos espirituais de amarração amorosa, domínio de pensamentos e afastamento de rivais. Em um dos casos, os criminosos pediram R$ 1,5 mil da vítima para comprar um bode preto que supostamente seria usado nos rituais. Leia também Mirelle Pinheiro Defesa diz onde ex-noivo estava na hora do flagra na casa de padre Mirelle Pinheiro Rei da Amarração: quem é o mentor do golpe que “trazia amor de volta” Mirelle Pinheiro Prefeito é preso em flagrante com arma durante operação Overclean Mirelle Pinheiro Di Menor: chefe do tráfico é preso com granada e submetralhadora no RJ As investigações, iniciadas em em meados de junho deste ano, revelaram que as vítimas eram manipuladas psicologicamente, ameaçadas e extorquidas. A pressão sofrida por uma mulher fez com que ela perdesse mais de R$ 180 mil. O caso chegou à polícia a partir da denúncia dela.Modus operandiOs supostos trabalhos eram divulgados por meio das redes sociais. Foi assim que a vítima chegou aos investigados.À polícia, ela contou que em 29 de maio deste ano viu em um anúncio na internet de uma suposta “mãe de santo” que dizia ter o poder de “trazer o amor de volta” por meio de rituais espirituais. Ela entrou em contato.Logo na primeira conversa, a suposta religiosa afirmou que poderia resolver o problema amoroso mediante um ritual de “amarração”, no valor de R$ 300. A vítima realizou o pagamento via Pix, mas, em seguida, a suspeita alegou que seria necessário um “trabalho de dominação de coração”, exigindo mais R$ 750.Quando a vítima tentou desistir, foi informada de que o cancelamento não seria possível porque os “nomes já estavam na mesa”, e que as entidades poderiam puni-la caso interrompesse o processo. A partir daí, começou uma escalada de exigências e ameaças.2 imagensFechar modal.1 de 2O líder da quadrilha foi identificado como Pai Hugo de OxaláReprodução/Instagram2 de 2O grupo criminoso foi alvo de operaçãoPCERS/DivulgaçãoTortura psicológicaEm poucos dias, a falsa mãe de santo passou a pedir valores cada vez maiores, alegando que as entidades espirituais exigiam novos rituais, como “benzimentos”, “casamento de almas” e “afastamento de rivais”. A mulher garantia que todos os valores seriam devolvidos em poucas horas após cada ritual, o que nunca aconteceu.No dia 30 de maio, outro personagem entrou em cena: um homem que se apresentou como “pai de santo”, suposto chefe do terreiro. Em tom autoritário, ele começou a intimidar a vítima, dizendo que ela estaria “enganando as entidades” e que sofreria consequências se não realizasse os pagamentos exigidos — o suspeito foi identificado como sendo o Pai Hugo de Oxalá.Os criminosos se revezavam em mensagens e ligações, utilizando linguagem mística e ameaçadora. A vítima, temendo ser exposta ao ex-companheiro (uma vez que os golpistas afirmavam o conhecer), acabou cedendo às pressões e realizando sucessivas transferências via Pix e TED.Os valores pagos foram destinados a contas de diversas pessoas físicas, em diferentes instituições financeiras. Os pagamentos variavam entre R$ 1 mil e R$ 37 mil, chegando a somar mais de R$ 180 mil ao longo de um mês.Em determinado momento, o golpista chegou a inventar que precisava comprar um bode preto para concluir um dos rituais, pedindo mais R$ 1,5 mil. Depois, afirmou que o dinheiro da vítima estava “bloqueado pelo banco” e que seria necessário pagar taxas adicionais de 4%, depois 13,5%, para a liberação dos valores, totalizando novos prejuízos.Os criminosos ainda enviaram prints falsos de conversas com supostos gerentes bancários e até de um empresário que teria uma loja de carros, tentando dar credibilidade às mentiras.Mesmo diante de sucessivos pagamentos e promessas não cumpridas, as ameaças continuaram. O golpista dizia que “as entidades estavam furiosas” e exigiam novos valores para “reforçar o trabalho espiritual”. Endividada, a vítima finalmente decidiu procurar a Polícia Civil.Crimes coordenadosSegundo a Delegada Luciane Bertoletti, as investigações indicaram que o grupo criminoso atua de forma organizada, utilizando perfis falsos em redes sociais para captar pessoas fragilizadas, geralmente em momentos de sofrimento emocional.O Diretor da 2ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana de Canoas, Cristiano de Castro Reschke, salienta alertou sobre golpes cada vez mais sofisticados, praticados nas redes sociais, valendo-se os criminosos de recursos tecnológicos ou elementos de persuasão e convencimento cada vez mais eficazes, que colocam as vítimas numa relação de envolvimento emocional e dependência capazes de tirar o discernimento para resistir ao golpe.“Quando sentem que a vítima vai deixar de contribuir, passam a ameaçar e extorquir começando uma segunda fase ainda mais danosa em termos psíquicos e financeiros.”Durante a operação, 120 policiais civis cumpriram mandados de busca e apreensão e de prisão temporária nas cidades paulistas de São Paulo, Itapevi, Cotia e Jacareí.Os investigadores também apreenderam um veículo, além de celulares e bloqueadas contas bancárias dos investigados.