Em 1859, uma supertempestade solar atingiu a Terra. O acontecimento, que seria posteriormente nomeado de Evento Carrington, foi causado por um ciclo natural do sol e enviou poderosas correntes elétricas para o nosso planeta. A tempestade destruiu sistemas telegráficos, causou acidentes e até produziu auroras em países como Cuba. Centenas de anos depois, o fenômeno pode voltar a aterrorizar a Terra – e a qualquer momento.Pelo menos é o que dizem os cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA) na Alemanha. Em uma experiência recente, realizada no Centro Europeu de Operações Espaciais (ESOC), em Darmstadt, engenheiros e outros especialistas mostraram o efeito catastrófico que um evento do mesmo porte de Carrington causaria no planeta Terra atual, repleto de satélites, ligações elétricas e internet.“Se tal tempestade ocorresse, o arrasto do satélite poderia aumentar em 400% com picos locais na densidade atmosférica. Isso não só afeta os riscos de colisão, mas também encurta a vida útil dos satélites devido ao aumento do consumo de combustível para compensar o decaimento orbital”, diz Jorge Amaya, Coordenador de Modelagem de Clima Espacial da ESA.O experimentoA experiência da ESA foi motivada pelo lançamento do satélite de observação Sentinel-1D. Para se proteger de qualquer imprevisto no espaço, a equipe da agência decidiu simular uma supertempestade solar, inspirada no Evento Carrington, mas levando em conta a tecnologia dos dias de hoje.O experimento contou com as seguintes etapas:O satélite da simulação foi lançado e separou-se com sucesso. Tudo parecia normal no controle da missão, à espera do primeiro sinal. A normalidade, porém, durou pouco: minutos depois, uma transmissão cheia de interferência deixou claro que algo estava muito errado. A explicação era a pior possível: uma colossal erupção solar classe X45 havia atingido o satélite recém-lançado e todos os demais em órbita. A onda de energia, deslocando-se à velocidade da luz, levou apenas oito minutos para ir do Sol à Terra.O experimento, então, apresentou mais duas etapas. Na terceira, a pior delas, uma imensa ejeção de massa coronal atingiu a Terra a 2.000 km/s, gerando uma tempestade geomagnética catastrófica. Em solo terrestre, auroras surgiram em latitudes baixas e as redes elétricas entraram em colapso. No espaço, o arrasto atmosférico aumentou, desviando satélites de suas órbitas e elevando o risco de colisões.Nova supertempestade solar a caminho da TerraUma erupção solar, tal como o Evento Carrington de 1859, constitui-se como uma explosão colossal de energia que irrompe na superfície do nosso Sol. O fenômeno tem sua origem fundamental no rompimento e na subsequente reconexão de intensos campos magnéticos solares. Quando essas linhas de campo magnético se reconectam de maneira abrupta, uma quantidade imensa de energia acumulada é liberada de uma vez. Essa liberação catastrófica pode aquecer o plasma a milhões de graus e liberar radiação, impedindo a comunicação na Terra.Na época do Evento Carrington, o maior maior meio de comunicação era o telégrafo. Caso o fenômeno, causado por erupções solares e ejeções de massa coronal, se repetisse nos dias de hoje, o estrago tenderia a ser muito maior, sendo capaz de desligar GPS e satélites, e até mesmo desligar aparelhos ou redes de energia elétrica e internet. Centenas de anos depois, os cientistas da ESA afirmam categoricamente que uma nova superetempestade solar não é só possível, como também muito provável. “Este exercício foi uma oportunidade para expandir uma campanha de treinamento de simulação e envolver muitas outras partes interessadas em todo o ESOC, cobrindo todos os tipos de missões e partes operacionais. Conduzi-lo em um ambiente controlado deu-nos insights valiosos sobre como poderíamos planejar, abordar e reagir melhor quando tal evento ocorrer. A principal lição é que não é uma questão de ‘se’ isso vai acontecer, mas ‘quando'”, diz Gustavo Baldo Carvalho, Oficial Chefe de Simulação do Sentinel-1D.Cientistas alertam que o Sol passa por ciclos de cerca de 11 anos e o atual, chamado Ciclo 25, está no auge. Recentemente, a Nasa, agência espacial norte-americana, informou que o número de erupções solares têm acontecido em quantidades maiores do que o esperado nos últimos meses.Otimismo no experimentoO estudo da ESA afirma que a melhor maneira de se proteger contra uma supertempestade solar é a informação preventiva. Por isso, estudos como os feitos em Darmstadt se tornam importantes e devem servir como guia para a tomada de decisão de governos.A boa notícia é que os participantes do experimento se saíram bem com os ambientes extremos simulados, gerando otimismo entre os realizadores do estudo.“A escala e a variedade dos impactos nos empurraram e aos nossos sistemas ao limite, mas a equipe dominou o desafio e isso nos ensinou que, se conseguirmos gerenciar isso, podemos gerenciar qualquer contingência da vida real”, disse Thomas Ormston, Diretor Adjunto de Operações da Espaçonave para o Sentinel-1D.Como todo cuidado é pouco, a própria ESA está desenvolvendo um Sistema Distribuído de Sensores de Clima Espacial (D3S). Esta rede de satélites monitorará parâmetros climáticos espaciais ao redor da Terra, fornecendo dados solares detalhados. A iniciativa visa proteger cidadãos e infraestruturas críticas do nosso planeta.The post Supertempestade solar: missão simula fenômeno que pode desligar a tecnologia da Terra appeared first on InfoMoney.